Os equipamentos urbanos de lazer de Juazeiro trazem benefícios para a qualidade de vida da população, mas as condições ambientais das lagoas da cidade têm sido motivo de preocupação para especialistas da área. O projeto de extensão Conviverde, do Campus III da Universidade do Estado da Bahia, em parceria com a pesquisadora do IBGE do Rio de Janeiro, Rosângela Botelho, elaborou um diagnóstico que avalia situação da lagoa do Calu, lagoa Dom José Rodrigues e lagoa Antônio Guilhermino.
O diagnóstico foi realizado com a aplicação de um Protocolo de Avaliação Rápida (PAR), que analisa parâmetros qualitativos e quantitativos para definir o resultado final, classificados por pontos. No protocolo de avaliação ambiental para açudes urbanos, são observados fatores como as alterações causadas pela ação humana, vegetação dentro e ao redor do leito, cor e odor da água.
De acordo com a pesquisa, entre as lagoas analisadas, a do Calu foi a que apresentou menor incidência dos impactos ambientais, alcançando média de 2,96 pontos numa escala que vai de 0 a 5. Já as lagoas Dom José Rodrigues e Antônio Guilhermino alcançaram uma média de 1,7 e 1,3 pontos, respectivamente.
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Esgoto despejado sem tratamento na lagoa Antônio Guilhermino. Foto: Conviverde |
A análise apontou que a lagoa de Calu possui condição entre regular e boa, na visão dos estudantes, técnicos e professores que participaram da avaliação. Apesar de estar inserido num ambiente urbano, o local é, segundo o estudo, protegido pelo projeto paisagístico que preserva as margens e colabora com a preservação do ambiente. Já as outras duas lagoas, que estão localizadas em áreas afastadas do centro de Juazeiro e que mesclam características rurais e urbanas, encontram-se deterioradas, com esgotos despejados sem tratamento e sem nenhum projeto de regeneração. Para a pesquisadora Rosângela Botelho, esses impactos ambientais podem resultar em danos à saúde da população, já que essas lagoas acabam concentrando uma grande quantidade de vetores transmissores de doenças, como mosquitos e ratos.
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Análise na lagoa do Calu (esq.), lagoa Dom José Rodrigues (centro) e lagoa Antônio Guilhermino (dir.). Fotos: Conviverde |
De acordo com a pesquisadora Rosângela Botelho, a Lagoa do Calu tem um potencial de melhora. "Com aperfeiçoamento do paisagismo já existente e fazendo tratamento para deixar a tonalidade da água mais clara, é possível fazer um criatório de peixes, por exemplo. Isso seria interessante principalmente para as crianças", comenta. Sobre as outras duas lagoas, Rosângela ressalta a necessidade da construção de barreiras ao redor que protejam do escoamento das chuvas e do esgoto que sai das casas.
O resultado da pesquisa, os métodos de análise e as observações feitas durante o diagnóstico serão apresentados no Seminário Regional Verde Urbano no Semiárido Brasileiro, que será realizado nos dias 23 e 24 de outubro, no DCH III da Uneb. A programação do evento também conta com expedição no Riacho Mulungu, mesas redondas e bate-papos sobre a convivência com o cenário do semiárido.
Luzineide Carvalho, coordenadora do projeto Conviverde e uma das responsáveis pela pesquisa, acredita que é preciso ações multidimensionais e intersetoriais para conseguir reverter a realidade das lagoas de Juazeiro. “A Universidade, sozinha, não vai resolver essas questões. Precisamos pensar em ações em rede, que envolvam diferentes instituições e diferentes atores sociais. A comunidade também deve ser envolvida e assumir essa relação de pertencimento”, ressalta.
Ainda segundo Luzineide, o assoreamento e a falta de drenagem podem fazer com que esses ambientes desapareçam em Juazeiro. “Seria uma perda irreparável. As lagoas são bens públicos e o acesso à água é fundamental para qualquer comunidade. Quando pensamos no contexto do semiárido, essa importância é maior ainda, pois são ambientes peculiares, onde encontramos espécies de plantas e animais específicos de outros biomas, já que microclimas são estabelecidos no entorno de uma lagoa”, comenta.
Mais do que espaço de lazer, as lagoas também trazem um equilíbrio para o ecossistema local. O crescimento populacional e econômico de Juazeiro nos últimos anos não tem sido acompanhado pela preservação desses espaços que são patrimônio cultural e histórico de qualquer população. Rosângela ressalta que a relação comunidade-lagoas precisa ser mais efetiva para que a preservação seja uma realidade. “É um bem da comunidade. A população se aproveita do ambiente da lagoa do Calu até pela questão visual, que é atrativa, mas ainda é uma relação superficial. É preciso uma conexão maior dos moradores com esses espaços”, pontua.
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A prática de atividades físicas é comum no entorno da lagoa do Calu. (Foto: Giúllian Rodrigues) |
Reportagem de Giullian Rodrigues e Maria Eduarda Abreu.
Edição: Giullian Rodrigues
Edição: Giullian Rodrigues