Do forno à feira: mãe e filha encontram na economia solidária a autonomia financeira com a produção de pães

MultiCiência 06 novembro 2025
Feira Territorial do Cesol reúne empreendimentos dos dez municípios do Sertão do São Francisco e mostra como a economia solidária transforma vidas e territórios

Foto: arquivo Cesol Sertão do São Francisco

Da direita para esquerda (Maria Helena Carvalho, Rayssa Carvalho e a agente de vendas 

do Apê do Pão nas feiras).


Entre fornadas de crostini e risadas que se misturam ao cheiro de pão fresco, mãe e filha se tornaram empreendedoras solidárias. O negócio “Apê do Pão” nasceu de forma modesta, no meio da pandemia, quando Rayssa Carvalho começou a produzir pães artesanais para ajudar nos custos da faculdade. A mãe, Maria Helena Carvalho, tinha outra profissão, mas em janeiro deste ano se uniu à filha e, pouco tempo depois, passou a se dedicar integralmente ao empreendimento. O que era uma renda extra se transformou em projeto de vida.

“Antes era só um hobby, algo pequeno. Hoje é profissional. Minha mãe saiu do antigo trabalho e está 100% dedicada ao Apê do Pão. E, isso, só foi possível por causa da rede de apoio do Cesol, que nos ajudou a crescer e acreditar no nosso potencial.” afirma Rayssa.
Foto: arquivo Cesol Sertão do São Francisco

Para Rayssa e sua mãe Maria, participar da Feira Territorial do Centros Públicos de Economia Solidária (Cesol) do Sertão do São Francisco é mais do que vender produtos, é se reconhecer como parte de uma rede de afeto, aprendizado e cooperação. Elas, que já participaram de diversas feiras promovidas pela instituição e consideram esse como um espaço fundamental para o crescimento do negócio e para o fortalecimento das relações entre os empreendimentos solidários do território.
Foto: arquivo Apê do Pão

“Cada feira é uma nova oportunidade. A gente trabalha com delivery e a divulgação é muito no boca a boca, mas esses eventos nos dão visibilidade, abrem portas e nos ajudam a alcançar novos clientes. A gente sempre troca muito com os colegas. Já aconteceu de a gente oferecer o nosso crostini junto com a geleia de outro empreendimento. Um ajuda o outro, e isso é o mais bonito na economia solidária: ninguém cresce sozinho.”, destacam as empreendedoras solidárias.  

Nesta edição da Feira Territorial, o Apê do Pão lança um novo sabor de crostini, parmesão com orégano, mantendo o mesmo ingrediente essencial que acompanha a trajetória do empreendimento desde o início: o trabalho compartilhado e o amor pelo que se faz. Entre pães, memórias e afetos, a história de Maria Helena e Rayssa se entrelaça à de muitas mulheres que encontraram na economia solidária uma forma de gerar renda, fortalecer vínculos e reafirmar o valor da produção local no Sertão do São Francisco.

Economia solidária e o sabor do trabalho coletivo

No território do Sertão do São Francisco, a economia de empreendimentos como o de Rayssa e sua mãe contam com o apoio dos Centros Públicos de Economia Solidária (Cesol), que são espaços multifuncionais criados pela Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) em parceria com a sociedade civil organizada. Eles oferecem assistência técnica gratuita, ajudando empreendimentos a aprimorar gestão, qualificar produção, desenvolver embalagens e estratégias de marketing e acessar novos mercados.

Atualmente, a Bahia conta com 17 centros públicos em diferentes territórios de identidade. O Cesol Sertão do São Francisco, com sede em Juazeiro e gestão da Associação de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável e Solidário do Estado da Bahia (Adesba), presta assistência a 96 empreendimentos de economia solidária e agricultura familiar na região. De acordo com a Setre, a economia solidária movimentou quase R$ 60 milhões na Bahia entre 2023 e abril de 2025, impulsionando cerca de 1.900 empreendimentos e gerando renda para mais de 75 mil pessoas em todo o estado.

Com o apoio técnico do Cesol, o Apê do Pão passou a se profissionalizar. A equipe ajudou desde o cálculo de custos até a divulgação digital, e o resultado foi o aumento da produção e a chegada dos produtos a novos mercados, inclusive à loja da Rede em Salvador.

“O Cesol nos ensinou a precificar, a rotular, a apresentar melhor nossos produtos. Hoje, o crostini que nasceu na cozinha de casa está sendo vendido fora de Juazeiro. É um sonho que a gente não imaginava tão próximo”, diz Rayssa Carvalho.

Feira Territorial: vitrine da produção e da coletividade
Foto: arquivo Cesol Sertão do São Francisco


A Feira Territorial do Cesol Sertão do São Francisco é um espaço de comercialização e também de troca de saberes, formação e reconhecimento do trabalho coletivo. Durante o evento, acontecem rodas de conversa, plenárias e apresentações culturais que reforçam o compromisso com o desenvolvimento sustentável e o consumo consciente.
Foto: arquivo Cesol Sertão do São Francisco

O evento é promovido pelo Cesol Sertão do São Francisco, acontece em Juazeiro e reúne 70 expositores de dez municípios, como Campo Alegre de Lourdes, Remanso, Casa Nova, Curaçá, Canudos, Uauá, Sobradinho, Sento Sé, Pilão Arcado, com uma diversidade de produtos que refletem a riqueza produtiva e cultural do território semiárido: doces, queijos, licores, artesanatos e alimentos agroecológicos
Foto: arquivo Cesol Sertão do São Francisco

A Feira Territorial de Economia Solidária do Sertão do São Francisco acontece nos dias 7 e 8 de novembro de 2025, das 16h às 22h, na Orla II de Juazeiro. Reunindo 70 empreendimentos de 10 municípios do território, contando com , o evento é promovido pelo Cesol Sertão do São Francisco, em parceria com a Setre e a Adesba. Durante o evento, acontecerão apresentações culturais que reforçam o compromisso com o desenvolvimento sustentável e o consumo consciente, entre outras atividades. 

Mais do que uma vitrine para a comercialização de produtos, a feira se consolida como um espaço de fortalecimento das redes locais e de valorização das iniciativas que fazem da economia solidária um instrumento de transformação e autonomia no semiárido baiano.

SERTRE

Fonte: https://www.ba.gov.br/trabalho/noticias/2025-05/5926/economia-solidaria-na-bahia-tem-injecao-de-r-60-milhoes-em-tres-anos


Por Meiwa Magalhães, estudante de Jornalismo em Multimeios e colaboradora do Multiciência.