Pesquisas investigam benefícios do vinho à saúde

. 20 julho 2010

A expansão da fruticultura irrigada e o aprimoramento das técnicas enológicas tornaram o vale do São Francisco o único local do mundo a produzir vinhos em condições semiáridas. Como o resultado, cresceram os investimentos em pesquisa que buscam comprovar as potencialidades e a qualidade dos vinhos tropicais brasileiros para o consumo humano, inclusive com benefícios à saúde.

O Laboratório de Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) tem se destacado na realização de pesquisas para caracterizar a composição fenólica dos vinhos tropicais, como os compostos orgânicos responsáveis pela cor, estrutura gustativa e aromática. Dentre estes compostos, destacam-se os polifenóis, que são substâncias colorantes do vinho localizadas em maior concentração nas células da película da uva.

Para a pesquisadora da Universidade Rural de Pernambuco Luciana Lima, os vinhos brasileiros e os da rota do São Francisco são superiores aos de outras áreas do mundo. “Os nossos vinhos em relação aos originários de clima temperado tanto do Brasil quanto da Europa apresentam concentrações mais elevadas dos compostos fenólicos, o que garante uma atividade biológica maior”, explica Luciana, que participou do II Simpósio Internacional de vinhos tropicais (International Symposium of Tropical Wines), promovido pela Embrapa Semi-árido e Embrapa Uva e Vinho no final de maio, em Petrolina-PE.

Diante dos bons resultados, a pesquisadora, em conjunto com especialistas do Laboratório de Nutrição da UFPE, pretende avaliar se a quantidade de compostos fenólicos dos vinhos do São Francisco é adequada para o metabolismo humano e se pode resultar em benefícios para o organismo.

Este interesse científico é devido aos polifenóis presentes nas uvas e também no vinho, que garantem benefícios à saúde humana. Os vinhos tintos são os mais ricos em polifenóis, pois utilizam as cascas e sementes na fermentação. Pesquisas médicas revelam que o Resveratrol, um tipo de polifenol encontrado tanto no vinho como na uva, tem ação anti-inflamatória, anticancerígena e antioxidante, além de agir na diminuição dos níveis de açúcar do sangue. Ele combate as enfermidades cardiovasculares e colesterol, tem comprovada a ação bactericida e antiviral, estimula o apetite, facilita a digestão e retarda o envelhecimento celular e orgânico, como afirma o médico cardiologista, Jairo Monson de Souza Filho.

Com isso, recomenda-se a ingestão de doses diárias de vinho junto com as refeições como forma de reduzir estes problemas de saúde. O cardiologista alerta, contudo, que o consumo de vinho deve ser regular e considerar padrões individuais. “A quantidade de vinho para ingestão nos homens é de até 300 ml e 200 ml para mulheres, porém a dose segura é bastante individual, depende de muitos fatores, não só o sexo, mas a idade e o peso”, explica o médico Jairo Monson.

Embora a ingestão regular do vinho possa ser útil à saúde, “o vinho não pode ser considerado um medicamento, mas como alimento, por ser prazeroso e agregar qualidade de vida”, conclui Monson.

Na Assembléia Legislativa do Rio grande do Sul, tramita projeto de lei que pretende regulamentar o vinho como alimento, em vez de bebida alcoólica, o que pode reduzir pela metade o imposto pago pela indústria vinícola. Contudo, a reforma tributária preocupa os especialistas de saúde, pois temem que a nova legislação incentive o alcoolismo. Eles defendem que, caso seja aprovado, o governo federal deve estabelecer restrições de compra e consumo, a fim de prevenir que a classificação “alimento” não favoreça o consumo excessivo nem traga danos à saúde.


Por Juliane Peixinho
Foto Divulgação Embrapa
Matéria publicada com exclusividade no jornal Gazzeta do São Francisco, edição de sábado (17/07).

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