Professor enfrenta desafios e cobranças na profissão

. 11 setembro 2009
O sociólogo Herbert José de Souza, mais conhecido como Betinho, defendia que um País não muda por sua economia, política, nem mesmo por sua ciência, mas através de sua cultura. Neste aspecto, Juazeiro tem um enorme desafio: investir na valorização da educação e da cultura. Para vencê-lo, é necessário garantir o desenvolvimento social e humano, melhorando as condições de trabalho e possibilitando bons salários aos profissionais.

Com essa visão, o Governo Federal, instituiu a Lei 11.738 de 16 de julho de 2008 visando implantar o piso salarial dos professores de R$ 950 até o próximo ano. Este pode ser o início da valorização institucional da categoria, mas existe um dilema. O Supremo Tribunal Federal foi acionado por prefeitos e governadores e decidiu acatar a solicitação de que o piso seja R$ 950 para 40 horas semanais, incluindo neste valor as vantagens trabalhistas.

A decisão do STF é questionada pelos sindicatos dos professores. Em Juazeiro, a Secretaria de Educação e a APLB/Sindicato fizeram um acordo, no qual os profissionais recebem os 950 reais, acrescidos das vantagens: 20% de produtividade, 10% de regência, 5% de triênio e 15% para o professor alfabetizador no final do mês. É um avanço, mas os desafios são muitos e o professor ainda não está satisfeito, pois a carga horária aumentou e os espaços escolares estão deteriorados.

Janelas com vidros quebrados, muros quase caindo e falta de material didático. Essa é uma realidade vivida por professores e gestores. Muitos dão turno em duas ou mais escolas, sofrem para chegar ao local de trabalho e não encontram um espaço agradável. Das seis escolas visitadas pela equipe de reportagem, apenas duas têm instalações e material didático suficiente – o Colégio Municipal Paulo VI e o Centro de Assistência Integrada à Criança (CAIC). As demais apresentam infra-estrutura deficitária, como a Aprígio Duarte, a Carmem Costa, o Educandário João XXIII e a Graciosa Xavier.

O Secretário de Educação, Plínio Amorim reconhece a situação e acredita ser muito difícil o município responder sozinho por cerca de 30 mil alunos e mais de 100 unidades escolares. “Sem o apoio do Governo Federal nenhuma prefeitura pode reordenar sua rede e melhorar as estruturas. Temos elaborado o Plano de Ações Articuladas, onde a gente espera receber recursos federais e investir na área”, afirma o secretário, alertando que a implantação deverá se prolongar.

Além de reclamar da estrutura da escola, a professora Carla Cristina dos Santos lamenta a falta de apoio dos pais. Por isso, os professores defendem investimentos do governo na capacitação das famílias. A Coordenadora Administrativa do CAIC, Jaciara Sampaio, enfatiza que o estado pode promover palestras, campanhas e incentivar a participação delas na escola.

Exercer a função de professor virou um tormento. O número de profissionais com depressão aumenta e há o crescente medo da violência. As “liberdades” dadas aos alunos, como os professores denominam no atual método de ensino, dificultam o controle da sala e estressam os profissionais, angustiando-os. No colégio Paulo VI, dos 73 professores, seis foram diagnosticados com depressão. Um dos casos é muito grave e a professora está afastada por licença médica.

O não domínio da sala de aula e de convivência com a diferença faz com que professores tenham pensamentos retrógrados, como comparar o ensino atual com o do passado. A professora Darci Nascimento declara que o ensino tradicional era melhor. “Não havia desinteresse do aluno e o professor era respeitado”, diz.

Jaciara Sampaio ressalta que a maior parte dos alunos vive num mundo desumano e de violência. “Quando a gente vai visitar um aluno e chega lá, ele está sozinho. A gente pergunta o porque e ele responde que sua mãe está presa por mandar matar seu pai. A violência provoca a indisciplina”, afirma.

Além de enfrentar e suportar tudo isso, os professores lamentam fazer parte de uma profissão desvalorizada, o que no passado não era assim. Talvez não fosse bem remunerada, mas tinha prestígio social. O Coordenador da APLB/Sindicato, Antônio Carlos dos Santos, comenta que, qualquer ato público tinha a presença de um professor, um médico e um padre. Hoje, ele não é convidado nem para uma festa na escola em que trabalha.

A Coordenadora Pedagógica do Paulo VI, Eliane Maia, comenta que a profissão parou no tempo e não conseguiu acompanhar os avanços tecnológicos. “Quando o professor e a escola perceberam isso passaram a se adequar às novidades das multimídias, mas não há apoio e investimentos suficientes para satisfazer essa necessidade”, explica, esperançosa, num futuro promissor.

A professora Suzana Greyci trabalha no CAIC e enfatiza que, historicamente, a profissão era valorizada porque era exercida por homens ricos e pelos jesuítas.

Pode ser saudosismo, mas este pensamento nos conduz a uma realidade preocupante, já que é uma profissão popular e diferentemente do passado, não goza de glórias, mas de lamentações, cobranças e desafios. “Antes eu ficava ansiosa para começar as aulas e tinha prazer em investir. Hoje, me sinto sufocada e acho um mês de férias muito pouco”, desabafa a professora Cátia Regina Dias.

Contudo, há os que não acreditam no passado glorioso. O professor Whash Alves diz ser uma mentira. Para ele isso é uma utopia, já que muitos professores adquiriam distúrbios mentais no exercício da profissão, o que não mudou. Outros pensam que agora o professor está mais valorizado. A Coordenadora Administrativa da Graciosa Xavier, Marlete Souza, afirma que o professor ganhava pouco, entretanto hoje ele faz seu salário. Para ela basta estudar, se esforçar e gostar da profissão.

Outra situação grave é a dos professores contratados que atuam na ilegalidade, pois a lei proíbe sua atuação, mas são aproveitados como mão de obra barata. Como os demais professores, precisam desembolsar 6% do salário para garantir o vale transporte que deveria ser gratuito. Na Escola Graciosa Xavier em Carnaíba do Sertão, a professora Gizelle Olívia Santos (foto) afirma que o contratado não recebe as vantagens. “É o salário base seco com os descontos do passe e INSS”.

Talvez o maior dos problemas enfrentados pelos professores seja a falta de organização dos trabalhadores. Segundo o líder sindical, Antônio Carlos dos Santos, eles só procuram o sindicato para reclamar do salário e não tratam das condições de trabalho. “Os professores não nos apóiam. Só cobram e ficam em casa como se o sindicato fosse obrigado a lutar sozinho. Penso que falta leitura a eles e por isso não sabem cobrar seus direitos”, conclui.

Quanto ao piso salarial, os professores afirmam que o aumento não significou muito, pois os salários pagos pela prefeitura eram próximos ou maiores que o piso. Todos receberam cerca de 12% de reajuste. Enquanto alguns demonstram satisfação, outros acham pouco. A diretora do Educandário João XXIII, Almira Teresinha Ribeiro, comenta que nunca é demais investir no professor. “Estou contente, mas ainda considero o salário defasado”, declara.

Por outro lado, a professora Lucimar Carvalho (foto) lembra que o professor educa para a cidadania e merece mais.

Já a Coordenadora Pedagógica do Carmem Costa, Flávia Dias, confessa que ninguém ficou satisfeito com o piso. “Sou coordenadora formada em pedagogia e falo como professora. Este piso não nos beneficiou em nada”, ressalta.

O que ninguém contesta é a atuação do professor. Todos afirmam gostar do que fazem e até investem na compra de material para dar boas aulas. A professora contratada Sidnéia Santos diz não ter dificuldade em exercer sua função, pois sabia das dificuldades e afirma que tudo que precisa tem de comprar. Sem infra-estrutura na escola, ela ainda usa o estêncil, mas queria utilizar recursos audiovisuais em suas aulas.

Os professores tentam superar as dificuldades e suas angústias oscilam entre a vergonha do que as autoridades fazem com a profissão e o medo do fracasso. Muitas vezes os políticos ignoram suas reivindicações e dificultam os investimentos no setor. Enquanto isso, o medo de fracassar, deprime, estressa, destruindo a carreira de bons professores.

Por Jorge Galego, texto e foto