Capacitação possibilita a estudantes de jornalismo uma releitura do Semiárido

. 29 maio 2012

A seca, em vários estados do Nordeste, vem contabilizando grandes prejuízos à agricultura. Como acontece todos os anos, os grandes meios de comunicação de massa colaboram para perpetuar a imagem de uma região inviável, em que o “chão” rachado representa a terra improdutiva. Procurando desmistificar essa imagem e problematizar os estereótipos que dela fazem parte, a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), por intermédio do Departamento de Ciências Humanas (DCH-III), e o Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) promoveram entre os dias 25 e 27 de maio, o III Encontro de Capacitação: Comunicação para a Promoção das Viabilidades do Semiárido, no Centro de Treinamento Vargem da Cruz, em Juazeiro (BA).
Alunos de Jornalismo da UNEB reunidos durante curso ministrado pelo IRPAA

Criado pelo projeto de extensão Programas Experimentais de Televisão, do curso de Comunicação Social – Jornalismo em Multimeios da UNEB, e pelo IRPAA, o encontro acontece anualmente e é voltado principalmente para estudantes de Comunicação Social com o intuito de discutir questões relacionadas à forma com o semiárido brasileiro é retratado pela grande imprensa. Este ano, 30 alunos da universidade participaram do treinamento.

O objetivo é mostrar aos futuros comunicadores as potencialidades da região, para que compreendam as inúmeras alternativas de convivência com o semiárido e mudem o discurso de combate à seca difundido pela grande mídia e pelas políticas públicas assistencialistas. “É preciso entender que pessoas simples têm sua cultura e seu valor, podendo expressar um saber de convivência com o clima, pois conhecem as especificidades do lugar”, afirmou o coordenador de Comunicação do IRPAA, Raimundo Alves Pereira, mais conhecido como Raimundo Fábio.

Durante a capacitação, os estudantes participaram de palestras e trabalhos em campo que possibilitaram discutir as características do semiárido brasileiro, o histórico da seca na região, as políticas públicas e os projetos de educação contextualizada. A estudante Amanda Santos, que está no 4º período de Jornalismo, ressaltou a importância do encontro para sua formação. “Acredito que, como futuros comunicólogos, é de suma relevância mantermos contato com a nossa região. O IRPAA nos oferece essa oportunidade de explanar o contexto do sertão para que possamos quebrar os estereótipos da seca no Nordeste”, comentou.

PARA VIVER MELHOR - O aproveitamento das chuvas através da cisterna-calçadão, capaz de estocar até 52 mil litros de água; o sistema de filtragem natural, que oferece água potável para consumo; e o uso de técnicas não agressivas à terra utilizadas pela agricultura orgânica são algumas alternativas apresentadas pelo IRPAA para conviver com as adversidades locais nos períodos de estiagem e que se mostram mais baratas e viáveis do que as grandes obras do governo.

A criação de caprinos e ovinos também é uma atividade possível de ser desenvolvida nessa época, pois esses animais consomem menos água e a ração pode ser feita pelos próprios criadores por meio de uma mistura composta por plantas da caatinga, sendo assim mais rentável para o produtor que não precisa comprar ração.

Agricultura sustentável: realidade na vida do agricultor José Rodrigues Alves


O pequeno agricultor José Rodrigues Alves, seu Guará, que vive no Centro de Treinamento há três anos e desenvolve atividades como a agricultura orgânica e criação de animais, falou com satisfação dos projetos de convivência com o semiárido. “Aqui eu consigo produzir um alimento saudável, sem veneno, para alimentar minha família e ainda vendo para outras pessoas”, relata. 

A coordenadora Institucional do IRPAA, Lucineide Martins, diz que acredita nessas ações e que estes projetos um dia terão mais espaço nos grandes veículos de comunicação. “Aos poucos o discurso de convivência está adentrando na mídia, alguns programas já vêm pautando o Semiárido com essa nova perspectiva. A esperança é que a mídia olhe diferente para essa região e promova uma releitura desse processo colonizador”, observou.



Texto: Paulo Pedroza

Fotos: Patrícia Laís