Pesquisa pretende aumentar produtividade do feijão-de-corda

. 24 março 2008
Feijão-caupi é alternativa alimentar no semi-arido
Uma rede de estudos pretende aumentar a produtividade do feijão-caupi cultivado por agricultores da região semi-árida. Esse aumento, conseqüentemente, ampliaria a segurança alimentar na região, pois esse tipo de feijão, mais conhecido entre produtores e consumidores como feijão-fradinho ou feijão-de-corda, é a leguminosa alimentar mais importante do Norte e do Nordeste do Brasil e a principal fonte de proteína vegetal entre produtores de base familiar.

O projeto de pesquisa, coordenado pela professora Lindete Míria Vieira Martins, intitulado “Programa integrado de biotecnologia para inoculação do feijão-caupi com estirpes de rizóbio utilizando veículo alternativo a turfa”, é desenvolvido no Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus III. Também participam do estudo a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), a Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), associações de agricultores e a empresa privada Turfal, produtora de inoculantes.

Resultados de outros trabalhos demonstram que o uso de inoculantes pode aumentar a produtividade do feijão em até 40%. No sul do país, onde os grandes produtores de soja aderiram à tecnologia da inoculação, a economia nos custos com fertilizantes e adubos químicos chegou a três bilhões de dólares em 2005. Jakson Leite, estudante do curso de Engenharia Agronômica da UNEB e bolsista no projeto, entende que se houvesse maior difusão dos benefícios do inoculante o pequeno agricultor também lucraria mais.

Uma das alternativas pensadas para difundir esta tecnologia entre os agricultores é a concretização de trabalhos com organizações não-governamentais voltadas para a convivência com o semi-árido. “A falta de investimento na divulgação tecnológica é a maior frustração de quem trabalha com pesquisa. Qual a utilidade da pesquisa, se o benefício não chegar à comunidade? Há pouco incentivo da universidade e dos órgãos de fomento nesse sentido”, diz Jakson.

Para garantir a quantidade adequada e suficiente de nitrogênio à sobrevivência da planta muitos agricultores fazem uso do adubo nitrogenado industrializado, porém esse insumo, se usado indiscriminadamente, polui e causa toxidez no solo e na água. Diminuir os efeitos negativos causados pelo nitrogênio químico é o que motiva os pesquisadores a defenderem o uso de inoculantes em culturas importantes como a do feijão-de-corda.

Entenda como atua o inoculante:

O inoculante é uma forma de disponibilizar para a planta bactérias do gênero Rizhobium, que operam o processo da fixação biológica do nitrogênio (FBN). A FBN é um processo natural no qual os rizóbios captam o nitrogênio do ar e o transformam e amônia. Na forma de amônia, as plantas da família Leguminosae assimilam melhor o nitrogênio que irá nutri-las.

Qualquer solo bem cuidado, com muita cobertura vegetal, sustenta microorganismos benéficos como bactérias, fungos e algas. O rizóbio multiplica-se na rizosfera (região do solo influenciada pelas raízes) e depois penetra as raízes formando nódulos. Os pesquisadores capturam o rizóbio no solo e, em laboratório ou em meio real, identificam aqueles que se adaptam melhor às características da região semi-árida, como a temperatura elevada e o estresse hídrico. Depois, essas bactérias são associadas à turfa, que é um solo orgânico esterilizado.

Essa associação constitui a substância inoculante. Com o inoculante e um pouco de água, produz-se uma pasta para ser misturada às sementes de feijão. Depois que a pasta secar, à sombra, o feijão está pronto para ser plantado em até 24 horas. “A inoculação, associa a bactéria à semente, permitindo que o feijão seja plantado com parte do nitrogênio necessário ao seu crescimento”, explica a professora.
Benefícios:
O perfil alimentar da região semi-árida é deficiente. Não atende, portanto, às recomendações básicas de uma alimentação saudável. Estudos evidenciam que a desnutrição em crianças do semi-árido apresenta os valores mais elevados de todo o país. Cultivado, principalmente, por pequenos e médios produtores para fins alimentares, o feijão-caupi tolera a temperatura alta e à baixa fertilidade do solo e tem propriedades nutricionais superiores às do feijão comum.

Além disso, pode ser utilizado na alimentação animal e como adubo verde. “Para os agricultores do semi-árido, que convivem com um ambiente “hostil” à maioria das lavouras, as inovações tecnológicas são necessárias como uma forma de aumentar renda. A expansão da safra vai alavancar a qualidade de vida desses brasileiros”, afirma a pesquisadora.
Por Lívia Orge, matéria produzida em 06/03/07.