Acidente Vascular Cerebral: um problema de saúde pública

Multiciência 12 abril 2017
Após um dia muito agitado, Marilucia Carvalho Ribeiro dos Santos chegou em casa, tomou banho e sentiu uma dormência na ponta dos dedos que subia pela perna até o braço, no lado direito. Sentiu também o corpo ser puxado para baixo. A filha, Samara Carvalho Ribeiro de Aguiar, conta que recebeu um telefonema de suas primas relatando o que estava acontecendo e voltou para casa. “Minha mãe passou três dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um hospital particular de Juazeiro. Após receber alta, ficou de cama por 15 dias, e voltou a andar após esse tempo com dificuldades”. Os exames diagnosticaram que, durante 30 minutos, houve um sangramento do lado esquerdo do cérebro de Marilucia. Ela estava sofrendo um Acidente Vascular Cerebral (AVC) do tipo hemorrágico, popularmente conhecido como derrame.

“Eu tinha problemas de pressão, mas não me cuidava. Um dia antes de sofrer o AVC comi um pacote de salgadinho grande”, relata. Marilucia foi medicada e não precisou passar por cirurgia. Samara relata que sua mãe chorava muito no início. “O médico acredita que o derrame afetou o lado emocional dela. Antes, ela não era assim”. Onze anos depois do tratamento que durou cinco anos, com fisioterapia e acupuntura, Marilucia toma remédios para controlar a pressão e ainda sofre com algumas sequelas do AVC. “Eu caminho, faço as coisas, mas ainda sinto um peso e dormência no corpo. Tem dias que meu braço fica muito duro e tenho dificuldades para movimentar a mão”. Depois de ter sofrido o derrame, ela pediu aposentadoria do trabalho, por não ter condições de voltar a fazer as atividades como antes.

Obesidade, diabetes, hipertensão e uma vida sedentária são algumas das principais causas que levam ao AVC. Nos últimos anos, a doença tem se tornado um problema de saúde pública devido aos dados alarmantes. Atualmente, atinge 16 milhões de pessoas por ano em todo o mundo, nas mais diversas faixas etárias. No Brasil, são registradas aproximadamente 68 mil mortes anualmente, de acordo com o Portal Brasil.

O clínico geral Malan Silva de Brito, que atua no serviço de saúde pública de Juazeiro, na Bahia, explica que essa doença pode atingir pessoas de todas as idades, mas que os idosos estão mais propensos a sofrer o derrame. “A maior parte dos idosos, que sofrem ou sofreram com o AVC, apresentava pressão alta, diabetes ou o organismo já estava um pouco mais debilitado, por causa da idade, mas essa doença pode ser registrada em qualquer parte da vida de uma pessoa,” esclarece o médico.


Foto de Robson Gomes


Prevenção

Apesar de ser mais recorrente em idosos, jovens também estão propensos a ter um acidente vascular cerebral. Essa possibilidade é recorrente principalmente em pessoas que tenham doenças cardíacas, hematológicas e autoimunes. O consumo de drogas lícitas e ilícitas é um fator que pode predispor o jovem a um derrame. Em crianças, é recorrente em casos clínicos de anemia falciforme, com problema de formação em um vaso sanguíneo ou que teve rompimento desse vaso.

Segundo o neurocirurgião do Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Ricardo Brandão, existem dois tipos de derrame: o isquêmico e o hemorrágico. “O primeiro é mais comum, corresponde a, praticamente, 80% do Acidentes. Isquemia é uma privação de sangue em determinada região, ou seja, o AVC é o entupimento de um vaso no cérebro que acarreta os primeiros sintomas. Já o hemorrágico, como o próprio nome já diz, é uma hemorragia cerebral causada pelo rompimento de um vaso”, afirma.


Foto de Gislaine Milca

O tratamento do AVC isquêmico é feito com o uso de fibrinolíticos, que são medicamentos que tendem a diminuir a obstrução dos vasos, quando hemorrágico o tratamento é cirúrgico. Quando há sequelas o paciente precisa passar por mais tratamentos como a fisioterapia e até mesmo um fonoaudiólogo caso tenha problemas para mastigar por exemplo". 

A prevenção primária pode ser feita para modificar os fatores de risco através da prática de exercícios, evitar a ingestão de gorduras e fazer exames frequentes para medir as taxas de hipertensão. Além disso, é necessário realizar um atendimento de atenção básica, dispor de serviços estruturados e com profissionais capacitados para realizar prevenções secundárias.

Reportagem de Ingryd Hayara e Robson Gomes, repórteres da Agência MultiCiência