Educação Indígena e Quilombola busca valorizar a cultura dos povos originários

Multiciência 20 outubro 2023

A educação diferenciada nas comunidades indígenas e quilombolas surge como uma forma de fortalecer a identidade dos povos originários diante das formas de apagamento. Pode também ser uma ferramenta pedagógica que proporciona empoderamento e facilita a compreensão sobre a história dos povos, além de valorizar a cultura local. A educação indígena e quilombola foi um dos temas no XII Workshop Nacional e III Internacional de Educação Contextualizada para Convivência com o Semiárido Brasileiro (WecSab), na Universidade do Estado da Bahia, campus Juazeiro, realizado na última quinta-feira (19/10).

Professoras Ceres Santos e Márcia Guena conduziram as discussões. Foto: Levi Varjão

Sob mediação das docentes Ceres Marisa Silva e Márcia Guena, a sessão temática buscou discutir, de forma contextualizada, a educação indígena e quilombola. Rosa Pitaguary, liderança indígena do Ceará, e a egressa do curso de pós- graduação lato sensu em Gestão e Educação Intercultural Indígena, Tayra Viera de Almeida, discutiram a importância e o impacto da educação especializada na realidade Indígena. 

A líder Rosa Pitaguary explicou o retrocesso enfrentado pelos povos originários, mediante a intolerância e discriminação que sofrem com a destituição dos direitos, referindo-se ao “massacre da caneta” que seria a perda dos direitos através dos governantes. Ela esclarece que a mudança para a reformulação da educação no Ceará se deu após atos discriminatórios dentro da sala de aula, citando a situação vivida por uma adolescente de sua aldeia. “A direção mandava que ela tirasse aqueles borrões do corpo, eles chamavam nossas pinturas como se fossem uns borrões,” relatou Pitaguary. Para evitar esse tipo de discriminação, ela afirma que o novo modelo de educação indígena propõe uma educação diferenciada, impactando os alunos com um fortalecimento da sua identidade indígena.

A líder Rosa Pitaguary participou da reunião por meios remotos.
Foto: Levi Varjão

Pesquisadora da Educação Intercultural Indígena, Tayra Viera relatou os percalços passados pelo seu povo. Para Tayra, em meio ao processo de extinção que os povos originários passavam, a educação especializada a fez reconhecer essa identidade como um instrumento de cidadania e de resistência. “A educação é plural, anti-racista e reforça a nossa identidade”, declarou. Tayra ressalta que é um processo de resistência e faz duras críticas ao Estado como a precarização dos salários e a desvalorização perante os demais professores da rede, além da falta de diálogo do poder público para com as lideranças locais. 

O professor Antônio Carvalho participou do debate
Foto: Levi Varjão

Após a exposição dos palestrantes, estudantes presentes que pertenciam ou se identificavam a alguma comunidade originária puderam expor suas considerações sobre a discussão. O estudante Flávio Freire, da etnia Trucá, relatou suas dificuldades em se identificar como indígena, por conta do estereótipo criado em cima dessa imagem, e cita o impacto causado pela educação indígena à ruptura do eurocentrismo, da imagem do colonizador do bem que é passado nas demais escolas, enquanto na especializada é vista a real situação, da invasão e tomada de direitos.


Os estudantes indígenas Flávio Freire e George Diaurum falam de
como sofrem estereótipos. Foto: Levi Varjão


Educação Quilombola

Na segunda parte da sessão temática, foi debatida a educação quilombola, com a participação de Ângela Maria dos Santos, discente do PPGExR da Univasf e Uilson Viana de Souza, egresso Ppgesa e coordenador do Fórum Permanente da Educação Escolar Quilombola na Bahia. 

A discente Angela Maria apresentou um vídeo a respeito das dificuldades do sistema educacional nas comunidades Quilombola de Mirandiba – PE, vivenciadas em 2019, como o transporte precário, a falta de investimento, além da ausência estrutura e profissionais e o impacto gerado no aprendizado dos alunos. A cobrança da população por melhorias era intensa para pressionar o poder público a chegada de melhorias. Angela comenta que as dificuldades vão além das visíveis no vídeo, chegando em suas palavras a situações desumanas, como casos de assédio, abusos e violências no geral. 

Foto: Levi Varjão 

O coordenador efetivo do fórum permanente da educação escolar quilombola na Bahia, Uilson Viana, relatou suas experiências e atividades realizadas em sua coordenação, a exemplo do Calendário temático escolar quilombola, que traz um dia especifico para tratar das questões do movimento quilombola e identidade local. Ele também demonstrou que o Fórum realiza visitas técnicas às escolas quilombolas para avaliar e compreender o impacto do material didático especializado nos alunos. 

Para acompanhar a discussão, a sessão temática foi transmitida online no canal do PPGESA no YouTube.


Texto por Gabriel Santiago, estudante de Jornalismo em Multimeios, para Agência MultiCiência.

Fotos: Levi Varjão