87 velas para Maria Franca Pires

. 13 novembro 2008
Final da tarde de quarta-feira, 5 de novembro de 2008. Quem chegasse à primeira sala do lado direito da Escola de 1° Grau Maria Franca Pires pensaria que um grupo artístico terminara de apresentar mais um espetáculo às eufóricas crianças. Foi quase automático: assim que as palmas cessaram, uma turba se aglomerou em torno dos(as) espantados(as) “artistas” (Elane, Juliana, Marcos e eu, Osete) suplicando uma comunicação futura: Msn, Orkut, E-mail ou qualquer coisa que estendesse o laço recém-criado.

Só mais tarde, demos-nos conta da carência afetiva que circula o cotidiano daqueles meninos e meninas, acostumados a pouquíssimas possibilidades de, entre uma lição e outra, adentrar num mundo povoado por imagens e sons fascinantes. Tudo cuidadosamente recolhido por uma pessoa que teimosamente se manterá viva por muito tempo, 20 anos depois de seu encantamento. O nome dela? Maria Franca Pires.

Pesquisadora incansável dos fragmentos de memórias que viviam na “cabeça do povo” e nos registros históricos documentados, Maria dedicou sua trilogia “Você acredita em assombração?”, “Lendas do Velho Chico” e “Juazeiro - Bahia”, “letra por letra”, às crianças juazeirenses. Na verdade, Maria Franca Pires dedicou sua vida à formação humana e escolar da infância de seu tempo.


Como professora primária, ela gostava de olhar para o passado a fim de rever aqueles mesmos meninos e meninas que a ajudaram a se realizar como pessoa “cooperando no progresso das comunidades, como médicos, engenheiros, advogados, agrônomos, professoras; todos brilhando como as estrelas do céu”. E como mais uma estrela na constelação da vida, Maria continua brilhando em tudo o que diz respeito às narrativas na esteira do tempo de Juazeiro, por meio de seu arquivo pessoal.

Um arquivo aberto a várias possibilidades de passeios pelas mudanças e permanências socioculturais na história local. Um ensejo sem dúvida alguma para os anseios das instituições escolares: a possibilidade de um aprendizado com vistas à constituição histórica de Juazeiro. Ao escrever sobre Juazeiro, Maria imprimia um estatuto histórico à nossa paisagem cultural habitada de riquezas peculiares.

Por isso, temos plena consciência das muitas contribuições advindas do encontro entre as instituições escolares da rede municipal e o arquivo de Maria Franca Pires. De tal maneira que resolvemos iniciar, na tarde da última quarta-feira, a apresentação das produções resultantes do projeto de pesquisa e extensão “O Arquivo de Maria Franca Pires: memória e história cultural em pesquisa na região de Juazeiro-BA”, coordenado por Odomaria Macedo, professora do Departamento de Ciências Humanas/UNEB.

A data escolhida não foi por acaso: dia 5 de novembro, além de ser o Dia Nacional da Cultura, é aniversário de Maria Franca Pires. Dia em que ela apagaria 87 velas. As visitas irão se estender até o próximo dia 3 de dezembro, quando já teremos ido às Escolas Municipais Dinorah Albernaz, Maria de Lourdes Duarte, Guiomar Lustosa, Judite Leal e Argemiro José da Cruz.

Até a última troca de experiências com as crianças da rede municipal quantas velas acenderemos? Eis uma questão difícil de responder, afinal de contas, o que sabemos é que, como diria Caetano: “Gente é pra brilhar / Não pra morrer de fome”.

Seja de qual fome for...

Por Luis Osete, estudante de Jornalismo em Multimeios/UNEB e pesquisador de iniciação científica do projeto História Cultural da cidade de Juazeiro a partir do Acervo de Maria Franca Pires