Pelo segundo ano consecutivo, centenas de vaqueiros
encourados não puderam se reunir na Festa do Vaqueiro, de Curaçá, comemorada no
primeiro final de semana de julho. Assim como em várias cidades do país, mais
um festejo tradicional foi cancelado, sem balões no ar, nem xote no salão.
Enquanto a pandemia de Covid-19 avança, aqueles que se dedicam às festas
tradicionais buscam alternativas, como a realização de transmissão online, para
que a cultura não cesse e, quem sabe em 2022, volte a ocupar um lugar central
em cada região.
O início da festa se deu em 1953 e, nesses 68 anos de existência, o tributo à figura do vaqueiro reflete a sua importância cultural, econômica e religiosa. É também uma forma de homenagear centenas de guerreiros que, com coragem, marcaram a história de Curaçá, seja pela contribuição ao desenvolvimento como pela relação com o meio ambiente no qual ele habita, conhece, transforma e produz o sustento para si e toda família. Assim, o festejo se transformou em um símbolo de luta, conquista e tradição cultural.
No início, era apenas uma reunião de amigos, mas começou a se
expandir e atrair visitantes de todo território Sertão do São Francisco. “A Festa
dos Vaqueiros é essencial em vários motivos, pois é uma representação e uma
homenagem para as mulheres e homens que vivem no campo cuidando dos animais e preservando a flora”, diz Letícia Torres,
24 anos, moradora de Curaçá e amante da festa dos vaqueiros. “Sem contar que a
festa dos Vaqueiros é o momento que encontramos amigos e familiares, uma forma
de aproximar e trazer os filhos da nossa terrinha de volta para casa, nem que
seja por um pequeno período de tempo”, completa Letícia.
Mais um ano sem a festa dos Vaqueiros, o coração e alma
choram. Só quem realmente vive aquilo sabe a dor de não poder participar,
afinal muitos carregam histórias e tradições herdadas de pai para filhos. Em um
passado até recente, essa festa quase se apagou, mas não demorou muito para
recuperar a posição de destaque. O festejo foi perdendo suas características de
tradicional Festa dos Vaqueiros, com características regionais e valorização da
missa solene e o desfile dos vaqueiros. Alguns moradores colocavam “paredões”
de música na comemoração e prejudicavam a beleza do evento.
Jairo da Silva Santos, que assumiu a Secretária de Cultura,
Esporte e Juventude em 2017 e hoje está no seu segundo mandato, conta que o
principal objetivo era reconhecer a importância cultural da festa. “Estava
perdendo as características de festa dos vaqueiros e é essencial trazer de
volta aquele forrózinho pé de serra para dentro das avenidas”. Ele esclarece
ainda que o desfile do vaqueiro na avenida é muito significativo, ainda mais
mantendo a segurança dos turistas e moradores. “Nunca imaginamos que a festa
teria tanta repercussão e que, nesse momento, estaria fazendo tanta falta por
conta da pandemia. Essa festa está acima de qualquer posição política
partidária, pois unimos a Sociedade dos Vaqueiros, Avapec para fazer a melhor
festa”, afirma o prefeito Pedro Oliveira.
Quando a Festa dos Vaqueiros se tornou Patrimônio Cultural
Imaterial da Bahia, uma série de atividades foram criadas para garantir o
acervo cultural, marcado pela figura dos vaqueiros. A culinária em torno da
carne de bode, carne produzida em fundo de pasto e em fazendas do município. O
artesanato, no qual vários artesãos mostram suas diferentes habilidades, como
produzir gibão, perneira e o chapéu de couro maior símbolo que representa e que
veste o vaqueiro. A Festa Dos Vaqueiros mobiliza também a população dos estados
da Bahia, Pernambuco, Piauí, Ceará e Alagoas. “A Festa de vaqueiro cultural é a
maior do Brasil. Hoje, a festa é patrimônio cultural da Bahia, mas estamos
buscando o patrimônio nacional”, diz Jairo.
O município de Curaçá sofreu muito com a não realização desse evento ano passado. Neste ano, muitas pessoas que trabalham na festa esperavam esse momento para ter renda, como exemplo: os donos de bares, restaurantes, pessoas que alugam casas, carros. Comerciantes e moradores sofreram com as perdas financeiras e as dificuldades financeiras. Segundo o secretário Jairo Da Silva, a prefeitura contrata mais de 300 pessoas, fora os efetivos que já tem para trabalhar nesse evento, sem contar com vendedores ambulantes e privados. “Corre muito dinheiro nessa época, a economia esquenta bastante e a cidade perdeu bastante por conta da não realização devido a pandemia”, diz Jairo Santos.
PROGRAMAÇÃO 2021
Esse ano, a programação seguiu as restrições do Ministério da
Saúde para garantir o distanciamento social. O festejo aconteceu por meio de lives para que a população não sentisse a
falta desse momento cultural.
“Esse ano a emoção foi grande. Foi um pouco diferente, no
lugar da alegria tínhamos somente saudade e o corpo reagia a tudo isso.
Querendo ou não tive o privilégio de participar e representar muitos Vaqueiros
e Vaqueiras que não poderiam estar presentes para a segurança de todos”, diz
Letícia Torres.
A festa foi realizada no sábado e domingo, com a Alvorada Festiva
pelas principais ruas da cidade com a participação de Otávio Santana com a
transmissão via Facebook da Prefeitura de Curaçá. As 11 horas, o programa de Zé
Maria "Toca Tudo" com a participação do prefeito Pedro Oliveira, o
secretário de saúde Jairo Santos, artistas e vaqueiros, com transmissão também
pela Radio Grande Rio AM 680. As 15h, teve a live cultural com Zezinho
Aboiador, Júlio do Acordeom e Willlian do Vale fica responsável por abrilhantar
o evento.
No domingo, último dia dos festejos, a população pode assistir
à missa dos vaqueiros às 9h da manhã com transmissão nas redes sociais do
Governo Municipal e Paróquia Bom Jesus da Boa Morte e São Benedito, Radio
Curaçá FM 87,9, Boa Vista FM 99,3 e Radio Juazeiro.
Para saber mais, acesse a página de Facebook da prefeitura.
Reportagem especial para Agência Multiciência.