Mulheres rendeiras fortalecem laços e investem na cadeia produtiva do artesanato

. 07 setembro 2014
Por Yuri Matos (Especial para o Multiciência)


A região do São Francisco tem uma tradição artesanal conhecida pela produção de carrancas. Mas também é detentora de outras atividades que passam pela arte da renda, gastronomia, souvenirs, imagens de santos que movimentam a economia e ajudam no fortalecimento de associações comunitárias que formam atores na cadeia produtiva do artesanato. Uma das pioneiras é a Associação das Mulheres Rendeiras, do bairro José e Maria, um dos mais populosos de Petrolina. A entidade nasceu em 1999 a partir de um grupo de mulheres que se uniram com o objetivo de ter uma fonte de renda, melhorar a autoestima e lutar por seus direitos.
 
 
Passados 15 anos, a iniciativa mostra força e é reconhecida na comunidade por seus projetos de capacitação profissional, culturais e ambientais. Ao todo, são 30 mulheres associadas. Na sede, são oferecidas aulas de corte e costura, bordado, renascença, croché e até aula de violão. Também são oferecidas oficinas de reciclagem, reaproveitamento de couro e retalhos, trabalhos com garrafa PET e fabricação de sabão caseiro. Durante a semana, as mulheres também cuidam de uma horta orgânica que serve a comunidade.
 


A associação também procura desenvolver ações educativas e de consciência dos direitos da comunidade. Recentemente, iniciou o projeto cultural As histórias dos heróis do povo negro, que une arte e debates sobre igualdade racial. De acordo com Angelita Maria dos Santos, 70, uma das fundadoras e atual secretária-geral da associação, a meta é diversificar as ações e investir na consciência social e no papel de cidadania.
 
Para se integrar ao grupo, basta fazer o pedido de entrada e pagar uma taxa mensal de 1% do salário mínimo. “O ideal para se integrar ao grupo é primeiro conhecer a instituição, frequentar algumas reuniões antes de decidir se associar. Primeiro vem o namoro, depois o casamento, como costumo dizer. Muita gente vem para a associação sem conhecer esperando ganhar muito dinheiro, mas depois desistem”, observa Angelita, acrescentando que a principal vantagem da associação é valorizar a autoestima das mulheres.

Lá, ela dá aula de corte e costura e aprendeu o ofício através de um curso por correspondência quando tinha 30 anos de idade. “Criei meus filhos com a ajuda da costura. Meu ideal é ensinar. Se eu pudesse, ensinava o máximo de pessoas”, argumentou Angelita que faz questão de ilustrar histórias de pessoas que abraçam o ofício com amor e compartilham em outras comunidades.

“Houve o caso de uma menina de sete anos que vinha para as aulas de bordado com a avó. A garota acabou aprendendo a bordar e resolveu ensinar para outras dez crianças que moravam no assentamento onde ela vivia. Uma senhora de 85 anos e moradora da comunidade também decidiu repassar o que aprendeu no bairro onde ela morava. São exemplos assim que marcam a gente”, apontou ela que aprendeu a participar de movimentos sociais com os pais, desde criança, em Exu-PE, onde nasceu.

“Por causa deles passei a gostar de eventos religiosos como reisados e novenários, além de práticas coletivas em associações comunitárias”, declarou. Refletindo sobre o passado, ela pensa como aquilo alimentou seu espírito e a fez crescer como ser humano. "Eles me ensinaram a ser humana”, completou Angelita.