Emanuel Andrade
No 'território' do bioma caatinga, milhares de crianças vivem
sua rotina. Frequentam as escolas e sabem que estão no semiárido nordestino.
Mas nem todas elas, talvez a maioria, sequer consegue compreender a geografia
da região mesmo com os conteúdos vividos em sala de aula. Até nos desenhos
infantis, muitas idealizam um mundo distante da realidade. Com o objetivo de
mapear esse panorama na prática pedagógica, a professora universitária Glaide
Pereira Silva mergulhou em várias escolas do Sertão da Bahia e Pernambuco,
começando pelo município de Paulo Afonso(BA) que faz fronteira com Petrolândia,
para entender a forma como o a caatinga tem sido representada e
discutida nas propostas pedagógicas da região e que se estende por quase todo
Sertão do Nordeste do Brasil.

O
resultado se transformou no livro A caatinga do Imaginário Infantil que
está sendo lançado pela editora Appris. Para construir o trabalho que resultou
em sua dissertação para o mestrado de Ecologia Humana e Gestão Sicioambiental,
a pesquisadora tomou por base a teoria das representações sociais, tendo
como categoria de análise, os mapas mentais infantis, simbolizados nos desenhos
produzidos em sala de aula por crianças das escolas da rede pública. Ao
final da pesquisa, ela percebeu por meio dos traços desenhados pelos
estudantes, a marca do preconceito e clichês, aprendidos na rotina com os
adultos que se tornam propagadores de uma realidade divergente.
“É
fundamental entender que se somos adultos comprometidos com a educação das
crianças, e por consequencia, com o planeta e que tipo de ecologia estamos
disseminando entre estas mentalidades que estão nos primeiros tempos de
existência. Essa foi uma das preocupações que deram origem à pesquisa”, explica
Glaide que leciona, atualmente, no curso de pedagogia e na Plataforma
Paulo Freire pela Universidade do Estado da Bahia(Uneb).
Durante a
pesquisa, a professora fez um apanhado das ilustrações das crianças para ver se
havia uma representação de pertencimento e, ao mesmo tempo, simbólica de elementos
que assinalam princípios ecofeministas tais como cuidado, zelo, valorização da
natureza. Segundo ela, a representação da natureza, tanto na pré-escola como no
ensino fundamental 1, se ancora somente na representação de plantas e
bichos, excluindo-se quase que totalmente a figura humana.
A
pesquisadora buscou respostas sobre a prática pedagógica contextualizada a
partir da realidade local, além de refletir sobre como meninos e meninas
percebem as questões ambientais em seu quotidiano, traçando um paralelo entre a
Lei de Educação Ambiental e o Programa Nacional de Educação Ambiental(o
ProNEA).
O livro
também traz abordagens sobre a realidade da caatinga na pedagogia do semiárido,
a questão dos fenômenos naturais como a seca, as árvores, flores e frutos bem
como a fauna com seus mamíferos, ovíparos e insetos, além de temas voltado para
a ética, psicologismo e fenomenologia. “A problemática também chama a atenção
para o fato de que as escolas estão no espaço de caatinga, no mesmo bioma, mas
as pessoas não tem uma percepção coerente sobre o quotidiano em que vivem. Nem
as crianças e nem os adultos que participaram das pesquisas desenharam sequer
um cacto”, aponta.
Ainda na
concepção da pesquisadora, as representações sociais são distorcidas e
alimentadas por outros do mesmo grupo. “Para completar temos o comportamento
dos poderes governamentais que pregam a vida inteira e somente a ideia de
que a seca deve ser combatida e não buscam saídas de convivência sem
prejuízos. Fenômenos naturais não se combatem”.