Após a pandemia da Covid-19, o número de pessoas que pediam comida em casa teve um crescimento considerável, da mesma forma ocorreu com a quantidade de entregadores, sobretudo os ciclistas. Além dos poucos direitos oferecidos pelas empresas contratantes, os ciclistas entregadores sofrem com possíveis acidentes de trânsito e com a falta de estruturas adequadas para transitar normalmente pelas vias.
Por conta dos inúmeros problemas de trânsito que existem no território nacional, a rotina habitual de um ciclista é rodeada por desafios, como a imprudência de alguns motoristas nas estradas e a falta de rodovias que contemplem a realidade do ciclista. Entretanto, mesmo com tantas dificuldades, isso nunca impediu que alguns utilizassem a bike para além do esporte, mas também como uma ferramenta de trabalho.
 |
| Foto: Maria Eduarda Moret |
O ciclista entregador João Gomes da Silva sofreu um atropelamento no ano passado: “fiquei sem trabalhar, fiquei sem fazer dinheiro”. Assim como João Gomes, o ciclista, Jeferson Daniel, também relata dificuldades na rotina ao ser perguntado sobre os riscos que o ciclista entregador passa diariamente: “é uma profissão um pouco arriscada. Existem muitas pessoas irresponsáveis no trânsito e alguns carros e motos não dão seta”.
Mesmo a bicicleta tendo sido eleita pela ONU como o meio de transporte mais sustentável do planeta em 2019, ainda existem muitas controvérsias acerca de seu uso, principalmente se a motivação principal for locomoção no dia-a-dia do trabalhador. O ciclista Leonardo Braga, demonstra a sua preocupação com o trânsito da cidade, “Mesmo não tendo tanta correria na cidade, o trânsito nunca é bom pra quem é ciclista”.
A falta de infraestrutura adequada na cidade de Juazeiro não é o único problema que os ciclistas entregadores precisam enfrentar em suas rotinas. Para muitos entregadores as condições trabalhistas das empresas contratantes é um grande fator de estresse e desmotivação, no entanto a necessidade de gerar uma renda faz com que eles permaneçam nessa rotina perigosa e cansativa.
Apesar da bicicleta ser a melhor opção para o meio ambiente e para o indivíduo, os ciclistas, entregadores de aplicativos, ainda encontram várias dificuldades em seu cotidiano, seja na infraestrutura do município ou no método de trabalho imposto pelas empresas contratantes. Com isso, a necessidade de estruturas que contemplem todos os tipos de mobilidade, inclusive o ciclismo, se mostra urgente para o dia-a-dia não só dos entregadores de aplicativo, mas para a comunidade ciclística.
HUBD3CH
Essa matéria foi criada pelo projeto de pesquisa e extensão Ecossistema de Inovação (HubD3ch) em parceria com a Agência MultiCiência, sendo a terceira da série sobre Mobilidade Sustentável. Além dos resultados da pesquisa, serão apresentados dados locais, depoimentos e reportagens acerca do tema.
Coordenado pelo professor Cecilio Bastos, o projeto de extensão procura levantar a discussão e fomentar o conhecimento sobre as formas e os desafios de se locomover de maneira sustentável no município de Juazeiro (BA).
Ao compreender a urgência da discussão de pautas ambientais e saber a importância do lugar do ciclista no meio urbano, o projeto visa estimular o levantamento de pautas acerca do direito de uma locomoção adequada para ciclistas ao unir o uso de tecnologias digitais com ciclomobilidade.
Por Maria Eduarda Moret, bolsista de iniciação à extensão do HubD3ch, e Julia Gabriela, monitora voluntária do HubD3ch.
