O encontro com um grande poeta e sua poesia deixa qualquer sujeito entumecido, mas quando esse encontro se faz na ausência, muito tardiamente, isso se projeta de outra forma, que só podem ser ditas pela semântica das palavras. Eu vivi essa experiência com a poesia de Manuca Almeida, que foi sempre inteiro, até quando esteve pela metade. Neste caso, eu é que sempre estive pela metade. No momento em que participei dessa evocação de aprendizagem, a minha visão do mundo mudou para sempre. Tudo em que eu acreditava se desmoronou para se reconfigurar por causa das revelações que senti, e fiquei determinado a escrever sobre aquela noite iluminada de palavras, sons e músicas... E, finalmente pretendi organizar as minhas ideias para documentar e testemunhar o meu reconhecimento público da importância da poética daquele que certa vez deixou gravado no coração da aldeia ribeirinha que “Tudo que você guardar/ Pertence ao tempo que tudo transformará...”.
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Memorial Manuca Almeida. Foto: Wellington Martins |
Naquele
momento, e, pela primeira vez, tive um contato mais direto com o olhar simples
da poética deste cidadão sanfranciscano. Logo eu que sempre quis me distanciar
das palavras e das suas performances, ora por preconceito, ora porque como
acadêmico fui me acostumando com essa ideia nefasta de querer encontrar sempre
o pleno, o formidável, o maior, o belo, o grande. No entanto, o que encontrei naquele
evento e naquela noiteforam o poeta e sua poesia consolidada, e, hoje, me
arrependo por ter ficado tanto tempo imune a grandeza de sua esperdice; isto
porque de fato, Manuca Almeida foi um sujeito que soube viver e viver bem!
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Memorial Manuca Almeida. Foto: Wellington Martins |
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Memorial Manuca Almeida. Foto: Wellington Martins |
Foi
um misto de encantamento, posto que nunca me aproximei do poeta Manuca Almeida por
acreditar ver nele algo que para mim não era tão grandioso nem devidamente importante
para se levar em consideração quando da feitura da poesia. Tenho que confessar
que saí do evento com a alma cheia de novas esperanças, porque mais uma vez, e
depois de tantas relutâncias, me convenci que nada é maior do que a intuição e
a vivência no fazer poético, e Manuca fez de sua poesia a sua vida. Até quando
pensava que seus trejeitos e sua teatralidade eram pura intrujice, meus
preconceitos ultrapassavam aquilo que de fato temos que procurar encontrar num
sujeito: a simplicidade.
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Memorial Manuca Almeida. Foto: Wellington Martins |
Portanto, estou dividindo com os muitos leitores destes portais tudo aquilo que senti e vivi naquela magnífica noite em que o poeta Manuca Almeida estava sendo homenageado, ao perceber, depois de tantas intransigências vazias, a necessidade de bradar ao tempo a real importância daquele que me fez descobrir ser importante querer buscar uma justa reconciliação com o mundo...
Por Gênesis Naum de Faris, poeta, escritor, artista plástico, pedagogo e professor da Universidade Estadual do Piaui (UESPI)e coordenador do Núcleo de Estudos Foucaultiano.
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Gênesis Naum (Autoretrato). |