As representações sociais do nordestino no cinema

. 28 março 2008
Sargento Getúlio, filme dirigido por Hermanno Penna, em 1983






No cinema brasileiro, o nordestino aparece associado a signos como a seca e a pobreza. Muitas vezes, também é apresentado como um homem forte, corajoso. Para entender o significado dessas imagens e como elas operam na representação da identidade do nordestino, a professora Carla Paiva, do Departamento de Ciências Humanas (DCH III/UNEB) desenvolve a pesquisa Signos de Nordestinidade: Análise da representação das identidades nordestinas presentes no cinema brasileiro.

A pesquisadora afirma que os filmes operam e categorizam uma multiplicidade de imagens, marcadas e reconhecidas por estereótipos fincados na dominação econômica e política. "O cinema brasileiro copia uma tendência da literatura brasileira de tomar o homem nordestino apenas como um sertanejo, e essa tendência é refletida a partir de uma leitura equivocada do livro 'Os Sertões' de Euclides da Cunha e da literatura regionalista que caracterizou o sertão como um espaço de purgatório, de inferno, ou de paraíso", defende Carla Paiva.

A pesquisa concentra-se no estudo das imagens da década de 1960 a 2000. Durante essas décadas, foram produzidos mais de 50 filmes brasileiros com a temática nordestina. Nesses filmes, o nordestino é representado por meio de signos de nordestinidade como a seca, a pobreza, o coronelismo, a fome, a virtude, a mistura de religiosidade nordestina como o catolicismo e o candomblé.

"Esses signos de nordestinidade preocupam a medida que são inseridos na sociedade, contribuindo para a formação do imaginário popular que se perpetua em outras áreas, inclusive na educação, na história e no jornalismo estabelecendo a afirmação do estereótipo de que todo nordestino é um sertanejo forte que sofre com a seca e a miséria do local em que ele está inserido," afirma a pesquisadora.


A pesquisa conta com o apoio da Fundação de Apoio a Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), por meio de bolsas de iniciação científica concedida aos estudantes do curso de Comunicação Social: Jornalismo em Multimeios Ana Jamille Nunes e Cintia Sacramento, que analisaram os filmes dos anos 1960 e 1970. Atualmente, são bolsistas de iniciação científica as alunas Dalila Carla Santos e Eneida Trindade, que estudam a produção cinematográfica dos anos de 1980 e 1990.


Estimuladas pela teoria das representações sociais e pelos estudos sobre a identidade social nordestina, Carla Paiva e as bolsistas pesquisam os quadros sociais que compõem a formação do homem nordestino no cinema brasileiro. A pesquisa é dividida em três fases: primeiro, analisam os tipos de representação social ou construção simbólica formadas do tipo regional categorizado como "nordestino"; em seguida, distinguem esta encenação com base nas três perspectivas do sertão presente na literatura brasileira, reconhecendo o valor positivo ou negativo dos signos de nordestinidade.

Por último, procuram entender que tipo de movimento o cinema promove e o que os espectadores podem aprender a partir das imagens fílmicas estudadas. Na pesquisa sobre os filmes dos anos de 1960 e 1970, como Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, a pesquisadora de iniciação científica, Ana Jamille Nunes, identificou que o nordestino se apresenta como um homem marcado pelas diretrizes da natureza e como se ela fosse definidora de seu destino.



Informação: Carla Paiva: cpaiva@uneb.br


Por Lidiane Cavalcante