Mandacaru, o primeiro perímetro irrigado em Juazeiro

. 16 julho 2009
Na década de 1970, com a política de investimentos federais na agricultura nordestina, a cidade de Juazeiro - BA foi contemplada com seu primeiro projeto de irrigação, o Mandacaru, criado em 1971. Famílias oriundas de vários lugares do Brasil encontraram, além da terra fértil para o plantio, a oportunidade de melhorar de vida. Solange Benedita Sousa, moradora do Projeto Mandacaru, conta que costumava dizer para o seu pai: eu sou sua estrela da sorte.

Três meses depois do seu nascimento, o pai foi selecionado para ser um dos colonos do Projeto Mandacaru. “Chegamos aqui em outubro de 1973. Estudei na Escola Piloto Mandacaru, espaço muito significativo de convivência da juventude desse lugar. Hoje sou formada em Letras, leciono na escola onde estudei durante a infância e adolescência. É muito satisfatório, saber que estou contribuindo de alguma forma para o desenvolvimento do lugar onde cresci”, comenta Solange que, assim como outros jovens do lugar investiram em uma profissão mas fizeram a opção de ficar no distrito.

O nome Mandacaru foi escolhido para batizar o perímetro, devido ao nome homônimo da planta característica do semi-árido nordestino, famosa por sua capacidade de armazenar água nos dias chuvosos, para sobreviver no período de seca. Com sua estrutura envolta a espinhos, o mandacaru brota uma flor muito delicada, de beleza rara. Então, quando se pensa nesse distrito, logo se imagina que, nas ruas, há pé de mandacaru por todos os lados, e realmente tinha alguns em pontos estratégicos, mas - não se sabe o porque nem tão pouco quem - decidiu por retirar a planta símbolo do lugar. 

Pedro Bernardino, um dos fundadores do projeto, explica que existem em Juazeiro outras localidades com o nome Mandacaru, o que às vezes pode levar a confundir o endereço, mas ele lembra que o projeto foi o primeiro a usar a nomenclatura.

Para diferenciar dos demais, quando se refere a esse projeto, usa-se sempre a denominação Mandacaru I. O morador conta que, quando os agricultores tomaram posse dos lotes de irrigação, investiram na plantação de arroz, mas essa cultura não se adaptou ao ambiente. Já o cultivo de tomate, cebola e, anos mais tarde, o melão, proporcionou riquezas e modificação na infra-estrutura do lugar.

As casas pequenas foram ampliadas, os moradores compraram carros, construíram escolas, igreja, clube, praça, posto de saúde e policial, quadra esportiva e até agências bancárias instalaram seus postos de atendimento no lugar. Contudo, o tempo também trouxe modificações como planos econômicos que não deram certo – como o Cruzado -, transição da moeda com as URVs e, depois o Plano Real; o surgimento do agronegócio. Tudo isso, somado ao pouco conhecimento administrativo dos pequenos agricultores, freou o desenvolvimento econômico dos primeiros anos. “A diversificação de cultivo tem sido a alternativa mais viável,” comenta Pedro. O projeto Mandacaru começou com a vila dos colonos, depois surgiram mais duas vilas chamadas Juca Viana um e dois. No início dos anos dois mil, surgiu mais uma vila que recebe a mesma nomenclatura só que acrescentada do número três – Mandacaru III. Apesar da crise da agricultura agroexportadora, o lugar se expande. Nessas novas vilas, fica localizado o comércio ainda tímido e acontece também o campeonato de futebol amador, Liga Desportiva do Mandacaru, realizado desde 1994 nos meses de maio a setembro.

Segundo Monzart Rodrigues Ramos, participante assíduo do evento, Mandacaru tem oito times e conta com a participação de agremiações de futebol de povoados circunvizinhos. Nos dias quentes a população tem como opção de lazer as margens do São Francisco e a Ilha Culpe o Vento. É proibido banhar-se nos canais que levam águas para as roças, mas há sempre quem dê um jeitinho de quebrar essa regra. No dia-a-dia, é um distrito tranquilo, as pessoas nos fins de tarde costumam sentar-se defronte às suas casas, crianças ainda brincam de futebol e bola nas ruas.                    

Para lembrar a origem do lugar no mês de julho, acontecem festividades em comemoração ao dia do agricultor. Este ano, as festas irão ocorrer no final do mês de agosto. Durante a semana que antecede a festa dançante é realizado o culto em gratidão a Deus na Igreja Batista Betânia e a missa na Igreja Nossa Senhora da Conceição, padroeira da comunidade, no dia do enceramento, as comemorações começam com alvorada e um carro de som por volta das 5h da manhã que percorre as ruas convidando os colonos a participar desse momento. Em seguida, a solenidade de hasteamento da bandeira, ao meio dia o tradicional churrasco dos colonos e, à noite, festa dançante.

                                                                                                                                 Por Abgaela Martins