Agrotóxicos devem ser evitados em plantio

. 01 outubro 2009
O valor nutritivo e a boa aparência influenciam na escolha de frutas e legumes. O consumidor, porém, não deve seguir estes critérios, pois não são indicadores suficientes de qualidade. Em abril desse ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) divulgou o último monitoramento de agrotóxicos feito na cadeia alimentar a partir de amostras de verduras e grãos como alface, batata, abacaxi, arroz, cebola, feijão, manga, pimentão, repolho e uva, que apresentaram quantidade irregular de resíduos químicos.

Usadas no manejo do cultivo, as substâncias químicas permanecem por determinado tempo nos alimentos, tornando o consumo inviável durante esse período. Porém, mesmo existindo informações quanto aos danos à saúde, muitos alimentos chegam à mesa das famílias com esses resíduos.

Considerando a importância da produção agrícola do Vale do São Francisco para o abastecimento de mercados nacionais e internacionais, pesquisadores do Departamento de Ciências e Tecnologia (DTCS) desenvolvem estudos sobre o uso de defensivos químicos.

“Os agrotóxicos não devem mais ser usados no cultivo de alimentos. As pessoas têm que se conscientizar disso, temos que partir para agricultura orgânica, que é como se fazia antigamente, pois a utilização dos produtos químicos foi uma imposição das potências européias, como Alemanha”, comenta a professora Maria Auxiliadora Silveira na sua tese de doutorado Agricultura produtivista e o uso de agrotóxico em Espanha e Brasil: uma análise em diferente escala.

Na tese, ela comenta que, no pós-guerra, houve muitos questionamentos sobre a destinação das armas químicas e, seguindo uma lógica de mercado, concluíram que “se as armas são boas para matar gente, logo servirão também, para matar os insetos das lavouras”. Na opinião da pesquisadora, no Brasil, aceita-se o uso do agrotóxico como se fosse uma verdade absoluta. “As pessoas se referirem aos agrotóxicos como remédios que matam pragas, mas não são remédios, são venenos,” declara. As pragas ficam resistentes, sendo preciso mudar constantemente de produtos no processo de manejo. Os resíduos químicos contaminam o solo, os lençóis freáticos, rios e o manuseio representa um risco para saúde do agricultor. Esses fatores fazem a pesquisadora acreditar que os benefícios proporcionados pelos agrotóxicos são mínimos diante das conseqüências negativas que geram.

Para o professor Osman Teles, que há 35 anos desenvolve pesquisas sobre a eficácia dos defensivos no combate e controle de pragas, o controle químico não deve ser usado como única ferramenta para proteger a plantação. O método deve associar-se a outros como o controle biológico. “Para cada praga há inimigos naturais. Hoje existem indústrias que já produzem defensivos que atuam de forma seletiva, sem matar os inimigos naturais e sem intoxicação, são chamados reguladores do crescimento dos inseto, que são substâncias que causam alterações no organismo do inseto alvo, reduzindo a espécie de forma progressiva, explica Osman.

Quanto à produção no sistema agrícola orgânico, o pesquisador diz que é possível adotá-lo em pequena quantidade, pois o método ainda não soluciona alguns problemas específicos da linha de produção. Segundo Osman, para se montar uma cultura orgânica seria preciso obter uma área virgem. Como a maioria dos produtores cultiva no sistema convencional, é necessário um processo de desintoxicação do solo que leva de três a quatros anos. Outro fator é o custo elevado da produção orgânica, além da produtividade ser menor se comparado ao método convencional.

Por não haver controle sobre os efeitos dos agrotóxicos, estudos são realizados para torná-los menos nocivos, ou ainda, substituí-los por métodos de agricultura orgânica cujos resultados garantam a colheita e a qualidade da safra.

Por Abgaela Martins