Diplomá(ticos) do cozer

. 18 junho 2009
Não, Excelentíssimo Senhor Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, não deveríamos ser comparados a cozinheiros, mas talvez a algum produto comercializado nas feiras livres. “Quem quer ser jornalista?”, “Vamos comprar freguesa que a notícia tá fresquinha”.

Concordo Excelentíssimo, quando o senhor afirma que “a formação específica em cursos de jornalismo não é meio idôneo para evitar eventuais riscos à coletividade ou danos a terceiros”. Acrescento a isso que nenhum curso de ensino superior o é, tampouco a finalidade de um curso de jornalismo seja essa. Jornalismo é uma ciência!

Um dos pioneiros a reconhecer tal fato foi o teórico alemão Otto Groth, ao revelar, na primeira metade do século XX, que o exercício diário do jornalismo exige uma metodologia científica no desenvolvimento de uma reportagem, passos que se repercutem independente da sociedade e da sua cultura específica.

Para o jornalista e teórico José Marques de Melo, o jornalismo pode ser definido como “ciência que estuda o processo de transmissão oportuna de informações da atualidade, através dos veículos de difusão coletiva”. Portanto, uma formação básica é fundamental para o exercício do jornalismo.

Mas quem irá questionar a legitimidade da decisão judicial? Eu, estudante de jornalismo do último semestre que um dia acreditou ser, essa profissão, o caminho para termos um mundo melhor, uma sociedade mais justa e digna? Eu, que estudei para ser aprovada em um curso de Jornalismo de uma universidade pública, gratuita e de qualidade? Pra quê? Tudo utopia: nem o curso de jornalismo nem a universidade com essas adjetivações existem. Talvez os meios ditos ‘legais’ devessem se preocupar com esse assunto: educação. Ainda mais quando o referido ministro afirma que “o fato de um jornalista ser graduado não significa mais qualidade aos profissionais da área”. Qual o escopo de uma universidade? Pelo visto nos cursos de direito, tão exigentes e idôneos, estão ensinando a fazer comida.

A decisão do STF foi um golpe sim, mas não apenas para os estudantes de jornalismo ou jornalistas por formação, mas principalmente para a sociedade brasileira. Que jornalismo teremos? Qual jornalismo queremos? Por quê e para que ser jornalista? Qual sentido dessa “profissão”? Que liberdade de imprensa é essa que cala os próprios jornalistas? Meio adequado é a justiça, esse sim é isento de erros ou danos. Pela lógica do ministro Cezar Peluso, teremos agora a garantia de um jornalismo sem deficiência de caráter, retidão e ética. A mim, só restam dúvidas....


Por Silvana Costa