Como era bom ir assistir aos jogos no Estádio Octávio Mangabeira, ou, simplesmente, Fonte Nova. Era bom chegar no ponto do Dique do Tororó e vê aquele mundo de gente vindo de todos os bairros da cidades para acompanhar mais um dia de futebol. Como era bom vim da Cidade Baixa e, perto da Ladeira da Fonte das Pedras, começar a gritar dentro do ônibus, com os demais companheiros de arquibancada, “na escadinha, motô, pára na escadinha!” Era muito bom!
E o que dizer das intermináveis filas para comprar o ingresso, sem falar do assédio constante dos cambistas, vendendo as entradas duas vezes mais caro? Até isso vai deixar saudades. Era legal chegar na Fonte e ser recebido com o cheiro do tradicional churrasquinho de gato que se espalhava por todas as imediações do estádio. Antes do início do jogo, a maioria dos torcedores preferia ficar do lado de fora, tomando sua cervejinha e cantando as músicas de incentivo ao seu clube de coração, era a maior festa. Dentro do estádio, outro carnaval.
Era bom entrar pelo portão do Dique e ver, do lado esquerdo, as torcidas Povão e Fiel, com seus personagens míticos que faziam daquelas arquibancadas parte da sua casa. No anel superior do lado direito, era a torcida Bamor quem comandava a festa. Como era bom assistir àquele espetáculo em vermelho, azul e branco.
A Fonte Nova era tão encantadora que até os jogadores dos times visitantes faziam questão de, antes do jogo, tirar uma foto para guardar como recordação e, mais tarde, poder dizer aos filhos que já jogaram no maior e mais importante estádio de futebol do Norte/Nordeste. Aquele estádio tinha o poder de seduzir baianos e turistas, todos se sentiam à vontade ali dentro. Na Fonte Nova mais de 110 mil pessoas viram o Bahia derrotar o Fluminense do Rio de Janeiro e ir para final do Campeonato Brasileiro de 1988 contra o Internacional de Porto Alegre e, mais tarde, ser campeão nacional.
Mas, o bom da fonte nova eram os dias de BA-VI. O maior clássico do Norte/Nordeste ficava ainda mais bonito e emocionante ali dentro. Tricolores e Rubro negros, por diversas vezes, sorriram e choraram muito após o apito final do juiz. Os torcedores do Bahia até hoje vibram com o título baiano de 1994, com um gol aos 45 do segundo tempo, de Raudinei. E o que dizer do último clássico disputado no estádio? 6x5 para o Vitória! Só mesmo a Fonte Nova para proporcionar jogos como esses.
Que saudade! O último domingo marcou o fim de 59 anos de história desse templo do futebol. Nesse dia, o estádio, fechado desde 25 de novembro de 2007 após a tragédia que matou sete pessoas, foi totalmente implodido, no local será construída uma nova arena multiuso para a Copa do Mundo de 2014. Mesmo com um novo estádio essas e outras histórias ficarão sem um abrigo, repousando apenas na memória dos que tiveram a sorte de passar um domingo de futebol na fonte do povo.
Por Emerson Rocha