Colégio Dom Bosco: a contribuição de Dom Malan para a criação da instituição educacional

MultiCiência 22 dezembro 2022

Assim como a família e a religião, a escola também contribui para a formação do ser humano, principalmente das crianças e adolescentes. Em Petrolina, o colégio Dom Bosco, fundado no dia 18 de Outubro de 1926, teve grande influência nas relações sociais e políticas, sendo crucial no desenvolvimento da estrutura educacional da cidade.

A professora e mestra pelo programa de Pós-graduação Mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos(PPGESA), pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Rozângela Pereira do Nascimento, desenvolveu estudo sobre a trajetória histórica do colégio Dom Bosco na cidade de Petrolina e investigou a influência das relações sociais e políticas presentes no processo de criação, fundação e desenvolvimento do colégio, principalmente o protagonismo de Dom Malan, bispo de Petrolina.


Professora Rozângela do Nascimento Pereira, defendeu dissertação sobre o colégio


Nessa entrevista, concedida para Lucenildo Junior e Kayky Alexandre, da Agência MultiCiência, Rozângela comenta sobre o processo de criação do colégio, sua estrutura de ensino e como ela influenciou o desenvolvimento educacional da cidade de Petrolina.

MultiCiência: Como era o sistema educacional de Petrolina antes do surgimento do colégio Dom Bosco?

Rozângela do Nascimento: Era um sistema bem primitivo, bem iniciante, o que muito me encanta pela minha fontes, o jornal O Pharol (quando se referir a colégio coloca itálico), um dos primeiros jornais da região, que foi uma fonte da pesquisa. As escolas eram em casas, havia uma seleção que era feita na capital e a partir daí se ganhavam as cadeiras, as vagas eram cadeiras. Não existia divisão por ano ou série, e como não tinham escolas estruturadas, o ensino era nas casas das próprias professoras. Depois foi alugado pela prefeitura, havia pequenos estabelecimentos sem estrutura que serviam como escola e eram chamados de grupos "reunidos", cada sala era como se fosse uma série.

 

MultiCiência: A senhora citou o  O Pharol como fonte importante de pesquisa, poderia falar o que era e como era esse jornal e o porquê de sua importância:

Rozângela do Nascimento: O  Pharol era um jornal que surgiu em 1916, ele foi um dos primeiros jornais de importância em Petrolina, abordando de todos os assuntos, sendo a ponte da região de Petrolina com as outras regiões. Ele era um jornal muito crítico e bastante político, abordava também sobre a educação e noticiava a população sobre acontecimentos de Petrolina e Juazeiro. Era um jornal de imensa credibilidade.

Sede do jornal O Pharol, do jornalista João Ferreira Gomes 

MultiCiência: Até que ano o Pharol continuou funcionando?

Rozângela do Nascimento: Se não me engano, ele continuou até 1983-84, ele durou bastante tempo, porque Seu Joãozinho, dono do jornal, faleceu, mas seu filho continuou com o jornal no seu lugar.

 

MultiCiência: Como se deu o surgimento do colégio Dom Bosco em Petrolina:

Rozângela do Nascimento: Ele foi inaugurado em 1926, em Petrolina, juntamente com o Maria Auxiliadora, ambos iniciativa de Dom Antônio Maria Malan, nosso primeiro bispo, vindo do Sul do Mato Grosso. Assim que ele chegou, percebeu que Petrolina era uma cidade muito isolada. Muitos professores passaram em concursos e não vinham porque era inviável, antigamente as escolas não eram mistas, eram separadas entre meninos e meninas. Dom Malan viu que existiam muitos fazendeiros ricos e que seus filhos estudavam fora, porque não existia estrutura para colégios, nem mesmo Juazeiro possuía essa estrutura, então ele resolveu trazer duas escolas confessionais que dessem subsídio para essas pessoas.

MultiCiência: Oque representou a figura do Bispo Dom Malan para a história do colégio Dom Bosco?

Rozângela do Nascimento: O Dom Malan tem uma importância imensa em Petrolina e em toda região, mas para o Dom Bosco ele foi o grande fundador, ele era um cara muito visionário, ele via o desenvolvimento a partir da educação, ele movimentou  e trouxe o progresso pela via da educação.

Bispo Dom Antônio Maria Malan (1862-1931) / Padre Manoel de Paiva Netto (1906-1980)


MultiCiência:Quais fatores sociais/políticos mais afetaram o surgimento do colégio Dom Bosco:

Rozângela do Nascimento: Quando Dom Malan começa a trazer a ideia da escola, as pessoas começaram a duvidar dessa ideia, muitas mandavam seus filhos para estudar no exterior. Porém, Dom Malan possuía bastante credibilidade, devido a sua postura brilhante e a sua imensa movimentação em Petrolina. Nos sete anos em que  esteve aqui, ele movimentou tudo que podia em Petrolina. Um dos  apoios que recebeu veio do jornal O Pharol, que usou muito da propaganda e da comoção geral para promover a ideia de Dom Malan. Na política ele também possuía o apoio do prefeito Pacifico da Luz, seu amigo e das demais autoridades.

MultiCiência: Como foram os anos iniciais do colégio Dom Bosco:

Rozângela do Nascimento: Ele começa muito pequeno, no palácio do Bispo, onde se formou o primeiro grupo escolar, depois eles migram para o seminário Seu José da Igreja Católica. Aa sua sede foi  na rua Coronel Amorim, localizada no Centro de Petrolina, terreno dado por Pacifico da Luz, quando o Padre Manuel de Paiva Neto toma posse e resolve construir essa sede. As estruturas do colégio eram muito modernas para época, então o Dom Bosco se tornou um das maiores escolas de Pernambuco, chegando a ganhar prêmios.

Multiciência: A senhora pode dizer algum dos prémios que o Dom Bosco ganhou?

Rozângela do Nascimento: Ele ganhou um prêmio de escola excelência no ensino, em 1970.

MultiCiência: A senhora pode destacar um diretor que foi muito importante na história do colégio:

Rozângela do Nascimento: Padre Manoel de Paiva Netto, pois ele ficou mais de 30 anos no colégio. Ele foi desde o início até a posse da Professora Terezinha Teixeira. Foi ele quem construiu a sede do colégio, ele que faz toda a movimentação da escola, as modernizações. Ele praticamente fica na gestão da escola até a morte, ele sai justamente por estar doente.

MultiCiência:Houve algum fator que atrapalhou na trajetória do colégio?

Rozângela do Nascimento:  Quando o colégio é inaugurado e começa a funcionar, Dom Malan viajou para o Rio de Janeiro para a inauguração do Cristo Redentor. Ele infelizmente possuía uma saúde muito frágil e lá ele acaba contraindo pneumonia, vindo a falecer em 1932. Com sua morte, o colégio ficou fechado por quase dois anos, gerando uma comoção geral.  Com a morte de Dom Malan, foi como tivesse morrido também a esperança. Ele era a alma do colégio Dom Bosco. O colégio só  reabriu quando Padre Anjinho entrou como Bispo e convidou Padre Manoel de Paiva Neto para ser diretor.

MultiCiência: Durante esses quase dois anos que o colégio ficou fechado, como ficou Petrolina sem o colégio Dom Bosco?

Rozângela do Nascimento: Não tivemos como recolher muita informação sobre isso, mas a gente entendeu que houve uma grande comoção em Petrolina. Parecia que todo mundo estivess desanimado, tanto que saiu no Jornal O Pharol dizendo: “O'Que será de nós? E agora o que irá acontecer?” Então, eles ficaram sem ter o que fazer, foi uma notícia que chegou de surpresa, mas depois algumas freiras do colégio Maria Auxiliadora retomaram o colégio e ficaram lá de início até a chegada do novo diretor, que foi Paiva Neto.

MultiCiência: Como o colégio Dom Bosco contribuiu para o desenvolvimento de Petrolina?

Rozângela do Nascimento: De acordo com a minha pesquisa, as escolas tiveram crucial importância no desenvolvimento, apesar de ser um colégio pago apenas para a elite. Mas na época as escolas traziam um movimento econômico, Petrolina foi obrigada a ter estrutura para acolher as pessoas que mandavam seus filhos estudarem. As próprias famílias de outras regiões viriam para Petrolina, comprando casas e movimentando a economia. Isso se deve não só ao Dom Bosco mas também ao Maria Auxiliadora, com quem eles mantinham uma parceria.

Por Lucenildo Junior e Kayky Alexandre, alunos de Jornalismo em Multimeios