Do Semiárido baiano para o espaço: conheça o projeto Cactus Rockets Design

MultiCiência 22 dezembro 2025

Foto: Arquivo do Cactus Rockets Design

O foguetemodelismo pode ser um hobby ou mesmo uma prática educacional, que envolve conceitos de física, química e mecânica das áreas de engenharias que são aplicadas na produção de motores experimentais que são inseridos em miniaturas de foguetes produzidos com diversos materiais como papelão, plástico, madeira, e ao final são lançados de variadas altitudes. No norte baiano, estes experimentos ganham espaço através do projeto de extensão Cactus Rockets Design (CRD), da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), que explora a ciência e a engenharia espacial.


Fundado em 2019, a ideia nasceu a partir de uma aula prática de Introdução à Engenharia Mecânica, onde os calouros tiveram a oportunidade de conhecer o projeto FSAE Carcará (Fórmula Society of Automotive Engineers) que desenvolve protótipos de carros de alto desempenho, semelhantes aos de fórmula 1, essa visita despertou nos estudantes a vontade de desenvolver um novo projeto. “Ficamos entusiasmados com os carros de fórmula 1 desenvolvidos por nossos veteranos e surgiu em nossa turma a vontade de realizar experimentos também. Um dos fundadores se apaixonou pelo foguetemodelismo, que se tornou o primeiro projeto de foguete da Univasf e um dos primeiros aqui do Vale do São Francisco”, acrescentou Bianca Lima, uma das fundadoras do projeto.

A CRD vem colocando o semiárido no radar da engenharia aeroespacial. Vinculado ao Colegiado de Engenharia Mecânica (CENMEC) da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), o grupo é composto por estudantes que unem teoria, prática e inovação no desenvolvimento de foguetes-modelo para competições nacionais e internacionais. 


O projeto de foguetemodelismo tem o objetivo de colocar em prática, os conhecimentos adquiridos pelos estudantes ao longo da graduação. Atualmente, a equipe conta com 40 integrantes oriundos dos cursos de Engenharia Mecânica, Engenharia de Produção, Computação e Engenharia Elétrica, o que garante uma atuação multidisciplinar no desenvolvimento dos protótipos.


‘‘A participação em um projeto como a Cactus contribui para a formação dos integrantes ao nos colocar  em contato com desafios reais, que vão muito além do conteúdo visto em sala de aula. O desenvolvimento dos foguetes exige pesquisa, planejamento, tomada de decisão, trabalho em equipe e responsabilidade técnica, promovendo uma formação mais completa e aplicada.” explicou Fernanda Freire, atual diretora executiva e capitã da equipe. 


A rotina do Cactus Rockets combina pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico e extensão. A equipe é dividida em subsistemas técnicos, como propulsão, estrutura e aerodinâmica, eletrônica, recuperação, satélites payloads (satélite é a parte autônoma do foguete, dentro dele o payload capta informações, acionando e coletando dados),  além dos setores administrativos, gestão, marketing e financeiro. Ao longo do ano, os estudantes realizam projetos, simulações, análises estruturais e aerodinâmicas, testes de bancada, fabricação de peças e elaboração de relatórios técnicos, especialmente voltados para competições como a Latin American Space Challenge (LASC), a maior competição universitária de engenharia de foguetes e satélites experimentais da América Latina.

Os resultados obtidos ao longo dos anos reforçam o crescimento do projeto. Em 2022, com o foguete Galileu-02, a equipe conquistou o 3º lugar na categoria de 0,5 km de apogeu(o ponto mais alto da sua trajetória) e o 12º lugar no ranking geral da LASC. No ano seguinte, o destaque foi o foguete Marie, que garantiu o 1º lugar na categoria de 0,5 km e o 13º lugar geral, entre mais de 145 equipes de 15 países, marcando o melhor desempenho da história do grupo. Ainda em 2023, o foguete Pierre, na categoria de 1 km, alcançou o 17º lugar na categoria e o 35º no geral.
Foto: Arquivo da Cactus Rockets Design | Fim do Primeiro dia de competição da LASC 2025.

Em 2024, o projeto voltou a subir ao lugar mais alto do pódio com o foguete Kepler, vencedor do Festival Regional de Minifoguetes (FRMF), na categoria de 200 metros. Já para 2026, o Cactus se prepara para competir novamente na LASC com dois novos projetos: o Joliot, na categoria de 1 km, e o Bouman, voltado para a categoria de 3 km. Além do apoio institucional da UNIVASF, o Cactus Rockets Design conta com um sistema de patrocínios fundamentais para a manutenção e o avanço das atividades do projeto.


Neste momento, a equipe se encontra no período pós-competição com foco na elaboração de relatórios técnicos e, em momentos de brainstorm(tempestade de ideias),  que irão nortear o próximo ciclo de desenvolvimento, previsto para 2026. A proposta é seguir aprimorando os protótipos e ampliando a presença do Semiárido no cenário da engenharia aeroespacial. “Desenvolver essa tecnologia aqui significa valorizar o território, formar talentos localmente e mostrar que o Semiárido também é um espaço de produção de conhecimento, inovação e futuro”, declarou Fernanda Freire.


Por: Anne Carvalho e Gabriel Matos, estudantes de Jornalismo em Multimeios na UNEB e colaboradores do MultiCiência.