Crise no Setor Gastronômico: o impacto da pandemia nos restaurantes da região

Multiciência 04 junho 2021

Mesmo com a lenta retomada no ramo, a preocupação com a possibilidade de um novo lockdown cerca donos de restaurantes e trabalhadores em Petrolina-PE.

Foto: Laura Bitu



Reportagem Especial Por Júlia R. Mendes, Laura Bitú e Sara Verneque 
O sonho de abrir um negócio pode ser desafiador, principalmente às portas de uma pandemia. Há três anos, a chegada do restaurante Chef Guimarães ao Vale do São Francisco veio acompanhada de muita expectativa. “Quando soube do primeiro lockdown ano passado,” diz ele, “estávamos em um momento de crescimento com ideias de iniciar o projeto delivery, porém passamos quase 8 meses sem funcionar por causa da pandemia”, relata Normandio Guimarães, dono da marca e do restaurante.

Em abril de 2021, meses após reabertura presencial do estabelecimento, Guimarães se viu diante da decisão de retornar exclusivamente ao serviço delivery. Um estabelecimento que contemplava 25 funcionários já não sustentava os gastos e passou a funcionar com apenas quatro. "Foi difícil, porque engloba sonhos e não apenas lucro", lamenta ao relembrar o fato. Além do Chef, cerca de 85% das empresas tiveram queda no faturamento em todo território nacional, segundo dados de pesquisa feita pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e pelo Sebrae. 

Chef Normandio Guimarães. Foto: Kaio Cards

A crise no setor gastronômico não se restringe aos negócios mais recentes. Para Carlos Bitú, dono do restaurante Buchada & Cia há mais de 30 anos, em Petrolina-PE, esses dados também se tornaram uma realidade. “Depois de dois meses sem vender no primeiro lockdown, as despesas começaram a preocupar. Cheguei a perder um freezer inteiro de mercadorias”, queixa-se. Segundo a Abrasel, cerca de 200 mil bares e restaurantes fecharam as portas no Brasil em decorrência da pandemia. 

Diante do novo cenário, os estabelecimentos tiveram que se reinventar para continuar de portas abertas. Carlos Bitú conta que cerca de 70% dos novos clientes chegaram através do contato com delivery e redes sociais – ferramentas que não eram utilizadas em seu trabalho até então. Apesar da lenta retomada no setor, essas e outras estratégias têm sido de grande ajuda na tentativa de atravessar a crise. Reduzir custos, renegociar com fornecedores e locadores, fazer promoções e gerar confiança para que o consumidor volte são algumas das dicas compartilhadas pela Abrasel.

Funcionários

No início da pandemia, a insegurança quanto ao retorno do funcionamento levou empreendedores a adotar medidas em prol de seus funcionários. Atuando há 16 anos como proprietário do restaurante Papa’s, Geraldo Henrique de Lima relembra o momento em que se viu sem condições de realizar o pagamento dos funcionários.  “Chamei de canto e expliquei a situação para eles. Coloquei todos de férias, mas não tinha como pagar. Quando as férias venceram, dei a suspensão de contrato temporária e o governo concedeu auxílio”. 

De acordo com as novas Medidas Provisórias publicadas no Diário Oficial da União em abril de 2021, na suspensão do contrato de trabalho, o contratante deixa de pagar o salário e o governo concede um benefício financeiro baseado no seguro-desemprego que o funcionário receberia. Ao encerrar o tempo de suspensão definido pela empresa, é previsto o retorno do funcionário ao trabalho, recebendo o salário normalmente. Segundo Geraldo, essa medida foi o que “salvou” os funcionários do restaurante. 

Restaurantes com pouco movimento Foto: Laura Bitu

Em março de 2020, o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci, estimou que pelo menos 100 mil empregos já teriam sido perdidos até aquele momento. Agora, em 2021, a Abrasel aponta que mais de 400 mil trabalhadores do setor ficaram desempregados. O medo de fazer parte desses números aflige todos os brasileiros nesse momento de pandemia, inclusive Alexandro Almeida, que trabalha como garçom no restaurante Papa’s há três anos. Almeida recorda que receber a notícia sobre o primeiro lockdown foi muito preocupante, pois a volta do funcionamento era uma incerteza. “Fiz trabalhos com meu pai de servente para suprir a renda”, conta o garçom. 

Para Guttemberg Gomes, garçom há 11 anos no restaurante Buchada & Cia, a sensação de não poder ir trabalhar foi muito complicada. “Temos família para sustentar, então receber essa notícia foi, no mínimo, desagradável”, conta o trabalhador, que buscou refúgio na roça pois, segundo ele, lá as coisas estavam mais “fáceis”. 

A pandemia ainda não acabou. A possibilidade de um novo lockdown traz preocupações e incertezas para os trabalhadores do ramo. “Insegurança total. Nós dormimos com tudo funcionando, mas com a incerteza de que posso acordar amanhã e ter uma nova notícia de fechamento”, lamenta Geraldo.

Interessados no serviços de gastronomia, podem entrar em contato:
Buchada e Cia -  (87) 99807-7242 - o restaurante atende presencial, delivery e retirada.
Chef Guimarães - (87) 99134-8896 - atendimento delivery e retirada.
Papa's -  (87) 3864-2366 - atendimento presencial e retirada.