A Cegueira e a Solidariedade em tempos caóticos

Multiciência 28 abril 2020

Em um dia qualquer, quando após longos segundos de espera, motoristas podem finalmente cruzar a toda velocidade a faixa de pedestres, um carro quebra o protocolo e continua inerte, do veículo o motorista grita: "estou cego". É dessa forma que o escritor José Saramago, no livro "Ensaio sobre a Cegueira", apresenta a sociedade que subitamente se vê mergulhada em uma cegueira branca. A doença, propagada de indivíduo para indivíduo, causa o colapso e coloca fim as estruturas hierárquicas presentes na vida social.

Lançada em 1995, a obra conquistou o Prêmio Nobel de Literatura de 1998 e o Prêmio Camões em 1995, e foi adaptada para o cinema em 2008, com direção de Fernando Meirelles e atuação de Mark Ruffalo. O livro nos instiga a enxergamos além do que podemos ver, adentrando a realidade daqueles que estão cegos e os desafios que eles terão que enfrentar em sua quarentena, colocando em questão o que somos capazes de fazer para garantir nossa sobrevivência.

Saramago nos suscita a imaginarmos um mundo onde o caos reina e transforma todos em seres em posição de vulnerabilidade. Além de indagar se continuamos humanos, mesmo quando tratados sem a mínima humanidade. Nesse contexto atual de Pandemia, a leitura do romance nos permite evocar a importância da solidariedade em tempos caóticos. A partir da alegoria sobre a cegueira proposta por José Saramago, precisamos fechar os olhos para recuperar a lucidez e enxergar "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".

Maria Clara de Oliveira (@_am_arte), graduanda de Jornalismo em Multimeios na UNiversidade do Estado da Bahia (UNEB), Campus III.