Uma nostalgia junina um tanto quanto “ispecial”

MultiCiência 26 junho 2023
Uma viagem longa de ônibus, sinto minha cidade perto e acordo um pouco antes de ver a paisagem que abre Jacobina. O clima ameno, o tempo que passa rápido por eu estar me divertindo e até mesmo a lua parece diferente do comum dos lugares longe da minha terra.

A certeza de encontrar os familiares é uma emoção confortável e o principal deles é o meu avô, Dunga 70, nome que ganhou desde a Copa dos anos 70. João Pereira Andrade nasceu em 28 de novembro de 1930, músico, pai e avô. Para mim, um ser “ispicial” – do jeitinho que ele fala. De uma vida sofrida, mas cheia de curtição e trabalho, meu avô, com 92 anos, pode ser um dos únicos músicos ainda vivos que tocaram ao lado do Rei do Baião, Luiz Gonzaga (além de muitos outros artistas clássicos). Ninguém da família pegou seu talento para música, mas levamos em nosso coração a felicidade do seu rosto e o orgulho de tê-lo como patriarca.

Feliz em me ver, em ver as bombas, as danças e a fogueira, trazem em nós dois uma sincera nostalgia. O cheiro e a emoção desse momento, eu nunca esqueço. Estar sentando em frente a fogueira e sua fumaça, que ironicamente suja o cabelo da minha mãe e da minha irmã, em certos momentos é o meu cheirinho-de-são-joão favorito.

A tradição das fogueiras para espantar o frio junino
Foto: J. P Tinel

Dessa vez, visito minha família com a companhia de minha namorada. A época mais fria do ano em minha cidade natal, finalmente se tornou também a mais romântica para mim. É uma mistura de sentimentos. O presente e a nostalgia de ver toda a minha infância passando pelos meus olhos. A frente da casa do meu avô Dunga é com certeza a minha raiz. 

Um momento de paz no meio de toda a curtição, vê-lo alegre é “ispicial”, é fora da movimentação rápida da realidade. Um lance em câmera lenta enquanto vejo minha família no dois pra lá e dois pra cá. Uma mistura entre o som do forró e o da risada do meu avô que me fazem imaginar que tudo será igual para sempre (mesmo que não).

Mas é isso, depois da festa, da queima da fogueira, da fumaça e do frio que atacam o meu nariz alérgico, surge a manhã fria de pós-São João que me enche de memórias. A minha e as calçadas da vizinhança estão todas com marcas de bombas, a rua com embalagens e caixinhas de traques e, claro, cada morador na lida de limpar os vestígios da festa junina em frente à casa.

Por João Pedro Tínel, estudante de Jornalismo e colaborador da Agência MultiCiência.