Crítica Teatral: O Reecontro de palhaços no Salão

. 06 agosto 2008






O Reencontro de Palhaços no Salão...

Por Luís Osete



“Foi bom. Só faltou luz”, diria Biribinha mais tarde, quase travestido de Teófanes Antônio Leite da Silveira (“o homem que vive à custa de Biribinha”, como ele mesmo faz questão de ressaltar).

Depois de percorrer onze cidades pernambucanas, seguindo o itinerário do Palco Giratório, o espetáculo “o Reencontro de Palhaços na Rua é a Alegria do Sol com a Lua” veio desembocar na margem esquerda do Rio São Francisco. Mais precisamente, no salão do SESC-Petrolina.

Além do encontro de palhaços, o último vagão do Palco Giratório se encontrou com o primeiro do Aldeia do Velho Chico (4° Festival de Artes do Vale do São Francisco). Até dia 16 muita água vai rolar nesta Aldeia...

E muitos encontros devem acontecer também. O encontro do último sábado, proporcionado pela Cia. Teatral Turma do Biribinha (Arapiraca-AL), foi com a alegria. Uma platéia muito variada se deliciou com a leveza dos palhaços Biribinha e lingüiça.

Mesmo tendo de fazer algumas adaptações necessárias para deslocar a peça da rua para o salão, que implicaram num corte do ritmo, a base dramatúrgica conseguiu ser preservada. Os dois palhaços convenceram o respeitável público de que realmente não se viam desde o Circo Mágico Nelson, do palhaço Biriba (uma referência ao saudoso pai de Biribinha).

Para representar o reencontro, Lingüiça teve de se infiltrar na platéia. A peça perdeu, neste ponto, a excelente interpretação de Wellington Santos como o mendigo que durante um espetáculo de Biribinha rouba a cena e atrapalha a encenação. Algo que já causou alguns desencontros durante estes dois anos de apresentações. Linguiça já foi preso, teve o braço machucado e tumulto com Associação de moradores.

Afinal de contas, não é todo mundo que tem a sensibilidade de perceber que o pedinte é o velho Lingüiça. Só Biribinha mesmo para convidá-lo a reviver os tempos de outrora, num espetáculo baseado nas esquetes de palhaços que eles mais gostavam de fazer.

É impressionante como a apresentação consegue articular linguagens tão diversas como o circo, o teatro, a música e a dança sem perder o ritmo narrativo. Por sinal, a linguagem cênica se faz exatamente na tessitura das outras linguagens, algo que caracteriza a hibridez do espetáculo.

De repente, não mais do que de repente (diria Vinícius), chega-se ao momento do improviso. Os palhaços dividem a platéia em duas torcidas: Biribinha Futebol Clube e Esporte Clube Lingüiça. E, assim, inicia-se um desafio cuja origem remonta aos trovadores medievais. “De Repente”, a estrofe de um palhaço desconstrói a estrofe anterior, sempre com a algazarra da torcida e o acompanhamento dos instrumentos.

Piano de garrafa, serrote e chocalho saíram da lona do teatro de circo e se adaptaram muito bem ao acompanhamento do violão, da guitarra e de uma espécie de bateria. Em determinado momento da apresentação, a emblemática música “Asa Branca” é executada a toques de chocalho.

Durante quase uma hora de espetáculo, a poética dos palhaços saudosistas envolve a platéia de tal maneira que dá para rir, chorar, mergulhar na infância e nadar no melodrama circense sem pressa (e sem lona)...

Biribinha que o diga. Com 50 anos de profissão, ele não se cansa de repetir: “Nós não somos meros fazedores de graça. Nosso palhaço da dualidade utiliza muita coisa do tradicional”. Talvez seja por isso que ele tenha sentido falta da luz. Na verdade, tal como Goethe, Biribinha só queria que a gente abrisse mais a janela: da nossa própria consciência...


Luis Osete é estudante do curso de Comunicação Social – Jornalismo em Multimeios