Juazeiro, cidade com cerca de 230 mil habitantes, apenas uma empresa detém a permissão para explorar o serviço de transporte público

. 27 outubro 2008
População aguarda transporte público por longos minutos

Reportagem Especial: por Thiago Gonçalves


João Barbosa é juazeirense e morador do bairro Piranga. Todos os dias, ele precisa pegar, em média, cinco ônibus para realizar suas atividades. Pela manhã, João vai ao centro da cidade fazer seus trabalhos da faculdade e/ou resolver problemas pessoais, retornando logo após para casa. À tarde, pega dois ônibus para chegar à Universidade do Estado da Bahia (UNEB), onde cursa Comunicação Social Jornalismo em Multimeios. Quando acaba a aula, o estudante vai andando até a Avenida Adolfo Viana esperar o ônibus que o leva à Universidade de Pernambuco (UPE), em Petrolina, onde estuda Letras, chegando a casa no final da noite.

Esse trajeto diário, além de causar um desgaste físico, ocasionado pela espera no ponto e o tempo gasto dentro do ônibus, compromete parte do dinheiro que João recebe de seus pais. Por dia, ele gasta, em média, R$ 4,70, o que equivale, levando em cosideração de segunda a sexta, a um gasto de R$ 112,80 por mês. João reclama que isso trás indignação, pois além de pagar caro tem que esperar cerca de 30 minutos no ponto e mais 50 minutos dentro dos ônibus para chegar à UNEB. Como não há ônibus direto, ele precisa passar pelo terminal.

Assim como João, outros juazeirenses que não possuem veículo próprio precisam, diariamente, utilizar o único transporte coletivo urbano da cidade, o ônibus, seja para trabalhar, estudar ou passear nos fins de semana. Segundo o coordenador de transporte da Secretaria de Transportes e Serviços Públicos (SETESP) de Juazeiro, Onias Mendes são vendidas em média 450 mil passagens por mês. No entanto, apenas uma empresa de ônibus oferece o serviço na cidade.

Em Juazeiro, os primeiros veículos a fazer o transporte de passageiros eram combis e marinetes, carros que conduziam um pequeno número de pessoas, sendo a primeira linha destinada a para Petrolina e posteriormente de um bairro para outro de Juazeiro. A partir da década de 1950, o então prefeito José Padilha de Souza assinou a portaria n°749, concedendo a exclusividade do transporte para o grupo empresarial que até hoje detém a única frota que desempenha o serviço urbano de transporte no município. A frota é de 36 ônibus, incluindo os veículos-reserva.

Onias Mendes afirma que a regulamentação do transporte coletivo é feito através de permissão, concedida a empresa que esteja habilitada a prestar o serviço. Questionado sobre a possibilidade da concessão para mais uma empresa, ele responde que Juazeiro não comporta a entrada de outra empresa de ônibus. A justificativa é que a facilidade na compra de motos e carros e a utilização do mototáxi estão provocando a diminuição do número de usuários. O coordenador de transporte afirma que, de acordo com o contrato social que ele tem conhecimento, duas empresas (Joafra e Joalina) atuam na cidade. As empresas citadas foram procuradas, mas a informação é que a Joalina só atua em Petrolina.

Na vizinha cidade Pernambucana, quatro empresas (Joalina, Menina Morena, Vale do Sol e São Francisco) prestam o serviço, para uma população estimada em 268 mil habitantes, ou seja, Petrolina possui apenas 38 mil habitantes a mais que Juazeiro, mas conta com quatro empresas, enquanto a cidade baiana com uma.

O estudante João Barbosa afirma que Juazeiro precisa de mais uma empresa de ônibus para que o serviço seja melhorado. “O transporte público de Juazeiro precisa de concorrência, porque se esta não existe não há qualidade”, enfatiza. Ele diz que os ônibus da Joafra possuem estrutura precária, e, muitas vezes, as pessoas ficam esperando no ponto e eles não passam porque estão quebrados. Outro problema destacado por João é o preço da passagem. Ele afirma que o usuário paga caro para percorrer uma pequena distância em um ônibus péssimo e lotado. Além de problemas na estrutura do serviço oferecido, o estudante reclama do mau atendimento. “O atendimento feito pelos cobradores e motoristas é ruim; há prazo para compra de passe, se passar daquele dia o estudante não pode comprar mais. Eles pensam que estão fazendo um favor aos estudantes”, afirma.

Para quem necessita de uma cadeira de rodas para se locomover, a situação é ainda mais difícil. Na cidade, nenhum ônibus é adaptado para o transporte de deficientes físicos. O cadeirante, James Medrado afirma que, em Juazeiro, os portadores de deficiência física encontram dificuldades para se locomover devido à falta de acesso às calçadas e ao transporte público. “Se houvesse transporte coletivo adaptado iria facilitar muito a vida dos deficientes físicos, principalmente daqueles que moram nos bairros distantes do centro e precisam que outras pessoas venham empurrando eles”, declara. James expõe que por morar próximo ao centro e ter uma cadeira triciclo pode fazer suas atividades sozinho. No entanto, para os que moram distante isso é difícil. Segundo ele, o transporte adaptado traria independência e autonomia.
O coordenador administrativo da Joafra, Evanildo Manuel, foi procurado para falar sobre os problemas destacados pelos usuários, mas não foi encontrado pela Equipe de Reportagem .

Moto táxi
Uma alternativa para os juazeirenses é o moto táxi. Segundo o membro da diretoria da Associação de Condutores Autônomos Profissionais Motoboys e Mototaxístas do Estado da Bahia (ACAMPMMEB), Adilson Santos, atualmente há cerca de 700 moto taxistas na cidade, destes 360 fazem parte da associação. No entanto, o serviço não é regulamentado.

Adilson afirma a não regulamentação se deve a falta de políticas públicas no município, pois cidades como Senhor do Bonfim e Feira de Santana na Bahia, Crato no Ceará já possuem moto táxi. A prefeitura municipal promete regularizar o serviço.

No Brasil, cerca de mil cidades têm o serviço regulamentado e em outras mil existem de forma ilegal. No entanto, essas leis municipais de regulamentação são inconstitucionais, pois de acordo com a Constituição Federal, as regulamentações sobre as atividades de transito e transporte são privativas da união. Atualmente 23 Projetos de Lei referentes ao moto táxi e moto frete tramitam na Câmara Federal e no Senado.

Segundo Adilson, a regulamentação traria benefícios, como geração de emprego e segurança para os passageiros. Ele explica que, acabando com a ilegalidade, todas as motos serão sinalizadas e numeradas, caso haja algum problema o cliente vai poder reclamar junto à associação. “Muitos pegam motos, sem saber com quem estão pegando, aí acontecem coisas erradas e eles pesam que é mototáxi. Mototaxistas somos nós, todos padronizados com a camisa da associação”, declara. Ele defende ainda que o serviço gera emprego e traz renda para a cidade. “Antes do mototáxi não havia tantas concessionárias de moto”, conclui.

O estudante de Engenharia da Computação da Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), Deleisson Ariel diz que o mototáxi é rápido e eficiente. No entanto, não merece credibilidade por ser um serviço ilegal. “Nunca se sabe se o condutor faz parte da associação ou se é um delinqüente se passando por mototaxista”, declarou.

Enquanto o poder público não se mobilizar para melhorar o transporte público em Juazeiro, a população vai continuar utilizando ônibus lotados e pagando caro pela passagem, além de se submeter ao mau atendimento do transporte público existente. Cabe a cada juazeirense fiscalizar o serviço oferecido e cobrar do poder municipal a solução dos problemas.


Por Thiago Gonçalves, estudante de Jornalismo em Multimeios da UNEB.