Dividindo espaço com as construções do Campus III, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), a trilha ecológica José Theodomiro Araújo é um meio de descobrir a importância da mata ciliar para a preservação do rio São Francisco. A trilha tem aproximadamente um quilometro e tem 21 espécies de plantas nativas, que são essenciais para conter a erosão do solo e minimizar o assoreamento das margens do rio.
Entre as espécies, estão a ingazeira, localizada na faixa transitória entre o solo e o rio, cujas raízes servem para proteção, abrigo e alimentação dos peixes; a lantana com potencial para o paisagismo e plantas medicinais como o pau-ferro e a aroeira.
Ingazeira. Foto: Lívia Santos |
Para identificar essas espécies
nativas, a professora e pesquisadora do Departamento de Tecnologias e Ciências
Sociais (DTCS), da UNEB, Maria Herbênia
Cruz realiza um trabalho de mapeamento,
seleção e coleta de flores e sementes, através do projeto de pesquisa Produção de plantas nativas para recomposição
da mata ciliar no Submédio São Francisco.
Nesse trabalho, que conta com o
auxílio de estudantes de Engenharia Agronômica e da servidora Lucília, as sementes são
recolhidas do ambiente natural para serem analisadas no laboratório do Herbário
da Embrapa Semiárido. As sementes que apresentam boa germinação são utilizadas para
produzir novas mudas em viveiro, já que são espécies encontradas apenas nas
margens do rio São Francisco. “A mata ciliar está para o rio, como os cílios para
os nossos olhos. Elas mantêm as margens protegidas de fatores como erosão e do
assoreamento que têm levado, cada vez mais, resíduos e areia para dentro do rio”,
explica a pesquisadora.
Atualmente, é feito replantio das
mudas em áreas de comunidades ribeirinhas e na trilha ecológica que sofre
constantemente com a retirada indevida de plantas nativas e queimadas. Maria
Herbênia explica ainda que, mesmo em áreas que ocorreram incêndios, plantas -
como a ingazeira - possuem grande capacidade de regeneração, muitas delas
brotando a partir das sementes que caíram no solo e das raízes que resistiram
ao fogo. Confira no video
Apesar da pequena extensão, a
trilha ecológica representa um importante ecossistema entre o rio e as espécies
da caatinga que convivem de forma integrada, como as plantas nativas, aroeira, baraúnas,
cactáceas e bromélias encontradas ao longo da trilha e que resistem à
degradação externa provocada pelo homem e pela presença de plantas invasoras
como algarobas e Nim.
Conheça as Plantas Nativas
As 21 espécies da mata ciliar encontrada na trilha ecológica colaboram para preservar o ecossistema, evitando a erosão do solo, como atestam pesquisas com as mudas das plantas realizadas pela professora Maria Herbênia Lima Cruz, em desenvolvimento no DTCS/UNEB.
Contudo, essas plantas também são conhecidas pela população que faz uso medicinal de algumas delas. Conheça algumas propriedades dessas plantas nativas.
Pesquisa e texto: Mônica Santos
Angico (Anadenanthera colubrina)
- Utilizada na construção civil e tem propriedades medicinais, prevenindo problemas respiratórios, como asma, tosse, bronquite,
gripes, resfriados e inflamações como a faringite, e diarreia, disenteria e
raquitismo.
Aroeira-do-sertão (Myracridruon urundeuva): A madeira é usada na construção civil e ornamentação. A sabedoria popular atribui propriedades medicinas no tratamento de fraqueza muscular, distensão de
tendões, artrite e fraqueza dos órgãos digestivos, reumatismo e tumores linfáticos. Suas folhas são usadas para tratar úlceras, já sua casca tem efeito adstringente, utilizada contra hemoptises
e diarreia, além disso, serve para tratar inflamações ciáticas, gota e
reumatismo.
Braúna ( Schinopsis brasiliensis) Usada
para fins medicinais pelos índios Kariri-xoco e xoco, a sua casca triturada e
cozida serve para aliviar dores de dentes, o chá de sua casca alivia dores de
ouvido, já seus brotos, quando macerados em álcool, tem propriedade
anti-histéricas.
Cambará (Lantana camará) Além de sua
capacidade ornamental, tem efeito no tratamento de dores abdominais e pode ser
usado para baixar febre, tratar dores de ouvido, coqueluche, além de
expectorante, infecções e alergias respiratórias.
Feijão bravo (Caparis cynophallophora
L; Caparis flexuosa). Quando inalado,
ajuda no combate a sinusite, além disso, segundo a crença popular, é possível
tratar picadas de cobra quando suas cascas são raspadas e deixadas em água
Ingazeio (Inga vera subsp. affinis (DC.) T.D. Penn.) Tem
propriedades adstringentes, antiartríticas, antirreumáticas e desintéricas.
Além disso, o ingá, fruto do ingazeiro combate dores de cabeça e dores em
geral, diarreia e diminui problemas intestinais
Ipê amarelo (Tabebuia alba) - Sua casca e
folha são utilizadas para infecções como amidalites, estomatites, infecções
renais e dermatites, varizes, coceiras e eczemas, também são
conhecidas para prevenção de infecções, diarreias, tumores, além de analgésicas
e cicatrizantes. A raíz é utilizada contra gripe e seus brotos utilizados como
antisseptico. As flores
picadas combate inflamações na gengiva e na garganta.
Jatobá (Hymenaea courbaril) O chá de jatobá colabora para o fortalecimento do
sistema imunológico, é eficaz no tratamento de infecções provocadas por fungos,
ação anti-inflamatória e alivia problemas nas articulações e respiratórios.
Juazeiro (Ziziphus joazeiro) Indicada para tratar caspa, gengivite, febre, má
digestão, dores estomacais, placa bacteriana, vias urinárias e queda de cabelo.
Porém, contraindicada para uso pediátrico e durante a gestação e amamentação,
por conter saponina, substância que em grande quantidade é toxica.
Juazeirinho (Ziziphus cotinifolia) - planta nativa.
Jurema (Mimosa tenuiflora) É utilizada para fins medicinais e religiosos. Serve
como defumados, no combate a dor de dente, de doenças sexualmente
transmíssiveis, no tratamento de insônia, dos nervos e de dores de cabeça. Nas
religiões de matriz africana tem muita importância, suas folhas são usadas em
banhos e para fazer rezas.
Macambira (Bromelia laciniosa) Utilizada para cobrir telhados e em tempos de seca,
servia como alimento, de sua fibra se faz farinha e pão ricos em proteínas, e
com o farelo do caule os sertanejos alimentam os seus animais, podendo ser
utilizada todas as suas partes, essa bromélia é um grande aliado dos sertanejos
em tempos de escassez.
Marizeiro (Geoffroea spinosa) Seus frutos são
comestíveis, além de retirar deles uma massa que serve como vermífuga, já suas
folhas servem de ração para gado e o chá funciona como antidiarreico e
emenagogo
Mulungu (Erythrina velutina) Estudos mostram que esta planta possui
propriedade sedativas, ansiolíticas, ou seja, calmantes, e age também na
prevenção e tratamento de convulsões
Muquém (Albizia inundata)
Paineira – barriguda (Ceiba speciosa) Considerada uma das árvores mais lindas do
mundo, a paineira ou barriguda, é utilizada no tratamento de
hernias, ínguas e queimaduras, a partir do cozimento de sua rezina e de
sua casca, fazendo-se um emplasto.
Pau-ferro (Libidia férrea) Suas folhas vem sendo utilizadas no tratamento
de ulceras gástricas, já sua casca serve para tratar problemas,
como diabetes, problemas nas amidalas, cólica intestinal, diarreia,
gota, hemorragias, reumatismo, sífilis, tosse, hemorroidas, complicações cardíacas,
febre, afecções pulmonares e fraqueza em geral
Pinhão bravo (Jatropha mollíssima) Possui efeito antimicrobiano e cicatrizante.
Pode ser utilizada como planta ornamental, e a partir do óleo extraído de sua
semente pode-se fazer tintas e sabão, além ser importante no combate a aerosão
do solo e para a polinização.