Sim, Negro é Lindo!

. 27 agosto 2008


Alfaias, pandeiros e outros tantos instrumentos, muitos deles percussivos, juntaram-se à atuação performática do interprete Rogério Pile no espetáculo Negro é Lindo, apresentado no Aldeia do Velho Chico, mostra artística com diversas linguagens, realizada este mês no SESC-Petrolina. O pocket show fez um passeio entre ritmos nordestinos como o samba de roda, o coco e o maracatu.


Trazendo ritmos historicamente ligados à temática negra, o show segue uma tendência das ações afirmativas de valorização da afro-descendência. "Mas não se trata de um show afro-brasileiro", alerta Pile, que nos falou da proximidade entre a música nordestina e a música africana, em especial das civilizações conguesa e iorubana.


Não por acaso, declarações como "ser negro é massa!" ou "eu sou negão!" podiam ser ouvidas na platéia que delirava ao som dos tambores, premissa básica quando se fala da dupla negritude e musicalidade.


A espontânea resposta da platéia demonstra como a produção cultural, que deve ser entendida como bem simbólico - ou seja, além de produto comercial - é portadora de elementos fundamentais na construção imagética que temos de nós mesmos e do outro.


A partir da percepção que temos da realidade e pelas referências criadas no campo artístico-cultural, teremos as construções identitárias formadas e transformadas por mediações como a música, cinema, entre outros.


Por isso, quando nos vemos, a partir do outro - o artista exaltado – sentimos-nos mais a vontades para a auto-afirmação. E assim, quase que sem perceber, o pocket show nos conduziu a uma reflexão do que somos. Enquanto isso, o coração batia no compasso dos tambores e o corpo dançava leve, como alma que agora se fazia enegrecida.



Por Quércia Oliveira