Tradições de mulheres sertanejas na arte de semear

Multiciência 15 abril 2020
Em que terras cinco mulheres do território do Sisal foram buscar a preservação de suas tradições? Seriam apenas anciãs de várias gerações predestinadas a conservarem as culturas tradicionais de uma comunidade rural ou abrir caminhos para as futuras gerações? Só arriscaremos em dizer que no sertão de Itiúba, na Bahia, a preservação de um fruto pequeno fortalece os laços comunitários e desperta vocações.

Em meio aos hábitos e costumes desse povo nordestino, marcado por tradições e ensinamentos dos seus avós, particularmente é uma honra ouvir, com riqueza de detalhes, as experiências de mães, tias, filhas e sobrinhas que se uniram para levar adiante a oportunidade de uma vida melhor. Patrícia, Maria, Jocilene, Veraldina e Verônice são mulheres que cresceram entre a imensidão de palmeiras de licuri ao som das batidas dos coquinhos – mais conhecidos como licuri. Tarefa difícil e árdua, pois são horas para despedaçar o fruto - manualmente com pedras - para ser vendido nas feiras livres da cidade.

São mulheres de sorrisos largos, brilho nos olhos e gestos simples que recebem qualquer pessoa como membro da família. Uma confiança estabelecida com horas de conversas que acontece tão naturalmente como respirar o ar puro de uma comunidade rural. Mas estávamos ali para mostrar como essa história de mulheres guerreiras se transformaria no documentário Mulheres do Licuri e como elas estão modificando as práticas para o beneficiamento do fruto.


A casa simples fica próxima às plantações da palmeira de licuri da comunidade Três Ladeiras, em Itiúba. Para chegar ao local de trabalho se percorre uma estrada de chão em média duas horas de caminhada. Esse trajeto era feito por Dona Vero, mãe de uma das licurizeiras que trabalha na lida junto, com mais duas mulheres. Após percorrer todo esse caminho, ela está pronta para extrair o cacho do licuri da palmeira, passando por todo processo de limpeza e trituramento.

Atualmente, elas têm mais tempo para se dedicarem a diversificar a produção, pois buscaram inovar o processamento, por meio de máquinas que ajudam a quebrar o fruto, e não é preciso ser feito manualmente. E agora o fruto agregou novos valores, com a produção de biscoitos e bijus do licuri expostos na loja no centro da cidade pacata de Itiúba.

Essas mulheres estão destinadas a aprender sempre com presteza, ética e honestidade. Hoje, passadas décadas de uma vida invisibilizada, elas ganham destaque na terra natal como empreendedoras e não apenas como donas de casa e agricultoras que ajudavam os seus maridos.  São, sobretudo, protagonistas de sua história.

Patrícia Simões, Veronice Martins, Jocilene Simões, Maria Costa e Veraldina Silva demonstram  a importância dos sonhos, da solidariedade e trazem lições através dos sorrisos e versos que nenhum dinheiro pode comprar. O documentário Mulheres do Licuri traz a força dessas mulheres, cuja vida é esculpida, sobretudo, por coragem e pela valorização do local onde moram e trabalham.

Confira estas histórias no Documentário Mulheres do Licuri.

Texto: Ilanna Barbosa, Jornalista em Multimeios pela Universidade do Estado da Bahia, Fotojornalista e Diretora do documentário Mulheres do Licuri. Esta produção audiovisual foi resultado do Trabalho de Conclusão de Curso na Universidade do Estado da Bahia, campus Juazeiro, sob a orientação do professor Nilton Leal. E-mail. santosilana028@gmail.com. Instagram @i_anna3940

Fotos: Ilanna Barbosa