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arquivo pessoal de Aléxia Viana
Alexia Viana, egressa do curso de Jornalismo em Multimeios da UNEB, exibe o documentário “Uma herança de Barro” no I Festival de Documentários Cine Proa. Ela define o projeto com caráter memorial, que narra a história da produção de carrancas através do afeto, da madeira ao barro. Ao ser questionada sobre o que diria aos que estão começando a produzir conteúdos audiovisuais, Alexia destacou a importância de ter uma conexão genuína com o tema. "Produzir não é fácil, especialmente quando se trata de escrever o roteiro e encontrar fontes dispostas a colaborar", explica.
A jornalista pontua sobre esse trabalho ter significado especial, o material foi produzido em homenagem a uma amiga que faleceu, Gabriela Caboclo, também aluna de Jornalismo em Multimeios, além de parceiras na graduação e na vida, também tinha o audiovisual como um amor em comum. Para ela, escolher um assunto pelo qual se tem verdadeira paixão é essencial para superar os desafios da produção. Afirma que vê a projeção do documentário como uma forma de honrar essa amizade e o trabalho que iniciaram juntas.
O Cine Proa apresentou curtas-metragens e médias metragens de forma gratuita, além de promover diálogos e atividades de formação. O evento ocorreu nas cidades de Orocó e Petrolina, no território do Sertão do São Francisco em Pernambuco, o espaço tornou-se de partilha para uma amostra de talento e criatividade de produtores audiovisuais.
A programação foi dividida entre exibições no Cine Teatro Massangano, no bairro Rio Corrente, e no formato de cinema de rua, no espaço cultura Janela 353, no Centro, ambos em Petrolina (PE). Na última semana, o Cine Proa contou com uma oficina de vídeo ensaio sobre documentário com parceria com o projeto Fri(c)ções ministrado por Márcio Andrade e Gabriel Coelho. E foi finalizada com uma exibição em uma comunidade quilombola Mata de São João, em Orocó (PE).
Foto: Aléxia Viana
Foto: Guilherme Passos
Ao idealizar o Cine Proa, Fernando quis destacar essa linguagem cinematográfica como forma de contar a história dos brasileiros, especialmente do povo pernambucano. "A mostra vem para marcar esse lugar, esse território", explica, ressaltando que o Festival, apesar de carregar o nome "Sertão", tem um alcance estadual, com filmes de Exu (PE) e Caruaru (PE), por exemplo.
A importância de festivais como o Cine Proa foi destacada por Felipe Kalahary, estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e espectador da mostra. "Eu acho muito importante a formação de espaços como esse, em que esses documentários dão voz as pessoas que muitas vezes não são ouvidas", afirma. Ele reflete sobre a necessidade de visibilizar as narrativas de populações periféricas e a presença desse público em momentos culturais.
O projeto surgiu em resposta ao aumento da produção audiovisual na região após a pandemia, impulsionado pelas leis de incentivo cultural. "A gente viu que o pessoal estava produzindo muito, não só documentários, mas curtas e longas-metragens", explica Camila Rodrigues, uma das produtoras do Festival. Camila narra sobre a importância do documentário como registro histórico. "Aqui na região a gente não tem nenhum festival voltado só para essa linguagem", aponta.
Essa visão é compartilhada pelo artista GG do Apocalipse, rapper e empreendedor, também participou do documentário “Arte Além das Fronteiras: Coletivo Ruas,” dirigido por José Charger. GG destacou a relevância de ter espaços para que artistas da periferia, como ele, possam se expressar e expor suas realidades. "É uma parada que a gente precisa muito ser ouvido".
O documentário aborda a cultura do hip hop no Vale do São Francisco e as dificuldades enfrentadas pelos artistas locais. "Por vezes, eu me emocionei assistindo a minha galera falar das mazelas da sociedade, tudo que elas nos corrompem", confessa GG, ressaltando os preconceitos que os artistas enfrentam ao espalhar sua arte.
O Cine Proa, o evento que ocorreu entre os dias 9 e de outubro, exerceu um papel fundamental no fortalecimento da cena audiovisual do Sertão de Pernambuco, servindo como momento, fomento e incentivo para que mais histórias locais sejam propagadas, abrindo novas possibilidades para artistas, diretores, produtores e profissionais do audiovisual. O festival preenche uma lacuna no cenário cultural local.
Por Meiwa Magalhães, estudante de Jornalismo em Multimeios e colaboradora do MultiCiência.