Luiz Gonzaga foi o precursor e
criador do baião, por isso ganhou o posto de rei. Também agregou o xote, o
forró e as marchinhas juninas puxando o fole que aprendeu com o pai Januário. E
levou toda essa mistura para e dentro e fora do Brasil. Gonzagão utilizou o
instrumento para difundir a cultura nordestina por meio de suas composições,
numa época em que esses gêneros não eram tão conhecidos nacionalmente e chegou
até a enfrentar o preconceito principalmente no sudeste. Só que sua música e de
parceiros vingou com grandes discos e clássicos que fazem parte da história da
MPB, a exemplo de Asa Branca e Assum Preto.
Instrumento vira paixão de jovens seguidores, como Renan Mendes. |
Hoje, percebe-se que a versatilidade
da sanfona ou acordeon traduz os diversos ritmos desde o forró pé-de-serra à
música clássica, atraindo variados públicos. No São João, há uma efervescência
cultural que multiplica seguidores de Gonzaga puxando o fole por onde passa.
Muitos com zabumba e triângulo. Em Juazeiro-BA, o músico Raimundinho do
Acordeom lembra com saudade dos tempos em que surgiu aos 17 anos, seu interesse
pelo instrumento.
“Passei a infância no sertão, no
povoado de Riacho da Massaroca, em Curaçá. Na casa dos meus parentes quase
sempre tinha uma sanfona. Aconteciam sempre os bailes que o saudoso Vicente do
Riacho fazia e era o cara que quando fazia o forró a noite de São João durava
três dias de festa. Então eu nasci nesse terreiro”, conta Raimundinho.
Dominguinhos |
O músico que está no mercado desde os
anos 70, falou ainda sobre suas influências do cenário musical nordestino. “O
rei Luiz Gonzaga foi o primeiro a fazer sucesso com o, xote, xaxado, as modas
juninas. Eu alcancei Luiz Gonzaga como o primeiro, depois veio Marinês,
Dominguinhos e os filhotes dele”.
Engana-se quem pensa que somente toca
sanfona aqueleque almeja seguir uma carreira musical. O engenheiro agrônomo
Rafael Borges, 28, disse que seu interesse pelo acordeom surgiu quando ainda
estava na faculdade. Desde então, se apaixonou pelo instrumento. “Comecei por
influência do meu curso, o pessoal gostava muito de forró então fui entrando
nesse círculo. Deixei de amar o violão e a bateria e comecei a tentar aprender
a sanfona”, explica.
Apaixonado pela cultura nordestina,
ele não esconde o prazer ao tocar o instrumento. “A sanfona liga a
regionalidade da pessoa à música e ao prazer que você sente quando desenvolve
aquilo que gostamos. Gosto tanto de tocar bateria, como de tocar violão, mas me
entusiasmo mais com o acordeom”, destacou.
Targino Gondim, músico e idealizador do Festival Internacional da Sanfona |
O instrumento ícone da cultura
popular nordestina também revela seu viés erudito, quando se torna parte
integrante de concertos. Tanto que na segunda edição do “Festival Internacional
da Sanfona”, realizado em 2010, as cidades irmãs de Juazeiro-BA e Petrolina-PE,
no Vale do São Francisco, receberam o acordeonista italiano Mirco Patarini
aplaudido por todo o público ao mostrar seu talento nos acordes clássicos.
A queridinha das
festas juninas - O pesquisador e músico, Leonardo Rugero Peres, em
seu ensaio “A sanfona de oito-baixos na música instrumental brasileira”,
publicado no site Músicos do Brasil, descreve como a queridinha das festas
juninas surgiu. A sanfona de oito-baixos originou-se no século XIX na Europa,
mas foi se inserindo em vários países e recebendo diferentes nomes, inclusive
no Brasil. Em 1829, que o inventor vienense CyrillDemian batizou de “acordeom”
o instrumento que mais tarde aperfeiçoado, seria um ícone cultural em vários
países e em diferentes ritmos.
Aqui no Brasil ela é gaita-de-ponto,
cabeça-de-égua, pé-de-bode, fole de oito-baixos entre outras nomenclaturas, e é
incessantemente tocada nas festas juninas do Brasil.
Sanfona ou
Acordeom? – Eis a questão que ronda a cabeça de muitos que se interessam por
conhecer o instrumento. Leo Rugero responde em seu ensaio, para não deixar
dúvidas aos apaixonados pelo instrumento. Sanfona e acordeom são instrumentos
diferentes. Segundo Leo, a sanfona de oito-baixos possui como característica
marcante, a bissonoridade. Isso significa que abrindo o fole (parte onde estão
as pregas do instrumento) um botão corresponde a uma nota, e fechando a outra.
Ou seja, o movimento do fole determina a nota. Já no acordeom de teclado, cada
tecla produz uma nota independente da abertura do fole.
Para quem gosta do som do acordeom, ouça Luiz Gonzaga e a eterna Respeita os oitos baixos do teu pai.
Por Brena Souza
Por Brena Souza