Histórias de um Futebol Juazeirense

. 17 julho 2009
O estádio estava lotado, como nunca fora visto antes. Toda a cidade mobilizada às ruas em direção ao palco do espetáculo, empunhando bandeiras, bradando gritos de amor. Uma profusão de alegria, de cores e vibrações tomava conta do público, que se espremia nas arquibancadas para não perder um só lance. O foguetório anunciava a entrada dos combatentes em campo. Olaria e Veneza, times que juntos somavam o maior número de conquistas do campeonato local, enfrentavam-se no ano de 1972, marcando a reabertura do estádio Adauto Moraes. Naquele dia, dentro das quatro linhas, o Olaria saia vitorioso com o expressivo placar de 2 a 0. No entanto, fora de campo, quem ganhava era o torcedor, certo de que a paixão pelo futebol era recompensada à altura. São cenas como essas que demonstram que a história do futebol em Juazeiro é marcada por sucessos.

Desde 1917, jogos amadores lotavam o estádio Juazeirense, hoje Adauto Moraes. As partidas entre times como Fluísco, XV de Novembro, Juventus, América, Carranca e, principalmente, Olaria e Veneza, equipes de maior torcida e protagonistas do grande clássico da cidade, proporcionavam à população um dos acontecimentos mais grandioso do município. O futebol em Juazeiro foi oficialmente fundado em 1923. Dava-se um grande passo para o crescimento do esporte na cidade com a criação da Liga Desportiva Juazeirense, que tinha à frente nomes importantes, como Saul Rosas e Cecílio Neto.

Os primeiros torneios passariam a ser realizados com maior organização. As equipes eram formadas em campos improvisados dos próprios bairros, ou, como no caso do “640”, time dos soldados do Tiro de Guerra, por grupos de trabalho. Castro Alves, Associação Atlética Juazeirense, Bahiano e Botafogo eram alguns dos principais times da época. O futebol amador juazeirense projetou vários jogadores para o cenário do esporte nacional.

O desportista e comentarista esportivo Augusto Moraes, que participou diretamente de diversas fases do futebol local, relembra: “por volta dos anos 60 e 70, o time do Galícia de Salvador, por exemplo, vivendo sua época áurea no futebol profissional, levou daqui seis jogadores, como Jaime Pirrucha, Taladinho e Zé Odorico que constituíram a base do time que era a sensação da Bahia”. Augusto ressalta ainda Dozinho e Caboclinho, considerados as “pérolas negras” do futebol juazeirense. Os jogadores foram requisitados por equipes de quase todo o Nordeste. Dozinho ainda jogou no Ceará, no Rio Grande do Norte e teve seu auge no Vitória. Caboclinho chegou a receber convite do Flamengo: “eu recusei sim e não me arrependo. Naquele tempo, o futebol era diferente, não dava dinheiro como dá hoje, os jogadores não eram bem vistos. Mesmo as condições aqui não sendo as melhores, eu sabia que se fosse para o Rio iria passar necessidades e acabar escolhendo caminhos piores, como muitos colegas meus fizeram”, afirmou o ex-jogador.

Além desses, outros jogadores da terra destacaram-se mundialmente, como é o caso de Luiz Pereira, conhecido na época como “Chevrolet”, e Nunes. Segundo dados da pesquisa “Do amador ao profissional”, realizada por Augusto Moraes e Herbert Mouze, o juazeirense Luiz Pereira ainda criança foi levado pelos pais para São Paulo. Lá defendeu o Palmeiras, sendo um dos responsáveis pela jogada ousada de um zagueiro de área deixar seu campo defensivo e ir para o ataque fazer gols. Chegou à seleção brasileira, na década de 70, com destaque. Em 1992, ao lado de Rivelino, Pereira capitaneou uma partida da Seleção Brasileira de Másteres, no Adauto Moraes.

Igualmente reconhecido, Nunes não é natural de Juazeiro, mas deu os primeiros chutes nos campos da cidade. Chegou a jogar no Carranca e no Olaria, atuou no time profissional do Confiança de Sergipe e se projetou jogando pelo Santa Cruz de Recife. Então, foi para o Rio de Janeiro, onde defendeu a Seleção Brasileira e o Flamengo, time com o qual foi campeão brasileiro e mundial. O futebol amador por várias vezes inseriu Juazeiro no circuito do esporte nacional, como na época em que trouxe equipes titulares e campeãs a exemplo do Vasco, Botafogo e Flamengo, ou quando recebeu, em 1977, o então presidente da FIFA, João Havelange. Tinha no torcedor, sempre presente, vibrante e barulhento, um espetáculo à parte.

No entanto, apesar de sua importância no cenário sócio-cultural da cidade, o esporte encontra-se decadente. A 86ª edição do Campeonato Juazeirense de Futebol Amador teve início em maio deste ano, com a participação de oito equipes e baixa média de público. O Campeonato, que não provoca mais a mesma repercussão na cidade, é ofuscado, em parte, pelo futebol profissional, que já esteve entre os principais times da Bahia como o Juazeiro Social Clube e hoje tenta o retorno para a elite do futebol baiano, com a Sociedade Desportiva Juazeirense.

Por Inês Guimarães, Jornalista em Multimeios, matéria exclusiva para o jornal Folha do São Francisco.