Os cinco guerreiros

. 19 julho 2010
Há tempos, o futebol não me emocionava e surpreendia como o fez no último sábado. Não foi nenhum jogo do Bahia, da Seleção Brasileira, muito menos os times enlatados da Globo, a grande surpresa veio em um torneio de futsal, conhecido como “Torneio do Fera “ . O “Torneio do Fera” há anos é organizado pelos alunos do curso de Agronomia, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Tradicionalmente, os campeões sempre saem deste curso e, raramente, da turma Direito, ambos pertencentes ao Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS).

Esse ano o resultado não foi diferente, deu Agronomia na cabeça. Porém, nesse torneio, nenhum time brilhou tanto como o de Comunicação Social, habilitação Jornalismo em Multimeios, do Departamento de Ciência Humanas (DCH). Voltando à tradição da competição, sempre que um time do DCH disputa o Torneio do Fera a pergunta é sempre a mesma: vai tomar de quanto? E mais uma vez, esse ano não parecia ser diferente. Na hora da inscrição do time de Comunicação, todos os outros times eram formados por no mínimo sete jogadores, sendo cinco titulares e dois na reserva.

O time do DCH tinha apenas cinco jogadores e mais nada. Estava na cara que eles não conseguiriam chegar muito longe, afinal são seres humanos e cada partida durava 30 minutos. Mantendo a escrita, os cinco de Comunicação começaram o jogo perdendo. Quando dei por mim o time do oitavo período de agronomia já estava vencendo por 4x1. Parecia que, mais uma vez, o DCH sairia do torneio pela porta dos fundos. O jogo foi continuando, Comunicação conseguiu diminuir o placar para 4x2, o adversário fez 5x2. A partir desse 5x2, Edésio, Erivaldo, Hugo, Ivan e Mário, os cinco de comunicação, mostraram a todos que assistiam ao torneio que eles compunham um time singular.

Sem ter como fazer qualquer substituição, eles foram diminuindo o placar: 5x3, 5x4. Se o tempo fosse um pouco mais amigo, teriam conseguido o empate. O Time perdeu, mas perdeu jogando bem. A partir dessa derrota uma nova história passaria a ser contada no Torneio do Fera edição 2010.1. Na segunda partida, enfrentando o bom time da Plataforma Freire, quem diria, Comunicação goleou, foram tantos gols que não consigo lembrar o placar. A terceira partida tinha tudo para ser complicadíssima, os cinco enfrentariam o time da residência, que mesmo não sendo tão bom assim, estava em casa e tinha o apoio de todos, além de ter reservas. Se não fosse um gol de mão, no final do segundo tempo Comunicação venceria mais uma. 

Já aparentando cansaço, o time de Comunicação avançou para as quartas de finais do torneio. Para muitos, o que eles conseguiram já seria o bastante. Como obra do destino, o adversário, mais uma vez, foi o time da residência, eles pagaram caro pelo gol de mão; outra goleada de Comunicação e a vaga na histórica semifinal. Após quatro jogos e 120 minutos de muita garra, o adversário da vez seriam os grandes favoritos ao título e campeões da última edição, era a vez de tentar derrubar os “gigantes” formandos de Agronomia. Aqueles garotos já tinham feito o impossível, chegaram onde ninguém esperava, mas eles queriam mais, eles teriam mais. Em uma das partidas mais emocionantes que tive a chance de presenciar, pude acompanhar cinco guerreiros enfrentando um time de Titãs que, além de saber jogar futebol muito bem, faziam faltas como poucos. Prevaleceu o desejo e a vontade do Time de Comunicação.

Depois de uma expulsão para cada lado e um jogo arrasador que terminou em 6x6, a vaga para final seria disputada na cobrança de pênaltis. Não ter perdido a partida e ter conseguido reunir uma força de outro mundo para suportar a maratona de jogos, sem ao menos um reserva, já seria motivo para comemorar. Mas nas cobranças das penalidades, o impossível virou possível, os até então acostumados a ser goleados e motivo de piada dentro do campus, estavam na final, deu Comunicação! 2x1 nos pênaltis.

Para alguns esses fatos não vão fazer a menor importância, mas para quem acompanhou a saga daqueles cinco guerreiros e viu a vontade no rosto de cada um deles, aqueles momentos ficarão eternizados por um longo período na memória. Enquanto os Ronaldos e Kakás da vida real ganham milhões e têm todas as condições do mundo para praticar o futebol e, mesmo assim, constantemente decepcionam. Edésio, Erivaldo, Hugo, Ivan e Mário mostraram que o esporte, tanto de alto ou baixo nível, é feito da vontade de quem pratica, é vencido com o coração. Parabéns, guerreiros!

por Emerson Rocha