Escolas mostram que
ensinar pela música é possível e gera, entre outras coisas, interação,
socialização e diversão. A obrigatoriedade do ensino de música, instituída por
lei, tornou formal o que já deveria acontecer há muito tempo. Com isso, a
capacitação de profissionais na área vai ficar cada dia mais necessária.
Por:
Anna Charlotte Reis
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úsica é coisa que todo mundo gosta,
que todo mundo ouve. Para muita gente, ficar sem ouvir música por muito tempo
não dá. A música relaxa, dinamiza e pode também ensinar. Com isso, especialistas
e professores de música têm percebido a necessidade de uma iniciação musical
nas escolas. Hoje, muitas escolas públicas e particulares já desenvolvem
trabalhos pedagógicos, que visam à valorização da
musicalidade, desde as séries iniciais.
O Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia - IF Sertão Pernambuco (IF Sertão-PE), de Petrolina, saiu à frente
na iniciativa de oferecer o curso superior de licenciatura em música. Em
janeiro de 2012, foi aberta a seleção para o primeiro vestibular do curso com
apenas uma entrada por ano e turmas de 30 alunos.
Tratando-se do primeiro curso na área
da região do Vale do São Francisco, o avanço é considerável e deverá levar a um
crescimento significativo do mercado de trabalho. Segundo Ozenir Luciano, professor
de música do IF Sertão-PE, é um privilégio trabalhar em uma instituição que
oferece educação em música, pois influencia e muito no crescimento da região.
Além de contar com o curso superior, a
instituição realiza projetos pioneiros na área musical, que atendem tanto
alunos do próprio instituto, como também jovens das comunidades circunvizinhas,
como é o caso da orquestra Opus 68,
que desde 2008 vem promovendo a iniciação musical de alunos do próprio
instituto e de regiões circunvizinhas. O trabalho é realizado pelo professor
Osenir e conta com a participação de cerca de 50 jovens. A orquestra ensaia
semanalmente e apresenta constantemente seu trabalho em eventos da região.
Quando se trata de projetos envolvendo
a educação musical, muitas escolas na região já haviam tomado essa iniciativa,
antes mesmo da aprovação da lei que instituiu a obrigatoriedade do seu ensino.
É o caso da Escola Municipal
de Ensino Infantil Jandira Borges, em Juazeiro, que realiza desde 2009 o
projeto “Musicalização na educação infantil”.
Criado pela secretaria municipal de
Educação de Juazeiro, o projeto tem a função de estimular as crianças, através
da percepção dos sons, por meio da linguagem musical. “É um projeto que cada
escola dá a sua cara. É o cotidiano da criança, trabalhar os sons. A música
perpassa tudo, todos os momentos da Educação Infantil, desde a acolhida até a
hora do banho”, afirma Miranery Amorim, diretora de Educação Infantil da secretaria.
Para Kátia Maria Pinheiro dos Santos, coordenadora
pedagógica da escola, é indispensável que o projeto continue a gerar bons
resultados e que ele se torne um hábito, uma cultura permanente no ambiente
escolar. Portanto, a grande questão da atualidade é pensar na música de forma
interdisciplinar.
Essa preocupação com a inserção da
música nas aulas já é uma preocupação geral. O colégio Diocesano Dom Bosco, em
Petrolina, é um exemplo de como a prática tem sido bem utilizada. Além de ter
regularmente a disciplina em sua grade na Educação Infantil, a escola vem
desenvolvendo projetos significativos na área.
Esse ano, o Dom Bosco está
desenvolvendo um projeto que homenageia o centenário de Luiz Gonzaga e com isso
os alunos participam de diversas atividades relacionadas às músicas do cantor.
“É um projeto da escola, que os alunos trabalham com as letras das músicas e
isso é riquíssimo para eles, pois além de trabalharem a questão da língua,
estão tendo contato com a cultura regional. Os pais ficam encantados com esse
trabalho, pois Luiz Gonzaga faz parte da história de muitos deles”, explica
Eliete Maia, psicopedagoga e coordenadora do Ensino Fundamental da escola.
As escolas, ao mudarem seus currículos
e metodologias de ensino, viram-se na incumbência de inserir o cotidiano dos
alunos em suas aulas, percebendo então o quanto a música é importante para a
formação humanística e cultural dos estudantes. “Um aluno que estuda música não
se torna apenas um tocador, ele se disciplina, se torna uma pessoa mais
concentrada, além de se intelectualizar ao estudar música e repertório”,
enfatiza Ozenir Luciano, do IF Sertão-PE.
Para a psicopedagogia, a música não é
só um elemento a se acrescentar às aulas, mas indispensável à formação do
indivíduo, desde a primeira infância até a vida adulta. “A música se insere nos
elementos da aprendizagem, memória, motivação”, afirma Eliete. Tudo isso não
seria possível sem um bom planejamento e organização, que parte da escola e do
professor. Segundo Eliete, as atividades musicais propostas nunca devem ser
aleatórias, pois não levariam a nada, apenas diversão. Quando na verdade o que
se propõe ao trazê-las para sala de aula é que o aluno aprenda com o lúdico.
Os pais sentem que seus filhos aprendem
e, ao mesmo tempo, valorizam as músicas que
fazem parte da cultura popular. Assim, além de apoiar o trabalho dos filhos,
alguns participam ativamente desse processo. Maria do Carmo Silva é mãe de Caio,
de 3 anos, e acredita que a iniciativa é mais que bem-vinda. “Agora vejo meu
filho escutando coisas que antes ele criticava e achava ridículo. Fico muito
feliz ao saber que ele não vai ser mais um desses jovens que ouvem as músicas
sem refletir sobre as letras”, comemora.