Toda poesia que se derrama da lavra de Manuca

. 09 março 2016
Desde pequeno, o menino Manuca Almeida gostava de brincar com as letras e já pisava no terreno da poesia, assim, sem influência de qualquer pessoa. As palavras já estavam em suas veias e pensamentos. Ele mesmo recorda que na infância “se via querendo ser poeta”. Nascido em Aracaju (SE), seu envolvimento com os livros começou na capital. Anos depois, se mudou com a família para Juazeiro (BA), onde de fato o mergulho na arte foi completo. Aos 13 anos, com colegas de escola, lançou um jornal mimeografado, cujo formato de impressão era feito a partir de um equipamento chamado mimeógrafo, onde eram rodados trabalhos e provas, à base de álcool e folha de carbono azul. 
Já no Sertão do São Francisco, Manuca começa a se entrosar com artistas da região. Ao conhecer o poeta Jurandir Costa, em Petrolina, juntos, resolveram produzir um jornal com ideias culturais, no qual a poesia era o foco central. Na adolescência, ao entrar em conflito com os pais, Manuca voltou para o litoral e foi morar com um irmão em Salvador. E foi no território da Bahia de todos os santos e tantos artistas que conheceu livros e mais livros de diversos autores.
Quando se aprofundou nas leituras percebeu que seria capaz de produzir algo com as características literárias do que estava lendo. Sempre hiperativo, chegou a criar peças teatrais. “Ai fui desafiado pelo meu irmão que ignorava minhas criações e dizia que eu ia ser um Zé Ninguém”, conta sorrindo.
E foi o mesmo irmão que lhe deu uma enxurrada de livros para que praticasse a leitura mais a fundo. Quando começou o estímulo para escrever com mais criticidade entre autor e produção, Manuca percebeu que os grandes autores escreviam algo que para ele, naquela idade, parecia simples.
Entusiasmado com as novidades da música e literatura, o poeta foi percebendo a efervescência dos grandes centros e pensava em se mudar definitivamente para a capital. Mas o estilo e qualidade de vida do interior lhe dava mais inspiração. “Mas hoje o interior em que vivemos tem aspectos de capital, tudo muito dinâmico, onde acontece muita coisa ao mesmo tempo”, observa.  E é na sua apaixonante Juazeiro que o poeta/compositor desfruta de uma sombra no seu quintal poético onde saboreia uma manga bem doce.
Da poesia o salto para a música também foi veloz. Sempre inspirado, começou a fazer música profissionalmente em 1999 e nunca mais parou. A primeira composição foi bem antes e era um tema de humor para o espetáculo “Baiano Luz”, produzido pelo cantor, compositor e instrumentista baiano Roberto Mendes. A canção se chamava “Dona Eunice” que é o nome da mãe do poeta.
“A primeira mamadeira a gente nunca esquece, foi ai que eu disse: que tolice dona Eunice esquece essa vitamina de banana quero beber Mário Quintana e destilar poesia”, diz o poeta.
PERFORMÁTICO- Na sua trajetória, Manuca se transformou num artista performático. Compôs vários gêneros, fez grandes parcerias e emplacou seus versos em discos de autores consagrados. Seus créditos estão lá em Esperando na Janela (ao lado de Targino Gondim e Raimundinho do Acordeon) que Gilberto Gil e outros intérpretes gravaram. Pop Zen, registrada por Arnaldo Antunes é uma das composições que o poeta tem mais carinho. “Arnaldo é uma tremendo poeta, sempre fui fã e ele tem grande relevância no cenário nacional”.
Para fazer música, observa o compositor, tem que ter muita habilidade. Até a loucura tem que ser dosada. Mas o mercado é a única coisa que não anda tão inspirador. “Fazer música atualmente no Brasil, é complicado porque tem-se que concorrer com o sertanejo universitário”, lamenta.  O imã e a boa relação que o poeta tem com a vida, a natureza e com os artistas, somam na hora das criações.
Sobre a valorização que recebe dos conterrâneos ele não esconde algumas mágoas. “É normal em todo lugar a história que santo de casa não faz milagres”. Sempre em produtividade, Almeida está divulgando um áudio book e um trabalho infantil. A inspiração para crianças surgiu quando preparou um projeto para o Maurício de Sousa. Manuca é assim e sempre será: vai pensando, criando e provocando com arte. Sempre sujeito à pintar na área com novidades.


Por Kleyton Nunes
 Fotos: Arquivo pessoal