Manuela Pereira: quando a semente da ciência floresce

MultiCiência 15 dezembro 2025
Foto: Arquivo pessoal
Nascida em Salvador (BA), no dia 21 de setembro de 1983, Manuela Pereira de Almeida teve seu primeiro contato com conteúdos científicos na infância, através de revistas e séries televisivas. Semanalmente, ligava a TV nas manhãs de sábado para assistir ao Globo Ciência, um programa da Rede Globo de Televisão que apresentava de forma didática fatos científicos, sobre variados temas como agronegócio, arqueologia, história, saúde e tecnologia. Em outros momentos do dia, apreciava também mergulhar nas leituras dos tópicos de ciência da Revista Superinteressante, que sua mãe assinava mensalmente.

Foi assim que Manuela desenvolveu seu interesse pela divulgação científica e resolveu prestar vestibular para o curso de Jornalismo em Multimeios, saindo da capital baiana para cursar a graduação na Universidade do Estado da Bahia, no campus de Juazeiro. Em 2002, o ano em que realizou o vestibular da Uneb, um momento marcante, o Conselho Universitário aprovou a adoção do sistema de cotas para pessoas pretas e pardas de escola pública nos cursos de graduação e pós-graduação na Universidade. Manuela seria uma das primeiras pessoas a desfrutar dessa conquista, prestando o primeiro vestibular em 2003, quando iniciou sua trajetória no Jornalismo.

Enquanto graduanda de Jornalismo, atuou como monitora voluntária da Agência MultiCiência, onde adquiriu experiência na escrita e práticas jornalísticas “Foi muito significativo para mim ter estudado sobre isso, compreender o papel de uma Assessoria de Comunicação em uma instituição científica, a linguagem, as especificidades nas pautas, o relacionamento com a mídia”, afirma ela.
Foto: Arquivo Curta na Uneb | Manuela entrevista o cineasta Roque Araújo.
Uma de suas lembranças mais marcantes nessa época foi um artigo da Agência, escrito por ela, publicado no jornal Gazzeta, um dos principais veículos impressos do Vale do São do Francisco na época. O foco do artigo era informar sobre o Programa de Rádio, Mensageiro Rural, em que também atuava como monitora voluntária e o objetivo foi destacar a relevância desse programa e como tratava de assuntos técnicos e científicos acerca da área agrícola em um formato acessível, comunicando de forma clara para um público diversificado de agricultores, trabalhadores rurais e leigos no assunto “Foi o primeiro que eu fiz e que sintetiza as duas coisas que eu me dedicava naquele momento, o rádio e a pauta ciência”, comemora a jornalista.

A monitoria voluntária na MultiCiência também influenciou a escolha do tema do seu trabalho de conclusão de curso (TCC) - “O Jornalismo Científico na Assessoria de Imprensa da Embrapa Semi-Árido”. Dessa vez, ela analisou os fluxos de trabalho na rotina de uma Assessoria de Imprensa, especificamente da Embrapa Semiárido. A culminância do TCC fomentou a oportunidade de conhecer uma empresa pública, conversar com profissionais da área jornalística, e praticar a produção de conteúdo de um jornalismo institucional que interage com a divulgação científica “Foi muito interessante aprender e apresentar isso, além da oportunidade de conhecer e, durante o trabalho, conviver um pouco com o saudoso Marcelino Ribeiro, jornalista da Embrapa, naquele período. Foi muito significativo e importante para mim” acrescentou Manuela.

Entre a graduação e as experiências jornalísticas com a MultiCiência, conhece com profundidade a Educomunicação, durante as disciplinas de Comunicação e Educação I e II, onde conquista o interesse pelo desenvolvimento de ensino e aprendizagem na formação de indivíduos críticos e comunicativos. “Eu me identifiquei com o tema, na disciplina visitamos um projeto no Cariri cearense, em Nova Olinda. Foi bem interessante para mim naquela época, fiz uma matéria que foi veiculada em uma edição do Jornal Cobaias” complementa.

Em 2008, retornou ao MultiCiência à convite da professora Andréa Cristiana, para colaborar com o projeto, fazendo parte da coordenação. Era responsável por organizar reuniões com a equipe de monitores. Nesse espaço, eram articuladas as pautas do mês, e gerenciamento das equipes responsáveis pelas reportagens, além de fazer a correção das redações. Permaneceu por pouco tempo, pois no ano seguinte, começaria a trabalhar como Assessora na Câmara de Vereadores de Petrolina(PE).

Após a graduação em Jornalismo, se especializou em Educação, Cultura e Contextualidade em 2010 pela UNEB com o trabalho “O jornal e a formação do professor - um estudo sobre os usos dos jornais pelos professores da rede estadual em Petrolina (PE)”, e fez o mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiáridos pelo PPGESA, em 2016, no qual ingressou também pelo sistema de cotas, com o tema “Educomunicação e Práticas de Letramento - um diálogo a partir dos usos das Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC)”. A partir da culminância desses trabalhos, Manuela resolve se dedicar a Educomunicação, um campo teórico-prático que busca utilizar a comunicação e a educação para criação de ecossistemas comunicativos nos espaços educativos, mas desenvolvendo uma linha de pesquisa com o objetivo de colaborar para a formação de uma sociedade mais crítica e consumidora da ciência. 

Enquanto concluía seu mestrado pelo PPGESA, em 2016, o curso de Jornalismo em Multimeios abria um processo seletivo para professores substitutos. Ela então decidiu fazer a prova. Passou com sucesso e junto com a professora Andréa, seria umas das primeiras a ministrar o componente curricular Estágio Supervisionado I e II no curso, assumindo a disciplina em outros semestres. Na graduação em Jornalismo, Manuela obteve experiência e atuou em outras disciplinas como Assessoria de Imprensa, Extensão Universitária, Educomunicação, Hipermídia e Práticas de Letramento, Divulgação e Jornalismo Científico.
Foto: Arquivo pessoal | 1º Encontro de Estágio do curso de Jornalismo em Multimeio em 2017

Durante a pandemia causada pela COVID-19, ainda como professora substituta, Manuela retornou à MultiCiência. Nesse momento, os materiais produzidos pela agência tinham o enfoque informativo sobre o vírus e saúde, como evitar a contaminação, práticas saudáveis para saúde mental por conta da necessidade de isolamento social e os impactos na sociedade, entre outros tópicos semelhantes. Nesse período, a educomunicação junto à divulgação científica foram os métodos utilizados na rotina de produção da MultiCiência. Enquanto os estudantes de jornalismo eram motivados a praticarem uma escrita compreensível para a leitura da comunidade e experienciavam a pesquisa científica com foco na COVID-19 e saúde, os leitores da MultiCiência poderiam aprender e desenvolver senso crítico sobre o vírus e a pandemia, como um emissor de informações confiáveis, já que no contexto da época houve uma crescente onda de fake news e desinformação, principalmente por mídias sociais.

Essa experiência profissional emplacaria na sua atuação atual na Assessoria de Comunicação de uma empresa pública, responsável por administrar hospitais universitários em todo país, onde a temática saúde anda lado a lado com a produção científica. “Todo o fluxo que eu estudei ainda hoje são extremamente valiosos, pois agora sou assessora de imprensa em uma empresa pública que também trata dessas pautas”, complementa ela. 

Para Manuela, uma agência de notícias como a MultiCiência, que atua no Semiárido baiano e pernambucano, com divulgação científica e regional, é necessária, para a valorização do território, considerando que a informação científica forma cidadãos críticos e reforça a memória cultural. Ela reforça que a agência fornece um espaço de prática jornalística para os estudantes, ao explorarem multi linguagens, na construção da pauta em pesquisar fontes e ver o resultado do trabalho publicado “Quanto mais pessoas conhecem ciência, mais financiamento e políticas públicas são defendidas” defende ela.

Manuela desde a infância sentia apreço pela ciência e sua capacidade de transformação social, ao encontrar o jornalismo, pôde na prática mesclar o compromisso de uma divulgação científica e contextualizada com o território Semiárido, e junto com a MultiCiência traçou caminhos para a concretização do que um dia foi sua paixão quando criança, a ciência e a comunicação “Para mim foi muito importante, no meu caso, lá atrás não tinha uma clareza do resultado, mas gostava da temática científica e, com isso, fui monitora da Multiciência e a experiência foi basilar para mim. Então, experimentem, conheçam, se comprometam com essas oportunidades. Desejo sucesso sempre e muitas décadas de existência a este projeto. Parabéns a todos vocês ", declarou. 

Por Anne Carvalho, estudante de Jornalismo em Multimeios na UNEB e colaboradora do Multiciência