Chove. Lá fora a vida continua. Dentro da mente, um turbilhão. O que passa na televisão é tão fascinante quanto saber a história da própria vida, que não se criou, poderia ter acontecido, mas por algum motivo não vingou. Assim como muitos que procuram por respostas, que desejam conhecer de onde vieram, como chegaram ao mundo. Detetives, familiares, cartomantes, médicos. Várias pessoas foram acionadas. Cada detalhe se tornou uma pista. As incertezas e a vontade de ter para si o que é concreto são duas das coisas que desafiam a humanidade. Ainda que isso custe a própria paz.
Trinta e três dias ou uma vida inteira podem não ser suficientes para provar o que ficou no passado. E se as respostas não aparecem, pode aumentar o peso da dúvida? A vida segue rápida e sem fim, como os carros velozes no início do filme. Mesmo que se tente pará-la, queira entender o que ficou para trás, ou aquilo que está por vir, em São Paulo, no dia 09 de setembro de 2001, Kiko Goifman decidiu iniciar esse ciclo. Passado e presente. Poderia isso dar certo?.
![]() |
Kiko: à procura, poucas luzes e vazios |
Em sua narrativa autorreflexiva, a maioria das imagens, inclusive as noturnas, sugere os sentimentos do diretor, personagem narrador no documentário. Quando ele trata, por exemplo, do tabu sobre adoção, contextualizando com a dica do detetive Ricardo, de que a investigação deveria acontecer em sigilo, aparece uma cena em que um carro está sendo lavado. Associada à mensagem, propõe produzir um efeito de limpeza que deve ser feita em relação ao pensamento de quem ainda trata a adoção com preconceito e não discute o tema com liberdade, pelo que a sociedade estabeleceu em omitir, silenciar.
![]() |
Kiko: incessante procura |
![]() |
Mãe adotiva de Kiko |
Trinta dias. Com mais três, o prazo que Goifman delimitara para dirigir a própria história acabaria. A memória das pessoas, os documentos ou a ajuda da mídia podem ou não servir de provas e vestígios para uma investigação. E nesse percurso, o desgaste emocional. Tudo em função não só dá curiosidade, mas de parte de suas raízes. Mesmo diante de tantas negações, havia tempo para suas últimas tentativas. Setenta e duas horas é um bom tempo para esperança, ou grandes frustrações. Mesmo sem saber se Kiko encontra ou não sua mãe biológica - e não era intenção dele revelar - os efeitos desse enredo prendem a atenção e desperta a curiosidade de quem o assiste. E o significado de trilhar essa jornada também parece omisso, o que aparece é uma sensação de esgotamento que desvanece junto com o filme.
O documentário 33 pode ser acessado através do link.
Resenha por Andréssa Silva, Jornalista em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia.
Imagens do Documentário 33