A caatinga sob o olhar e desenho das crianças

. 02 junho 2015
Emanuel Andrade


  
No 'território' do bioma caatinga,  milhares de crianças vivem sua rotina. Frequentam as escolas e sabem que estão no semiárido nordestino. Mas nem todas elas, talvez a maioria, sequer consegue compreender a geografia da região mesmo com os conteúdos vividos em sala de aula. Até nos desenhos infantis, muitas idealizam um mundo distante da realidade. Com o objetivo de mapear esse panorama na prática pedagógica, a professora universitária Glaide Pereira Silva mergulhou em várias escolas do Sertão da Bahia e Pernambuco, começando pelo município de Paulo Afonso(BA) que faz fronteira com Petrolândia,  para entender a forma como o a caatinga tem sido representada e discutida nas propostas pedagógicas da região e que se estende por quase todo  Sertão do Nordeste do Brasil.

O resultado se transformou no livro A caatinga do Imaginário Infantil que está sendo lançado pela editora Appris. Para construir o trabalho que resultou em sua dissertação para o mestrado de Ecologia Humana e Gestão Sicioambiental,  a pesquisadora tomou por base a teoria das representações sociais, tendo como categoria de análise, os mapas mentais infantis, simbolizados nos desenhos produzidos em sala de aula por crianças das escolas da rede pública. Ao final da pesquisa, ela percebeu por meio dos traços desenhados pelos estudantes, a marca do preconceito e clichês, aprendidos na rotina com os adultos que se tornam propagadores de uma realidade divergente.







É fundamental entender que se somos adultos comprometidos com a educação das crianças, e por consequencia, com o planeta e que tipo de ecologia estamos disseminando entre estas mentalidades que estão nos primeiros tempos de existência. Essa foi uma das preocupações que deram origem à pesquisa”, explica  Glaide que leciona, atualmente, no curso de pedagogia e na Plataforma Paulo Freire pela Universidade do Estado da Bahia(Uneb).

Durante a pesquisa, a professora fez um apanhado das ilustrações das crianças para ver se havia uma representação de pertencimento e, ao mesmo tempo, simbólica de elementos que assinalam princípios ecofeministas tais como cuidado, zelo, valorização da natureza. Segundo ela, a representação da natureza, tanto na pré-escola como no ensino fundamental 1,  se ancora somente na representação de plantas e bichos, excluindo-se quase que totalmente a figura humana.

A pesquisadora buscou respostas sobre a prática pedagógica contextualizada a partir da realidade local, além de refletir sobre como meninos e meninas percebem as questões ambientais em seu quotidiano, traçando um paralelo entre a Lei de Educação Ambiental e o Programa Nacional de Educação Ambiental(o ProNEA).

O livro também traz abordagens sobre a realidade da caatinga na pedagogia do semiárido, a questão dos fenômenos naturais como a seca, as árvores, flores e frutos bem como a fauna com seus mamíferos, ovíparos e insetos, além de temas voltado para a ética, psicologismo e fenomenologia. “A problemática também chama a atenção para o fato de que as escolas estão no espaço de caatinga, no mesmo bioma, mas as pessoas não tem uma percepção coerente sobre o quotidiano em que vivem. Nem as crianças e nem os adultos que participaram das pesquisas desenharam sequer um cacto”, aponta.

Ainda na concepção da pesquisadora,  as representações sociais são distorcidas e alimentadas por outros do mesmo grupo. “Para completar temos o comportamento dos poderes governamentais  que pregam a vida inteira e somente a ideia de que a seca deve ser combatida e não buscam  saídas de convivência sem prejuízos. Fenômenos naturais não se combatem”.