Nas entrelinhas, Zélia Almeida

. 23 outubro 2009


Bem disposta, a professora Zélia Almeida me aguardava na sala de professores da Universidade de Pernambuco (UPE), em Petrolina. Recepcionou-me com elegância e um belo sorriso nos lábios. A sua gentileza se sobressaia naquele cenário agitado, com professores apressados, alunos passeando pelos corredores e funcionários falando ao telefone.


Emocionada, Zélia Almeida abriu o baú da sua infância e recordou-se da fazenda Boa Sorte, localizada no município de Mundo Novo-Ba, onde nasceu no dia sete de Janeiro de 1930. Seu pai, Isibrito Bispo de Oliveira, era um agregado da fazenda e, com o tempo, mudou-se com sua família para a fazenda Caldeirão onde a sua esposa, Maria Almeida de Oliveira, tinha sido criada.


Com muita alegria, ela relembra as peraltices da Zélia criança na fazenda Caldeirão. “Brincava muito. Brinquei bastante com borboletas, de casinha, de quitute, bonecas e de comadre. Foi muito gostoso”. Apreciadora da natureza, ela tinha contato na fazenda com animais, dos quais a borboleta era o que chamava mais atenção. “A beleza e o colorido me atraiam e até hoje eu acho bonito, mas não me sinto uma pessoa voadora”, conta, entre risos.


Mesmo com as dificuldades que enfrentava, o gosto pelos estudos foi bastante incentivado pela matriarca da família. ”Não fui menina rica, sempre fui pobre. Mas minha mãe era voltada sempre para o estudo, podia não ter nada, mas tinha que estudar”. Orgulhosa ressalta que a sua mãe foi a sua primeira professora, autodidata, pois não tinha curso de magistério.


Na adolescência, a garota Zélia foi escolhida pela Igreja Presbiteriana, a qual fazia parte, para ir estudar no colégio Instituto Ponte Nova, na cidade de Vagner-BA. Era uma escola fundada por americanos e tinha alunos de todo o Estado. Os requisitos para a vaga era obediência e bom comportamento. Após muitas dificuldades, conseguiu ser selecionada e concluir o curso secundário


A partir desse momento, começaria a realizar o seu maior sonho: ser professora. O primeiro emprego foi numa escolhinha da Igreja Batista, na cidade de Rui Barbosa-BA. Posteriormente, recebeu um convite dos diretores da escola que havia estudado para ensinar no Instituto Samuel Granam, em Jataí, no sudoeste de Goiás. “Mas será que eu estou fazendo a vontade de Deus?”, perguntava-se. Bastante religiosa, conta que rogou a Deus: “se for sua vontade, eu aceito o convite”. Zélia não recusou o convite e foi morar em Jataí. “Eu estava radiante, começando a conhecer outras cidades. Sofri muito, senti muitas saudades da minha família, passei dois anos sem vê-los”.


Sempre muito dedicada, a Zélia adulta dividia-se em várias personalidades. Professora exigente, amiga, filha, irmã, tia e religiosa. Como educadora, sempre muito ativa, dedicou-se a várias áreas do saber, inclusive Educação Física. Em busca de mais oportunidades de estudo, decidiu morar em Juazeiro em 1968.


A iniciação como aluna de ensino superior foi na década de 1970 na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras em Juazeiro – BA. Optou pelo curso de Ciências Sociais, mas não concluiu, pois a faculdade deixou de funcionar. Contudo, não desistiu do sonho. Ela ingressou na Faculdade de Formação de Professores de Petrolina (FFPP), no curso de Licenciatura Curta em Estudos Sociais. Para a jovem, ainda era pouco. Zélia desejava formar-se em Licenciatura Plena em Geografia, porém conseguiu licenciar-se em História na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras na cidade de Caruaru - PE.


Durante alguns anos foi Coordenadora Pedagógica da Escola Marechal Antonio Filho (EMAAF). Na época, surgiu mais uma oportunidade de conhecer novas áreas do conhecimento. Zélia voltou à universidade e concluiu o curso de Pedagogia também na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, de Caruaru.


Ao longo de sua trajetória como profissional, Zélia Almeida trilhou um caminho de sucesso e deixou boas lembranças no colégio Edson Ribeiro em Juazeiro - BA, onde lecionava Educação Artística, no Ginásio Industrial de Petrolina e no Colégio Estadual de Petrolina.


A convite do professor Joaquim Santana, Zélia ingressou como professora substituta no curso de Licenciatura Plena em História, na FFPP. No ano de 1988, passou no concurso público e se tornou docente da disciplina História da Educação. Atuou como chefe no departamento de Pedagogia, como representante dos professores no Conselho de Ensino e Pesquisa, em Recife, e atualmente ensina nas disciplinas de Estágio Supervisionado. É a professora mais querida da faculdade.


O que mais encanta esta profissional é o relacionamento que mantém com os alunos. “É um sentimento de contribuição e isso me faz vibrar com a Educação”. Ser professor, para esta mestra, é um compromisso com a vida. “Educar é contribuir para a transformação de vida nos limites da ética, da moral e do espiritual”.


Emocionada, recorda-se de um episódio difícil nestes 21 anos de carreira. “Uma turma do curso de Pedagogia conseguiu o rascunho de uma prova minha. Todos tiraram notas boas. Desconfiei do que tinha ocorrido e não entreguei o resultado. Os alunos ficaram zangados ao ponto de falar que não ensinava nada. Fiquei muito chateada. Mas não chorei, fui forte, e toda vez, que entrava na sala deles dizia: apesar de que eu não ensino nada a vocês, vou trabalhar para que vocês aprendam alguma coisa”.


Os momentos felizes são muitos e com os olhos cheios de lágrimas, narra as palavras amigas de uma ex-aluna durante uma banca examinadora na Universidade do Estado da Bahia (UNEB). A aluna lhe disse: “não gostava de História, mas aprendi a gostar com essa mulher, esta professora”. Para Zélia, foi uma felicidade ouvir aquelas palavras.


Zélia hoje se sente uma menina com espírito jovial. Estuda diariamente e sempre lê a Bíblia. Assiste a filmes religiosos ou voltados ao campo educacional. Sorrindo, diz que é uma pessoa muito amada, preferindo aconselhar a entrar em conflitos. Quanto a carreira de docente, almeja permanecer mais um tempo: “Nunca me vir em outra profissão, porque foi um sonho. Eu sou feliz sendo professora. Professor é como se fosse o tijolinho da casa que se chama Educação”.


Por Alinne Suanne