Duas Cidades, uma arquitetura por Andréa Cristiana

. 17 outubro 2008


Passeio por suas ruas, admiro casas, caminho por avenidas largas, ruas estreitas. À beira do que restou do cais, ainda posso admirar o pôr-do-sol e as águas do opara. Terra de acolhida de viajantes, é o olhar do estrangeiro que te admira. Saio à procura de sua história e vou ao encontro dos homens e mulheres que a construíram e a tornaram duas cidades belas à margem do Rio São Francisco.


Juazeiro, Petrolina, onde guardas a tua beleza? Juazeiro, Petrolina, qual fronteira te distingues? A Joazeiro, a Petrolina, outrora Passagem de Joazeiro, cidades emancipadas e orgulhosamente cientes de suas diferenças, de sua cultura, sua gente, mas com um legado em comum: o patrimônio arquitetônico que reúne uma história de conquista, honra, glória para torná-las um lugar para viver e morar?


Esse é o cenário da Exposição Cal, Barro & Luz, que apresenta imagens das casas, casarios, casarões, construções preservadas, outras abandonadas ao descaso. Sob o olhar da fotojornalista Jackelina Kern, as cidades se unem em um mesmo ambiente, cujo objetivo não é denunciar as diferenças da paisagem arquitetônica, mas ressaltar a memória entrevista por entre suas construções. No tempo e espaço, uni-las por meio de imagens por quem a escolheu como sua morada.


Na exposição, a memória, esse fio de Ariadne que nunca se interrompe, faz-nos voltar ao tempo em que os homens erigiram construções. É a estação que nos trazia mantimentos e pessoas para admirar o sertão, o açougue municipal, hoje abrigo para ressoar os maracatus.


As imagens também nos convocam a pensar: o que fizeste de ti, do teu passado? Será que todos sabem da importância da Ferrovia Leste, da qual ficou apenas a Estação de Piranga; de como sua gente lutou para construir casas e, depois de anos, são demolidas para dar lugar a um centro comercial, sem haver um cuidado em preservá-la.


Poderíamos indagar sobre qual a importância de procurar no barro, na cal e na luz os vestígios do passado. O caminhar apressado por entre suas ruas e avenidas pensando apenas no futuro nos faz, geralmente, insensíveis aos vestígios que o passado nos legou. Contudo, não somos eternos andarilhos, homens que não deixam suas marcas. O nosso legado é deixar às gerações futuras uma imagem, uma casa, uma lembrança. Quero passear com os meus filhos e falar do orgulho que sinto ao ver a casa, outrora de Pacífico da Luz, hoje morada do seu filho padre Bernardino; do porão da casa do Miguel Siqueira e local de brincadeiras de Dona Dinorah; do sobrado, alegria de Bebela; da porta de madeira talhada pelos artífices Saul Rosas, Cecílio Matos, Edgard Bandeira, um símbolo ao trabalho, à arte ribeirinha, à sua gente.


É este sentido de pertencer a um lugar, uma terra, uma história compartilhada que nos traz a exposição Cal, Barro & Luz, que fica aberta à visitação no Museu Regional do São Francisco, em Juazeiro, até o dia 5 de novembro. Ela nos convida a conhecer a cidade: o detalhe da platibanda, a marca da chuva e da poeira do tempo, a alegria de enxergar o belo onde hoje habita o abandono. Convida-nos a ver Juazeiro, Petrolina, como duas cidades, um só lugar, uma só morada.



Andréa Cristiana Santos, jornalista e professora do DCH III-UNEB.