Economia decolonial deve discutir os impactos da expansão dos projetos eólicos e mineradoras

Multiciência 23 outubro 2023
A economia decolonial deve estar alinhada como forma de resistência contra a expansão do capitalismo, que arranja novas formas de explorar a natureza, como vem ocorrendo com a implantação dos  complexos eólicos e mineradoras no território Sertão São Francisco e Piemonte Norte do Itapicuru.

A temática foi discutida na mesa-redonda Práticas do Porvir - Economia Decolonial e Natureza, na última sexta-feira (20), durante o XII Workshop Nacional e III Internacional de Educação para Convivência com o Semiárido Brasileiro (WecSab), no Departamento de Ciências Humanas, na Universidade do Estado da Bahia, campus Juazeiro. 

Da esquerda para a direita: Marten Mouha Deva (Prout Universal MG), Juracy Marques dos Santos (UNEB),
Gislane Moreira Gomes (UNEB) e João José (UNEB). Foto:Nicole Muniz

A mesa teve a presença dos professores da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Gislene Moreira, Juracy Marques e Marden Deva, representante da Prout Universal MG sob mediação do professor João José Borges. Os pesquisadores trouxeram estudos que alertam sobre os impactos proporcionados pela expansão do capitalismo e como as comunidades têm atuado na defesa do semiárido brasileiro.

Gislene Moreira fez uma aula espetáculo sobre a história, invenções e
narrativas criadas sobre o Nordeste. Foto:Nicole Muniz

Gislene Moreira defendeu a necessidade de negar os imaginários criados para a transição energética que, apesar de ter o discurso de produzir energia renovável, segue o princípio da economia capitalista, de manter o acúmulo de riquezas, o que pode significar uma neocolonização: “É uma luta constante por imaginários, precisamos destruir os que nos impuseram, e criar outros possíveis para essa transição”, afirma. Para ela, é preciso questionar as energias tidas como limpas e sustentáveis: “E quem disse que a eólica é um modelo sustentável? O projeto envolve muitas coisas, não somente a questão da morte das aves, mas também problemas sociais”. 

Aurilene Rodrigues (Colegiado de Pedagogia) também participou da discussão.

Para Juracy, membro do Movimento Salve as Serras – coletivo que atua em defesa das serras, especificamente na região de Jaguarari (BA) e território Sertão São Francisco, onde se encontram importantes nascentes de rios brasileiros como o Itapicuru, o Salitre, o São Francisco –, é preciso nos atentarmos para as ‘antigas’ e novas formas de exploração das riquezas naturais, especificamente o discurso capitalista que coloca o semiárido como atrasado e carente de desenvolvimento: “O modelo de desenvolvimento é o mesmo, a biodiversidade do semiárido não tem lugar, mas agora estamos diante de uma nova onda destrutiva, em que não é mais a água o alvo, e sim o vento, as serras; agora são as fazendas de sol e engenhos de vento; é o ecocídio realizado pelas mineradoras e eólicas”, aponta. 

Estudantes e comunidade externa 
Foto:Nicole Muniz

Ainda segundo o pesquisador, não cabe à universidade fechar os olhos para o território, para o que está acontecendo: “Chegou a hora da universidade olhar para o terreiro. Enquanto os violinos tocam, as florestas queimam”, orienta.

A programação do XII WecSab pode ser acompanhada no site do PPGESA

Texto por Ana Beatriz Menezes, estudante de Jornalismo em Multimeios, para Agência MultiCiênciaFoto: Alexandre José