Desde
pequeno, o menino Manuca Almeida gostava de brincar com as letras e já pisava
no terreno da poesia, assim, sem influência de qualquer pessoa. As palavras já
estavam em suas veias e pensamentos. Ele mesmo recorda que na infância “se via
querendo ser poeta”. Nascido em Aracaju (SE), seu envolvimento com os livros
começou na capital. Anos depois, se mudou com a família para Juazeiro (BA),
onde de fato o mergulho na arte foi completo. Aos 13 anos, com colegas de
escola, lançou um jornal mimeografado, cujo formato de impressão era feito a
partir de um equipamento chamado mimeógrafo, onde eram rodados trabalhos e
provas, à base de álcool e folha de carbono azul.
Já no Sertão do São Francisco, Manuca
começa a se entrosar com artistas da região. Ao conhecer o poeta Jurandir
Costa, em Petrolina, juntos, resolveram produzir um jornal com ideias
culturais, no qual a poesia era o foco central. Na adolescência, ao entrar
em conflito com os pais, Manuca voltou para o litoral e foi morar com um irmão
em Salvador. E foi no território da Bahia de todos os santos e tantos artistas
que conheceu livros e mais livros de diversos autores.
Quando se aprofundou nas leituras
percebeu que seria capaz de produzir algo com as características literárias do
que estava lendo. Sempre hiperativo, chegou a criar peças teatrais. “Ai fui
desafiado pelo meu irmão que ignorava minhas criações e dizia que eu ia ser um
Zé Ninguém”, conta sorrindo.
E foi o mesmo irmão que lhe deu uma
enxurrada de livros para que praticasse a leitura mais a fundo. Quando começou
o estímulo para escrever com mais criticidade entre autor e produção, Manuca
percebeu que os grandes autores escreviam algo que para ele, naquela idade,
parecia simples.
Entusiasmado com as novidades da
música e literatura, o poeta foi percebendo a efervescência dos grandes centros
e pensava em se mudar definitivamente para a capital. Mas o estilo e qualidade
de vida do interior lhe dava mais inspiração. “Mas hoje o interior em que
vivemos tem aspectos de capital, tudo muito dinâmico, onde acontece muita coisa
ao mesmo tempo”, observa. E é na sua apaixonante Juazeiro que o
poeta/compositor desfruta de uma sombra no seu quintal poético onde saboreia
uma manga bem doce.
Da poesia o salto para a música também
foi veloz. Sempre inspirado, começou a fazer música profissionalmente em 1999 e
nunca mais parou. A primeira composição foi bem antes e era um tema de humor
para o espetáculo “Baiano Luz”, produzido pelo cantor, compositor e
instrumentista baiano Roberto Mendes. A canção se chamava “Dona Eunice” que é o
nome da mãe do poeta.
“A primeira mamadeira a gente nunca
esquece, foi ai que eu disse: que tolice dona Eunice esquece essa vitamina de
banana quero beber Mário Quintana e destilar poesia”, diz o poeta.
PERFORMÁTICO- Na sua trajetória,
Manuca se transformou num artista performático. Compôs vários gêneros, fez
grandes parcerias e emplacou seus versos em discos de autores consagrados. Seus
créditos estão lá em Esperando na Janela (ao lado de Targino Gondim e
Raimundinho do Acordeon) que Gilberto Gil e outros intérpretes gravaram. Pop
Zen, registrada por Arnaldo Antunes é uma das composições que o poeta tem mais
carinho. “Arnaldo é uma tremendo poeta, sempre fui fã e ele tem grande
relevância no cenário nacional”.
Para fazer música, observa o
compositor, tem que ter muita habilidade. Até a loucura tem que ser dosada. Mas
o mercado é a única coisa que não anda tão inspirador. “Fazer música atualmente
no Brasil, é complicado porque tem-se que concorrer com o sertanejo
universitário”, lamenta. O imã e a boa relação que o poeta tem com a
vida, a natureza e com os artistas, somam na hora das criações.
Sobre a valorização que recebe dos
conterrâneos ele não esconde algumas mágoas. “É normal em todo lugar a história
que santo de casa não faz milagres”. Sempre em produtividade, Almeida está
divulgando um áudio book e um trabalho infantil. A inspiração para crianças
surgiu quando preparou um projeto para o Maurício de Sousa. Manuca é assim e
sempre será: vai pensando, criando e provocando com arte. Sempre sujeito à
pintar na área com novidades.
Por Kleyton Nunes
Fotos: Arquivo pessoal