Professor Marcos Vinicius |
Numa sala da Universidade do Estado da Bahia, Marcus Vinicius Santana Lima – camisa xadrez, calça preta, tênis, de pernas cruzadas, à vontade – professor da Universidade do Vale do São Francisco, fala sobre seu minicurso Topologias da Existência, ação extensionista promovida pela agência de notícias MultiCiência. O significado por trás do nome? Segundo ele, as narrativas tensas (possíveis) da existência. Narrativas que lancem reflexões e perspectivas acerca da condição humana e das subjetividades que compõem o ser humano. “Sensações que são provocadas a maneira que experimentamos o mundo. ” E narrativas, afirma, são sempre suposições de quem narra, nunca uma exatidão. São “contestáveis”, “duvidáveis”, “plurais”, “interpretadas”, “reflexo da vida humana”.
Na sala, umas quase 20 pessoas, ouvindo o que o jovem historiador tem a dizer. Mas quem ouve mesmo é ele, com atenção, paciência e o prazer de ouvir o que, os participantes, têm a dizer. Uma reunião, uma comuna de ideias se faz, em que as impressões saltam e preenchem o ar com poesia, com literatura, com narrativas, com impressões.
Foto Moisés Cavalcante |
Sua sabedoria, sua humildade me toma de súbito, fazendo-me pensar no narrador de Walter Benjamin, para o qual o narrador é aquele que tem sabedoria, possibilitada por suas vivências ou adquirida através de histórias, compartilhando-a. O narrador é aquele que escuta o outro atentamente.
Marcus Vinicius lê narrativas, as experimenta, mensura, degusta e conta para nós aquilo que lhe causou admiração, suas impressões (não suas certezas), as experiências vividas e sentidas pelas personagens para criar assim sua própria narrativa, uma narrativa humanizadora, que aponta a importância de olhar para a alteridade para o outro subjugado, agredido, silenciado, traumatizado, desejoso.
Inspirado por Valter Hugo Mãe, o professor fala da beleza que é possível a partir do outro. Ah, a beleza, “a beleza é o que a gente fala, é partilha, solidariedade, capacidade de confiar”. A beleza, continua, é “um conto, reunião, comunhão, enlace”. A beleza “não nasce apenas de alguém com quem a gente concorda. Mesmo quem discorda de nós é humano como a gente, fala como a gente, sente como a gente”. Ele também nos chama atenção para a desumanização, a capacidade de perder o outro, fazer da nossa própria linguagem o real, acreditar que nossa fala tem o poder de abranger a realidade, silenciando vozes, por soberba, por engano.
Foto: Moisés Cavalcante |
Na volta para casa, sozinho, olho para o chão molhado de chuva e ouço meus passos causando pequenos ruídos no asfalto escuro e ouço com cuidado, como eles parecem reverberar os meus não-ditos, os meus silêncios, lembrando das palavras, da literatura, da poesia que saía de dentro dele, desse narrador, ouvidas e anotadas por mim minutos atrás – sobre a morte, a literatura, as narrativas, a subjetividade, a beleza, a memória, o corpo, a linguagem, o outro – lembrando mais uma vez (porque necessito) que a desumanização é perder-se do outro, perder a beleza do encontro com o outro.
Texto: Jônatas Pereira, estudante de Jornalismo da Universidade do Estado da Bahia - Campus III.