Assim como a família e a
religião, a escola também contribui para a formação do ser humano,
principalmente das crianças e adolescentes. Em Petrolina, o colégio Dom Bosco,
fundado no dia 18 de Outubro de 1926, teve grande influência nas relações
sociais e políticas, sendo crucial no desenvolvimento da estrutura educacional
da cidade.
A professora e mestra pelo programa de Pós-graduação Mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos(PPGESA), pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Rozângela Pereira do Nascimento, desenvolveu estudo sobre a trajetória histórica do colégio Dom Bosco na cidade de Petrolina e investigou a influência das relações sociais e políticas presentes no processo de criação, fundação e desenvolvimento do colégio, principalmente o protagonismo de Dom Malan, bispo de Petrolina.
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Professora Rozângela do Nascimento Pereira, defendeu dissertação sobre o colégio |
Nessa entrevista, concedida
para Lucenildo Junior e Kayky Alexandre, da Agência MultiCiência, Rozângela
comenta sobre o processo de criação do colégio, sua estrutura de ensino e como
ela influenciou o desenvolvimento educacional da cidade de Petrolina.
MultiCiência: Como era o sistema educacional de Petrolina antes do surgimento do colégio
Dom Bosco?
Rozângela do Nascimento: Era um sistema bem primitivo, bem
iniciante, o que muito me encanta pela minha fontes, o jornal O Pharol (quando se referir a colégio
coloca itálico), um dos primeiros jornais da região, que foi uma fonte da pesquisa.
As escolas eram em casas, havia uma seleção que era feita na capital e a partir
daí se ganhavam as cadeiras, as vagas eram cadeiras. Não existia divisão por
ano ou série, e como não tinham escolas estruturadas, o ensino era nas casas
das próprias professoras. Depois foi alugado pela prefeitura, havia pequenos
estabelecimentos sem estrutura que serviam como escola e eram chamados de
grupos "reunidos", cada sala era como se fosse uma série.
MultiCiência: A senhora citou o O Pharol
como fonte importante de pesquisa, poderia falar o que era e como era esse
jornal e o porquê de sua importância:
Rozângela do Nascimento: O Pharol
era um jornal que surgiu em 1916, ele foi um dos primeiros jornais de importância
em Petrolina, abordando de todos os assuntos, sendo a ponte da região de
Petrolina com as outras regiões. Ele era um jornal muito crítico e bastante
político, abordava também sobre a educação e noticiava a população sobre
acontecimentos de Petrolina e Juazeiro. Era um jornal de imensa credibilidade.
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Sede do jornal O Pharol, do jornalista João Ferreira Gomes |
MultiCiência: Até que ano o Pharol continuou funcionando?
Rozângela do Nascimento: Se
não me engano, ele continuou até 1983-84, ele durou bastante tempo, porque Seu
Joãozinho, dono do jornal, faleceu, mas seu filho continuou com o jornal no seu
lugar.
MultiCiência: Como se deu o surgimento do colégio Dom Bosco em Petrolina:
Rozângela do Nascimento:
Ele foi inaugurado em 1926, em Petrolina, juntamente com o Maria Auxiliadora,
ambos iniciativa de Dom Antônio Maria Malan, nosso primeiro bispo, vindo do Sul
do Mato Grosso. Assim que ele chegou,
percebeu que Petrolina era uma cidade muito isolada. Muitos professores
passaram em concursos e não vinham porque era inviável, antigamente as escolas
não eram mistas, eram separadas entre meninos e meninas. Dom Malan viu que existiam
muitos fazendeiros ricos e que seus filhos estudavam fora, porque não existia
estrutura para colégios, nem mesmo Juazeiro possuía essa estrutura, então ele
resolveu trazer duas escolas confessionais que dessem subsídio para essas
pessoas.
MultiCiência: Oque representou a figura do Bispo Dom Malan para a história do colégio Dom Bosco?
Rozângela do Nascimento: O
Dom Malan tem uma importância imensa em Petrolina e em toda região, mas para o
Dom Bosco ele foi o grande fundador, ele era um cara muito visionário, ele via
o desenvolvimento a partir da educação, ele movimentou e trouxe o progresso pela via da educação.
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MultiCiência:Quais fatores sociais/políticos mais
afetaram o surgimento do colégio Dom Bosco:
Rozângela do Nascimento:
Quando Dom Malan começa a trazer a ideia da escola, as pessoas começaram a
duvidar dessa ideia, muitas mandavam seus filhos para estudar no exterior.
Porém, Dom Malan possuía bastante credibilidade, devido a sua postura brilhante
e a sua imensa movimentação em Petrolina. Nos sete anos em que esteve aqui, ele movimentou tudo que podia em
Petrolina. Um dos apoios que recebeu
veio do jornal O Pharol, que usou
muito da propaganda e da comoção geral para promover a ideia de Dom Malan. Na
política ele também possuía o apoio do prefeito Pacifico da Luz, seu amigo e
das demais autoridades.
MultiCiência: Como foram os anos iniciais do colégio Dom Bosco:
Rozângela do Nascimento:
Ele começa muito pequeno, no palácio do Bispo, onde se formou o primeiro grupo
escolar, depois eles migram para o seminário Seu José da Igreja Católica. Aa
sua sede foi na rua Coronel Amorim,
localizada no Centro de Petrolina, terreno dado por Pacifico da Luz, quando o
Padre Manuel de Paiva Neto toma posse e resolve construir essa sede. As
estruturas do colégio eram muito modernas para época, então o Dom Bosco se
tornou um das maiores escolas de Pernambuco, chegando a ganhar prêmios.
Multiciência: A senhora pode dizer algum dos prémios que o Dom Bosco ganhou?
Rozângela do Nascimento:
Ele ganhou um prêmio de escola excelência no ensino, em 1970.
MultiCiência: A senhora pode destacar um diretor que foi muito importante na história do colégio:
Rozângela do Nascimento:
Padre Manoel de Paiva Netto, pois ele ficou mais de 30 anos no colégio. Ele foi
desde o início até a posse da Professora Terezinha Teixeira. Foi ele quem
construiu a sede do colégio, ele que faz toda a movimentação da escola, as
modernizações. Ele praticamente fica na gestão da escola até a morte, ele sai
justamente por estar doente.
MultiCiência:Houve algum fator que atrapalhou na trajetória do colégio?
Rozângela do Nascimento: Quando o colégio é inaugurado e começa a
funcionar, Dom Malan viajou para o Rio de Janeiro para a inauguração do Cristo
Redentor. Ele infelizmente possuía uma saúde muito frágil e lá ele acaba
contraindo pneumonia, vindo a falecer em 1932. Com sua morte, o colégio ficou
fechado por quase dois anos, gerando uma comoção geral. Com a morte de Dom Malan, foi como tivesse
morrido também a esperança. Ele era a alma do colégio Dom Bosco. O colégio só reabriu quando Padre Anjinho entrou como Bispo
e convidou Padre Manoel de Paiva Neto para ser diretor.
MultiCiência: Durante esses quase dois anos que o colégio ficou fechado, como ficou Petrolina sem o colégio Dom Bosco?
Rozângela do Nascimento:
Não tivemos como recolher muita informação sobre isso, mas a gente entendeu que
houve uma grande comoção em Petrolina. Parecia que todo mundo estivess desanimado,
tanto que saiu no Jornal O Pharol dizendo: “O'Que será de nós? E agora o que
irá acontecer?” Então, eles ficaram sem ter o que fazer, foi uma notícia que
chegou de surpresa, mas depois algumas freiras do colégio Maria Auxiliadora
retomaram o colégio e ficaram lá de início até a chegada do novo diretor, que
foi Paiva Neto.
MultiCiência: Como o colégio Dom Bosco contribuiu para o desenvolvimento de Petrolina?
Rozângela do Nascimento: De
acordo com a minha pesquisa, as escolas tiveram crucial importância no
desenvolvimento, apesar de ser um colégio pago apenas para a elite. Mas na
época as escolas traziam um movimento econômico, Petrolina foi obrigada a ter
estrutura para acolher as pessoas que mandavam seus filhos estudarem. As
próprias famílias de outras regiões viriam para Petrolina, comprando casas e
movimentando a economia. Isso se deve não só ao Dom Bosco mas também ao Maria
Auxiliadora, com quem eles mantinham uma parceria.
Por Lucenildo Junior e Kayky Alexandre, alunos de Jornalismo em Multimeios