Segundo relatório divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em fevereiro
do ano passado, mais de 320 milhões de pessoas sofreram com a depressão, quase
5% da população mundial. No Brasil, já são 17 milhões. Diante do expressivo
número, uma recorrente solução usada pelos profissionais de saúde é tratar os
pacientes com antidepressivos. Porém, nem sempre eles são tão eficazes quanto
parecem - varia de acordo com a pessoa - e já existem outros métodos de
tratamento que também podem auxiliar o sujeito no quadro depressivo.
O que é - “A depressão, ao
meu ver, é quando se enxerga tudo tão cinzento que se perde o prazer até pelas
coisas que mais gostava. Nos tornamos pessimistas”, relata Lily Menezes, que
sofre de depressão desde a adolescência. A estudante já fez terapia e hoje faz
uso de antidepressivos. Apesar de ter ajudado, Lily confessa que ainda
apresenta recaídas e oscilações de humor. “A saída é focar num objetivo quando
as ideias ruins aparecem. Isso me dá um norte” desabafa.
A fim de tentar entender a doença, a psicóloga
e psicanalista Antônia Vieira diz que é preciso
estudar a relação de quem está sofrendo com o objeto, ou seja, o que ocasionou
a situação de melancolia. “Na depressão, com a perda do objeto, o que o sujeito
deseja se torna insatisfeito ou impossível. Quando preso a esse impossível, ele
se deprime e esmorece”, esclarece Antônia.
Já a psicóloga Ana Bárbara Neves prefere não usar o
termo depressão ou transtorno depressivo, e sim sofrimento. “Depressão é um
termo que usamos para falar entre nós. Não busco classificações. Tento ouvir e
respeitar a individualidade de cada um”, explica Ana. Em seus atendimentos
clínicos, admite que há uma causa comum dentre seus pacientes: a dificuldade de
estar e sentir o presente, como se recusassem a viver a realidade.
A causa - O médico
endocrinologista e psicanalista clínico, Ricardo Sinay, aponta que a causa
da depressão também está ligada a carga genética da pessoa. Na depressão, o
indivíduo consegue mudar sua estrutura genética, seja por um fator interno ou
pelo próprio ambiente em que vive. A ciência que estuda a capacidade do fatores
externos alterarem a expressão dos genes chama-se epigenética.
“A pessoa transforma a estrutura genética e o funcionamento dos
hormônios do cérebro. A mudança também pode ser feita pelo ambiente, quando,
após um trauma, você modifica sua estrutura cerebral”, explica Sinay. Diante
disso, o ambiente social, a cultura em que se está inserido e a história
familiar tem muita importância no acarretamento de um quadro depressivo, pois o
estilo de vida pode mudar, em termos genéticos, o ser humano.
Patologização
do sofrimento - Para a socióloga especialista em psicanálise, Soleni Fressato, algumas pessoas são
erroneamente diagnosticadas, havendo um exagero do que seria somente um momento
de tristeza ou luto. “Existe um grande número de pessoas que não estão
depressivas, e sim tristes ou em processo de luto, mas são diagnosticadas como
tais para que a indústria farmacêutica continue vendendo antidepressivos”,
denuncia. Fressato faz parte do grupo de pesquisa “crise da modernidade:
objetividade e subjetividade dos processos sociais” do
programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
A psicóloga Ana Bárbara Neves
confirma a tendência do uso de medicamentos para lidar com o sofrimento. Nos
Estados Unidos, onde fez seu mestrado em Análise do Comportamento pela University of North Texas (UNT -
EUA), ela observa que era uma prática muito comum e está cada vez mais
frequente no Brasil. “Há uma pressa e uma imposição para negar o sofrimento e estar sempre
bem”, explica.
De acordo com um levantamento feito pela
empresa americana IMS Health, a venda de antidepressivos e estabilizadores de
humor cresceu 18,2% no Brasil em 2016, gerando uma movimentação de 3,4 bilhões
de reais. Porém, é importante lembrar que o aumento da venda destes
medicamentos não significa aumento da ocorrência da doença, e sim de seu
diagnóstico.
O problema não é prescrever antidepressivos
para os pacientes, e sim apresentá-los como única forma de tratamento. Para
Fressato, o acompanhamento profissional é em alguns casos mais eficiente do que
o uso de substâncias. “Não há o conforto pela fala, que é a base do trabalho
psicoterapêutico. Por isso, os sujeitos acabam sendo direcionados para o
tratamento farmacológico, que surge como a única forma de enfrentar a dor”,
explica.
Tratamentos alternativos - Existem diferentes tipos de
depressão, a depender da causa, duração e dos sintomas. Portanto, a
psicanalista e especialista em Saúde Mental, Antônia Vieira, afirma que não se
pode pensar a doença de modo generalista. “São mais de dez classificações para
a depressão na literatura. Não existe um padrão, cada um elege sua causa. Por
isso, os sujeitos precisam ser pensados em suas singularidades e escutados em
seu sofrimento”, relata Antônia.
É nessa lógica de tratamento especializado que
trabalha a psicóloga Ana Neves, que exerce a profissão desde 2004. Segundo ela,
não existe uma receita para todos os pacientes. “As pessoas são diferentes e as
ferramentas utilizadas com uma não necessariamente funcionam com outra”,
explica.
Em sua experiência clínica, Ana Bárbara admite
que a utilização de medicamentos pode sim ser benéfica, porém, quando aliada a
outras práticas, a exemplo, o uso de esportes, respiração, massagens,
acupuntura, meditação, yoga, dança e outros. A escolha do tratamento é feita
pelo próprio paciente. “Meu trabalho é pensar junto, nunca escolher por ele.
Avalio junto os efeitos colaterais da utilização de cada uma dessas
ferramentas, considerando as consequências a curto e longo prazo”, afirma.
POR MARCELA VILAR*
Estudante de jornalismo da Facudade de Comunicação da Universidade
Federal da Bahia - UFBA e repórter na Agência de Notícias em CT&I – Ciência e
Cultura
Cedido por Agência de Notícias em CT&I – Ciência e Cultura
UFBA