Canta outra Vez, Cartola

. 25 abril 2008



“Ainda é cedo amor. Mal começastes a conhecer a vida, já anuncias a hora da partida, sem saber mesmo o rumo que irás tomar.” Assim cantou Cartola, na canção O mundo é um Moinho, a dor da partida que pode triturar teus sonhos tão mesquinhos e reduzir as ilusões a pó.

A riqueza de canções como “O mundo é um Moinho” e de “As Rosas Não Falam” poderá ser apreciada pelo público no show “Cartola – Entre o samba e a História,” promovido pelo Serviço Social do Comércio, de Petrolina, neste sábado (26/04), às 20 horas. No show, que faz parte do projeto Canto do Vale, Marcelo Cavaquinho, Fabiana Santiago, Themer Moira e a Orquestra de Cordas do Vale do São Francisco prometem fazer os admiradores da boa música reviverem um pouco da obra do maior sambista brasileiro, com arranjos biográficos, depoimentos do artista e suas principais composições.

Cartola adorava a primavera, nascera num domingo de outubro, há 100 anos. Queixava-se às rosas, mas retrucava: que bobagem as rosas não falam. Desde moleque, aos oito anos, já encantava os vizinhos, tocando cavaquinho, descendo as ladeiras do Morro da Mangueira acompanhando as irmãs no desfile do Dia de Reis. Termina o primário, mas a sua mãe morre e não consegue levar adiante os estudos, então cai na boemia.

Na década de 20, firma parceria com Carlos Cachaça e nasce, então, a Estação Primeira de Mangueira em 28 de abril de 1928, há exatos 80 anos. Durante sua vida, trabalhou como servente em obras, mas nunca abandonou a vaidade. Costumava usar um chapéu coco e o chamava cartola, que se tornaria seu apelido pelo resto da vida. No início dos anos 40, enfrentou dissabores, sua mulher morre e, amigos chegam a pensar, que ele também sucubiria. De fato, Cartola, um bamba apaixonado, se afunda em seus sentimentos, ao perder a sua amada, Deolinda. Ele chora, disfarça e chora. Aproveita o lamento que já vem a aurora. A pessoa que tanto querias, antes mesmo de raiar o dia, deixou o ensaio (...). A vida ficou turva, mas a inspiração não morreria.

Cartola era exímio observador e, ao deparar-se com o Vale do São Francisco, converte-o no enredo de 1948 da Mangueira, levando-a ao título de campeã, trovando aos quatro cantos que não há neste mundo um cenário tão rico, tão vário e com tanto esplendor. Mas desentendimentos afastariam Cartola da escola e do morro. Volta à margem da fama, até que o cronista Sérgio Porto o encontra lavando carros. Cartola teria mais uma chance, e desta vez não largaria. “A sorrir pretende levar a vida, pois chorando viu a mocidade perdida”.

Bate outra vez, com esperança o seu coração, pois já vai terminando o verão enfim. Volta-se, então, ao jardim e queixa-se às rosas. Surge em sua vida a Dona Zica, que seria a sua companheira até o último instante de vida. Compõe as Rosas Não Falam, e um dia antes do casamento, o clássico O Sol Nascerá, gravado mais de quinhentas vezes mundo a fora.

Apenas em 1974, aos 66 anos, Cartola consegue gravar o primeiro disco. Sua música se tornaria referência do samba. Sua vida, um exemplo. Estaria para sempre no coração da música brasileira.

Cartola foi gravado por nomes como Paulinho da Viola, Pixinguinha, João da Baiana, Gal Costa, Cazuza, Maestro Leopoldo Stokowski, entre outros. Trabalhou em rádios, lançando suas músicas inéditas, onde os ouvintes escolhiam os títulos. Mais de quinhentas composições estão espalhadas pelo mundo, sendo reconhecidas inclusive, por gravadoras nos E.U.A. e Europa.


Sem ter a clara noção de que a sua música se tornaria universal e um clássico do cancioneiro popular, Catorla, num domingo de primavera, em 11 de novembro de 1980, nos deixou, após ter conhecido os percalços da humildade, a boemia, o amor de sua esposa, Zica, e a maior das heranças – a Estação Primeira de Mangueira



No espetáculo promovido pelo SESC-Pe-, neste sábado, os amantes da boa música popular brasileira poderão apreciar as canções que encantam gerações e conhecer um pouco da vida e da obra do músico carioca. Os ingressos para o show variam entre R$ 5 a 10.

Por Wllyssys Wolfgang
Da Redação MultiCiência