“O importante não é ser humano,
é se tornar humano. Nós precisamos saber ler o mundo, ler o outro. Precisamos
nos entender para construir a paz. Isso é sertão humano, sertão literatura”.Foi
com estas palavras que Carlos Carvalho, diretor de Políticas Culturais da
Secretaria de Cultura de Pernambuco, iniciou o seu discurso de abertura do I
Congresso Internacional do Livro, Leitura e Literatura no Sertão (CLISERTÃO),
realizado na noite da última segunda-feira (14), no auditório da Universidade
de Pernambuco (UPE), em Petrolina.
O congresso tem o objetivo de
discutir a literatura enquanto identidade cultural de um povo, buscando
desconstruir a imagem de um sertão improdutivo, marcado pelo estereótipo da
seca, e assim retratado na literatura brasileira do século XX. “É necessário
destruir o feitiço de Euclides da Cunha que o sertanejo é um sobrevivente. Se o
sertão tivesse mais livros, talvez tivesse menos carro-pipa”, afirmou Genivaldo
Nascimento, coordenador geral do evento e professor de Língua Portuguesa e Análise
do Discurso da UPE, encerrando a abertura oficial.
Apesar de o CLISERTÃO continuar
promovendo minicursos, mesas-redondas, e conferências até o próximo sábado
(19), a grande atração foi o professor, teatrólogo e romancista Ariano
Suassuna, que conquistou a todos com a aula espetáculo“Raízes Populares da
Cultura Brasileira”. Como um bom contador de histórias, o escritor lembrou
episódios da infância, revelando sua paixão pelo mundo do circo que se reflete
em muitos dos seus personagens, como por exemplo, a dupla Chicó e João Grilo,
em Auto da Compadecida.
Com voz falha, jeito simples e
memória invejável, Ariano defendeu a cultura popular brasileira e se mostrou
descontente com a produção cultural “americanizada”oferecida à juventude,
enfatizando a necessidade de disponibilizar conteúdo de qualidade para os
jovens. “No século XXI, tentamos caricaturamente ser americanos. Infelizmente,
não damos direito ao povo brasileiro de entrar em contato com o filé”, disse
ele fazendo referência à boa produção nacional.
O espetáculo do Circo da Onça
Malhada, assim descrito por Ariano Suassuna, encerrou a apresentação com a
exibição de seu grupo de dança no telão do auditório da UPE, revelando os
ritmos toré e maracatu. O CLISERTÃO homenageia o centenário do poeta popular do
sertão pernambucano João Batista de Siqueira, conhecido como “Cancão, o pássaro
poeta”.
Paulo Pedroza (texto)
Patríca Lais (foto)