Práticas da mídia tradicional acarretam apagamentos à cultura interiorana

Multiciência 30 outubro 2023
A crítica sobre a produção e circulação dos bens culturais deve ser desenvolvida na perspectiva da política, pois deve-se ficar atento ao centrismo que busca localizar o fluxo da produção cultural em territórios centralizados. Assim, é preciso refletir que os artistas devem pensar a cultura a partir dos locais onde habitam. Com essa reflexão, a escritora e professora Daniela Galdino começou a palestra "Nem sempre somos a pauta: práticas artísticas re-existentes aos apagamentos da mídia", para discutir sobre como a mídia tradicional produz apagamentos da cultura. O debate aconteceu no Departamento de Ciências Humanas, UNEB-DCHIII, no dia 25, no auditório multimídia, mediado pelo professor Emanuel Andrade.

A professora Daniela Galdino falou como o centrismo ao redor das metrópoles provocam apagamento nas cidades interioranas.

Daniela ressalta de como os jornais impressos, na página 02, gostam mais de prestigiar movimentos artísticos de Salvador (BA), como se os outros territórios baianos não existissem histórias, peças de teatro para apresentar.

A conversa da escritora Daniela Galdino com os docentes e discentes do setor DCHIII rendeu diversas reflexões sobre a riqueza da cultura interiorana.

A escritora apresentou um trabalho de produção cultural por meio do site  "Profudanças", que tem como intuito prestigiar artistas, autoras e fotógrafas nordestinas independentes, além de dar espaço para esse setor artístico que resiste contra o apagamento da mídia tradicional.

Ainda foi debatido que o centrismo em referência às metrópoles é ainda mais forte ao ser alimentado pelas influências do Sul-sudeste. Como consequência, ocorrem apagamentos e deturpações na visão do interiorano perante a cultura do seu cotidiano acontece.

Daniela Galdino está lançando o livro Espaço Visceral (Ed. Segundo Selo), onde mostra suas poesias eróticas

"Se a gente pegar o famoso caderno dois ou caderno cultural, que está entrando em extinção, cada vez mais as colunas culturais ou os programas e quadros de divulgação cultural desses canais tem uma concentração de divulgação daquilo que passa por Salvador", diz a escritora.

O professor da UNEB Emanuel Andrade foi o mediador da palestra

Para abordar as práticas de resistência na cultura, Daniela contou a história da Dona Celeste, uma baiana de acarajé que, aos doze anos, era explorada em uma casa como empregada doméstica. Dona Celeste queria fazer o supletivo, mas a patroa além de não pagar, proibia. "Ela rasgou os poemas de Celeste para ela parar de ir pra escola e focar no trabalho, e Celeste decidiu escrever mais poemas. Dona Celeste, hoje, vai participar de igual pra igual de mesas literárias e ela fala pra gente sobre o seu processo de criação poética", conclui Daniela.

Texto de Tulio de Oliveira para o Multiciência