Após reprovação à Neymar,
torcedores questionam se as pessoas devem criticar o jogador na copa por causa
do seu posicionamento nas eleições.
Com sede no Catar, a 22ª edição da Copa do Mundo atrai
atenção de torcedores brasileiro e teve início apenas alguns dias de uma das
eleições mais importantes da história brasileira, com a vitória do então eleito
futuro presidente Lula (PT) sobre o atual presidente Jair Bolsonaro (PL).
Depois do clima eleitoral, as emoções populares ainda estão afloradas e se
refletem nas críticas sofridas por Neymar Jr., craque da seleção, em consequência
do seu controverso posicionamento político.
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Foto: Chung Sung / Getty Images |
Conhecido como “país do futebol”, o Brasil carrega o
maior número de vitórias no campeonato, cinco no total, e ainda é o único país
participante de todas as copas do mundo na história. Não tem como falar de copa
sem falar de Brasil e não tem como falar do Brasil sem falar de futebol. Com
todas as suas contradições, o esporte está enraizado no cotidiano dos
brasileiros, somos ensinados desde cedo que devemos amar o futebol, e, até os
que não têm paixão pelo esporte, param para acompanhá-la. Assim, a copa se
tornou o evento que une as pessoas, faz desconhecidos entoarem juntos o hino
nacional e colorirem as ruas com o verde e amarelo; vizinhos pintam a bandeira
nas calçadas; família e os amigos se reúnem na sala de casa para acompanhar
juntos os jogos e se emocionam com os resultados da seleção.
No entanto, em decorrência desse período em que o
Brasil vive em notória polarização, é difícil dizer que somos capazes de
fazermos uma copa como antigamente. Enquanto a seleção se preparava para
enfrentar o seu primeiro jogo contra a Sérvia, no último dia 24, no
questionável Catar, no Brasil alguns manifestantes golpistas continuavam nas
ruas contestando os resultados das eleições presidenciais. Além disso, com o
discurso de “a nossa bandeira jamais será vermelha”, os bolsonaristas tomaram
para si a camisa da seleção como símbolo e, apesar de todas as tentativas para
desatrelar o manto brasileiro do falso patriotismo, ainda há uma ligação
evidente e, por isso, um bloqueio de alguns brasileiros em usarem a camisa
amarela. Como se não bastasse, alguns jogadores, dentre eles o mais aclamado
mundo afora e igualmente polêmico, Neymar Jr., declararam voto ao atual
presidente nas eleições.
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Imagem: Reprodução/Instagram/Jair Bolsonaro
Neymar construiu uma carreira de excelência, com 30
anos de idade, coleciona inúmeras vitórias por todo o mundo e é considerado o
melhor jogador do Brasil em atividade. Não à toa, o menino Ney – como costuma
ser chamado por seus admiradores – já apareceu duas vezes como o 3º melhor
jogador do planeta no ranking da FIFA. Revelado no Santos Futebol Clube e ovacionado
pela sua “ousadia e alegria” no time brasileiro, Neymar joga atualmente no Paris
Saint German, na França, após uma gloriosa passagem pelo Barcelona, na Espanha,
com diversos títulos importantes e uma vida de astro.
Apesar do fim do Ministério do Esporte em 2019, dos
cortes de mais de 36% de verba previstos no Projeto de Lei Orçamentária Anual
(Ploa) de 2023 para o seguimento, redução do Bolsa Atleta, os 700 mil mortos em
decorrência da pandemia da Covid-19, mais de 33 milhões de famintos e diversos
outros fatores que marcam o Governo Bolsonaro, Neymar fez questão de declarar
seu voto e apoio ao atual presidente. Não suficiente, o menino da vila se
engajou na campanha para reeleição de Bolsonaro e chegou a prometer que
festejaria gols na copa com símbolos que representam os números do presidente.
Assim, sendo a personalidade mais midiática da seleção, é justo dizer que
Neymar carrega a culpa pela dificuldade ainda maior da despolitização e repulsa
ao uniforme do Brasil.
Não é necessário ser um expert em futebol para
afirmar que Neymar é um dos maiores jogadores da atualidade. Seu voto não
atravessa seu desempenho maestral em campo, mas vale lembrar que eleição não é
a única razão para o jogador carregar esse asco vindo dos torcedores, aliás, o
menino Ney não gera antipatia somente de torcedores brasileiros. Comportamento
egoísta ou agressivo com técnicos, árbitros, outros jogadores e até torcedores
marcaram a sua carreira também. Sem falar todas as polêmicas fora de campo.
Com isso, entendo que entre
ser ovacionado na copa, por causa do seu talento, apesar das eleições; ou ser
criticado na copa, apesar do seu talento, por causa das eleições, a segunda
opção me parece mais justa. Se
Neymar Jr. prefere homenagear Jair Bolsonaro após um gol durante um jogo na
copa, é natural que parte dos torcedores prefira ver somente um jogador como
Richarlison, defensor de pautas científicas, sociais e ambientais, brilhando em
campo. É inegável a importância de Neymar para a seleção, porém é fundamental
que o povo tenha memória, mesmo que isso incomode aos muitos que o amam.
Então, nada melhor para o Brasil que o menino Ney se
recupere bem, volte a jogar o mais rápido possível, nos ajude a conquistar o
hexa e continue sendo duramente criticado pelos seus posicionamentos
irresponsáveis nas eleições.
Por Marcos Souza, estudante de Jornalismo e militante do MAB
na Bahia.
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