As Novas Tecnologias a serviço da História da Imprensa

. 03 outubro 2008




“Não há dentro das políticas culturais de Petrolina, Juazeiro e das demais cidades do Vale, preocupação com a preservação da história da imprensa Sanfranciscana. De vez em quando são publicados livros sobre os jornais, com apoio de empresas e do poder público, mas é muito pouco. É preciso preservar os acervos, escritos e audiovisuais e colocá-los a disposição da sociedade”.

A análise é do jornalista do impresso Gazzeta do São Francisco, Jean Carlos do Nascimento Corrêa, ao comentar a responsabilidade do poder público na conservação dos arquivos jornalísticos, em museus e bibliotecas. Esse ano, o jornalismo lançou em parceira com a também jornalista Nomeriana Cavalcanti Ferreira, o CD-ROM O Pharol - Tempo, Imagem & Memória.

Jean Carlos, formado em jornalismo pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), afirma que o trabalho é uma contribuição a memória da imprensa da região do Vale do São Francisco e que permite, através das novas tecnologias da informação, a difusão do conhecimento histórico sobre a imprensa para a comunidade acadêmica e civil.

O jornalista, em entrevista à Agência de Notícias MultiCiência, comenta, a seguir, os desafios, a emoção do pesquisador em resgatar a história e a importância da implantação do Curso de Jornalismo, para a memória das cidades de Juazeiro e Petrolina.



Agência MultiCiência: O CD-ROM O Pharol – Tempo, Imagem & Memória é um projeto experimental apresentado como trabalho de conclusão de curso. Qual a proposta que esse CD-ROM aborda?

Jean Carlos (JC): A proposta do CD-ROM era determinar o surgimento do fotojornalismo nas páginas do jornal O Pharol, de Petrolina, e caracterizá-lo por meio dos seus gêneros. Aconteceu que a pesquisa assumiu uma proporção maior, que foi a de resgatar a história do jornal O Pharol - que estava praticamente esquecida - e do seu fundador, João Ferreira Gomes.


Agência MultiCiência: E como foi realizado esse resgate da história do jornal e do seu fundador?

JC: Era necessário contar a história do jornal, do seu Joãozinho, como ele era conhecido, e ao mesmo tempo, traçar um perfil social e político de Petrolina, porque era preciso caracterizar o cenário no qual o jornal circulou. Fizemos visitas ao Museu do Sertão, de Petrolina, que contêm boa parte do acervo preservado do jornal, o Pharol, inclusive edições de 1915, quando ele foi fundado. Entrevistamos pelo menos três ex-funcionários do impresso (um jornalista, que escreveu sobre o jornal em 1975 para o periódico O Estado de São Paulo) e a filha de seu Joãozinho. Além disso, pesquisamos livros sobre Petrolina. E as próprias edições do jornal auxiliaram a contar sua historia.


Agência MultiCiência: Durante a pesquisa vocês encontraram muitas dificuldades, para localizar documentos sobre a história do jornal?

JC: A principal dificuldade foi localizar edições do jornal das décadas de 1960 e 1970. No acervo do museu há uma lacuna enorme dos jornais desse período. Pela questão do tempo, não tivemos acesso a outros documentos que seriam válidos, como por exemplo, cartas, diários de Joãozinho, que poderiam ter contribuído para o nosso trabalho de conclusão de curso (TCC). E existe um número grande de jornais em mau estado de conservação, entre os que localizamos.


Agência MultiCiência: Como você analisa a importância do seu projeto para a comunidade do Vale do São Francisco?

JC: O nosso projeto resgata de uma maneira inédita (no caso, por meio de um CD-ROM) a história do jornal de mais longa duração do sertão de Pernambuco. Também relembra uma parte da trajetória do fundador, João Ferreira Gomes, e contribui para a valorização da memória do seu jornal, importantes no contexto da narrativa da comunicação – em Petrolina e todo o Vale do São Francisco. Além disso, O CD-ROM tem um valor didático, por que narra a história do Pharol. Precisamos relatar parte dos principais acontecimentos do século 20 em Petrolina, no país e no mundo.


Agência MultiCiência: E como o CD-ROM está estruturado?

JC: O CD-ROM traz uma apresentação da proposta do TCC, traça uma evolução do emprego da fotografia nas páginas do noticioso, cuja história é dividida por décadas; além de um perfil biográfico de Joãozinho. Conta, ainda, a história do jornal/cidade de Petrolina, reúne imagens das capas do impresso, entrevistas no formato PDF das fontes e traz a bibliografia consultada.


Agência MultiCiência: Que momento da pesquisa mais o impressionou e quais entrevistas foram mais importantes para a elaboração do trabalho?

JC: O momento mais impactante do trabalho foi à apresentação do CD-ROM, elaborada na forma de uma carta a seu Joãozinho, fomos as lágrimas escrevendo aquilo, entende? Escrever uma carta a alguém que jamais irá lê-la? Fiz o esboço geral, Nomeriana leu depois e ambos concordamos que aquilo havia sido uma das melhores idéias do TCC. Quanto às entrevistas todas tiveram sua importância, porque cada uma foi como um pedaço do quebra-cabeça que permitiram construir e contar, como era o emprego de fotos no Pharol, a história do jornal, e quem era o seu Joãozinho.


Agência MultiCiência: E como você verifica o trabalho de resgate, aqui na região? Tem existido uma preocupação em preservar a história dos jornais?

JC: A percepção da importância de se preservar e resgatar a história dos jornais, produzidos na região, cresceu e tomou forma a partir da implantação do Curso de Comunicação Social e dos estudos surgidos a partir da instituição. Nunca antes eu havia notado maior preocupação em contar, de forma pormenorizada, crítica e sob vários pontos de vista, a história desses jornais. Antes existiam livros que contavam a história de Juazeiro e Petrolina, mas que abordavam muito superficialmente esses periódicos. Diziam, por exemplo, jornal tal foi fundado ano tal, circulou até ano tal. Agora não, você tem estudos e pesquisas mais profundas, e que abordam outros temas dentro do contexto maior, que é o da história da imprensa. Hoje, há pesquisas sobre o fotojornalismo, os editoriais, enfim, o conteúdo dos noticiosos.


Agência MultiCiência: E quanto as políticas públicas, há ou não incentivo a preservação desse patrimônio?

JC: Pelo menos, que eu conheça, ainda não há dentro das políticas culturais de Petrolina, Juazeiro e das demais cidades do Vale, preocupação com a preservação da história da imprensa Sanfranciscana. De vez em quando são publicados livros sobre os jornais, com apoio de empresas e do poder público, mas é muito pouco. É preciso preservar os acervos, escritos e audiovisuais e colocá-los à disposição da sociedade. Falei história da imprensa, mas na verdade se trata da história da comunicação, por que quando falo audiovisual, quero defender que a história da produção cinematográfica da região também tem que ser contada e preservada.


Agência MultiCiência: Foi falado antes sobre a emoção, que vocês tiveram durante o resgate da história, revelando o quanto o trabalho de pesquisa é um processo que envolve o sentimento do pesquisador. Como foi o trabalho de vocês junto à família de Joãozinho?

JC: Não tivemos muito contato com a família de Joãozinho. Nós entrevistamos a filha, Dona Darcy, com a presença de uma das netas, mas olhando para trás, creio que poderíamos ter feito mais uma ou duas entrevistas com ela, para saber mais sobre seu Joãozinho. Também não tivemos oportunidade de conversar com outros familiares.


Agência MultiCiência: Como você destaca a relevância da difusão dos trabalhos científicos para a sociedade Juazeirense? E o que você espera despertar no público com o seu trabalho?

JC: É fundamental divulgar o método cientifico a qualquer comunidade/sociedade, e mostrar que por trás desse nome aparentemente frio, ciência, está à produção de conhecimentos e de trabalhos capazes de nos realizar pessoalmente, de nos engrandecer, de permitir que façamos algo importante também para outras pessoas. Cada vez que falo do TCC, do jornal o Pharol e de seu Joãozinho, penso que estou contribuindo para que mais pessoas se interessem em conhecer a história do periódico e também em produzir CDs-ROM que tragam algo relevante para o nosso conhecimento. Nosso conhecimento de pedaços da história da cidade onde vivemos, afinal, o que é mais próximo a nós é o que nos é mais relevante.



Por Káll Britto