No último mês de Junho, vivenciamos, mais uma vez, na cidade de Petrolina, os festejos juninos. A festa mais famosa da região, o São João do Vale, reuniu 700 mil pessoas, movimentou a economia local e atraiu artistas da indústria cultural desde Marília Mendonça, Ivete Sangalo a hits eletrônicos como os de Alok. Apesar de Petrolina demonstrar que pretende se manter moderna, as tradições mais antigas relacionada à festa junina nunca se apagaram.
No dia 23 de Junho, foi possível
andar pela cidade e presenciar meninos brincando à beira da fogueira, famílias
reunidas para comer bolo de milho e pé-de-moleque e quermesses por toda a
cidade ao som do típico baião. Imagens que há mais de 30 anos, Simão Durando,
professor renomado e ex-prefeito de Petrolina (1969-1973), relatava em uma de
suas crônicas para o jornal O Pharol.
Ele demonstrava que as tradições não se perderam no tempo e fazia apologia de
que a cidade seria um polo turístico durante essa época do ano.
Na crônica Êta São João Bom!, publicada em junho de 1985, Simão Durando contou
como era a sensação de viver a festa junina. A cidade exalava o “cheiro de
mato, de terra molhada, de milho assado na brasa”. As famílias se reuniam “no
cepo do fundo do quintal”, em uma “conversa fiada com quem não se via a tempo”.
Rememorava as brincadeiras típicas como o do homem da cobra, o moleque passando
descalço por cima do braseiro. A partir da narrativa de Simão, é possível
perceber como a cultura popular não se perdeu mesmo com o passar do tempo e
como as tradições já eram vistas com certo saudosismo pelo autor.
Em contraponto, a tradição
convive com o moderno. Simão já mostrava como a cidade havia se tornado um polo
turístico, como ficou evidente no último São João do Vale que atraiu visitantes
de toda a região do norte da Bahia e do sertão Pernambucano. Ele narra a
simplicidade dos parentes que visitavam os familiares e se alegravam na festa
da nossa cidade. Ao mesmo tempo, a cidade já tinha se transformado em um polo
de desenvolvimento no interior do Nordeste, mantendo, ainda, os laços com a sua
história e tradição. No imaginário de Simão, já despontava a “Petrolina
cosmopolita, metrópole, sisuda, danada de trabalhadeira, só faltando mesmo nos
arrancar o couro”; bem como a receptiva comunidade capaz de gestos simples, deleitáveis,
inteligentes e preservando a cultura popular com famílias nas calçadas
aquecidas pelo calor da fogueira.
Ao reler o texto de Simão,
podemos perceber que transformações sociais e culturais são construídas ao
longo do tempo, modernizando-se, mas sem que a cultura popular seja totalmente
descaracterizada. Como o autor relatava, nossa gente é capaz de manter os
costumes no seu cotidiano e acolher o novo.
Texto: Juliana Almeida, estudante de Jornalismo em Multimeios, UNEB, e pesquisadora do projeto Tempo e História da Imprensa de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE).
Imagens: Arquivo pessoal/ Reprodução disponível no google.
Edição: Moisés Cavalcante