“Petrolina, a cidade moderna”

. 19 outubro 2010

De uma simples “Passagem de Juazeiro”, Petrolina juntamente com Juazeiro é hoje a maior exportadora de frutas do Brasil. A uva de mesa e a manga se destacam entre a comercialização irrigada com participação de 95% da exportação brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do ano de 2006. Para conhecer um pouco da cidade, que completou 115 anos no mês de setembro, MultiCiência entrevistou o memorialista Euvaldo de Figueiredo Aragão.

Nato de Petrolina, Euvaldo Aragão é Engenheiro Agrônomo, professor, mas é na trajetória de memorialista que as lembranças históricas da cidade soam mais alto.

Com 76 anos, Euvaldo recorda a herança da cultura popular, da arquitetura, a pujança econômica e aborda aspectos da história da cidade pernambucana. Para ele, Petrolina é uma cidade moderna que, apesar do progresso, ainda é notória a presença de alguns sítios históricos construídos no século XIX e XX, como os prédios da Catedral, da Estação Ferroviária Petrolina- Teresina, da Sociedade 21 de Setembro e do Colégio Dom Bosco. Mas ressalta: é um pecado a não valorização da cultura pernambucana na cidade.

Multiciência- Petrolina tem valores culturais históricos que se sobressaíam antigamente e estão um pouco esquecidos. Por que hoje sua população não valoriza costumes como o Maracatu e o Frevo?
Euvaldo- Isso é um pecado da cidade! Os serviços militar e de água, os Correios tudo era sede em Juazeiro, então, o linguajar do petrolinense ficou misturado ao baiano. Petrolina permaneceu muito tempo ligado a Bahia e suas culturas. Com isso, as tradições pernambucanas estavam um pouco contidas. Mas, agora a cultura começa a ser divulgada pela mídia como a televisão e já se nota apresentações de Maracatu. Com essa divulgação é impossível não falar da cultura pernambucana.

Multiciência- E as belíssimas arquiteturas com a destruição do patrimônio histórico, a não preservação da memória da cidade, como o senhor analisa?
Euvaldo- O sítio histórico é pequeno em relação ao tamanho da cidade de Petrolina, porque boa parte da população ficava restrita até 1960 a existência de alguns patrimônios como a Matriz, que é a primeira sede da igreja, a Catedral, o Colégio Dom Bosco e outras entidades. Existem ainda o ciclo histórico de Petrolina, a Sociedade 21 de Setembro, a Catedral, a Estação Ferroviária Petrolina-Teresina, prédio dos Correios, o Colégio Auxiliadora, ou seja, é uma cidade como mencionei anteriormente moderna que cresceu e não ficou parada no tempo, ainda se encontra um patrimônio histórico ou outro. Quando a cidade cresce muito, não consegue preservar suas arquiteturas. Alguns prédios foram destruídos, onde hoje é o Edifício João Paulo II destruiu-se a casa que pertencia ao coronel José Rabelo Padilha, na qual se realizou o primeiro encontro para fundar a cidade. Estão reformando o prédio de seu Dominga, que foi de Otacílio Nunes, que serviu ao primeiro Bispo. Foi destruída a praça da Bandeira, onde hoje é a do Centenário, e que é muito mais bonita, a qual tinha um Obelisco todo reforçado. Isso não poderia ter acontecido: desmanchar o mais resistente para fazer o pior.

Multiciência- Qual a contribuição dos meios de comunicação em relação ao desenvolvimento da cidade de Petrolina?
Euvaldo- A comunicação no desenvolvimento de Petrolina é primordial, conscientizando pessoas a colaborarem no progresso, diferentemente de outras cidades, como foi com a aquisição de rádio, que passou a ser uma espécie de entusiasmo e envolvimento popular.


Multiciência- Qual a importância da Família Coelho para o desenvolvimento de Petrolina?
Euvaldo- Nos anos de 30 e 45, o Brasil vivia a Ditadura Militar, depois de 45, Nilo Coelho foi o primeiro a se candidatar, chegando a Deputado Estadual e Federal. A Família Coelho, apesar das suas diferenças e interesses pessoais, colocava Petrolina acima disso. Eles trouxeram modernizações, fizeram um trabalho avançado trazendo a Faculdade de Formação de Professores, hoje (Universidade de Pernambuco, campus Petrolina) e isso entusiasmava os moradores da cidade, até quem não era petrolinense começou a se animar e colaborar para construção da cidade.

Multiciência- O senhor ajudou na elaboração do livro fotográfico Vale do São Francisco: Imagens e Histórias, como foi essa experiência?
Euvaldo- Eu fiz uma contribuição no livro, mas o meu trabalho mesmo nunca foi publicado, porque querem que eu escreva para vender e eu sei que não vende. Eu queria que alguém patrocinasse, me pagava e distribuía de graça. Tudo o que quiserem saber da Câmara, todos os vereadores que entraram desde o período de conselheiro até 2010, a história dos artistas petrolinenses, dos militaristas, a história da Catedral, das ruas, de assuntos ligados à Petrolina que ninguém nunca se interessou. Sobre isso tudo eu sei falar, mas sei que isso não vende.

Multiciência- O senhor tem algum projeto para homenagear a cidade de Petrolina?
Euvaldo- Na verdade, já fiz sugestões. Para quem não sabe esta parte próxima a Catedral, Concha Acústica até a Praça Dom Malan tinha dezesseis estacionamentos dividindo as duas partes, aí eu sugeri a Dr. Fernando Coelho que emendasse e abrisse lateralmente. Fiz outra sugestão que foi a construção de um balneário na Orla II, não se gastava nada, você poderia andar 100 metros na água e é muito raso, mas as pessoas não deram a menor importância, talvez acharam que não era necessário. A minha contribuição é falar de pessoas importantes, as quais muitas vezes são esquecidas pela população como Nelzito Santos, irmão da professora Lalá, professor de inglês nos Estados Unidos, participou da ONU e hoje se encontra aposentado em Salvador. Eu não sei que milagre estão falando em Geraldo Azevedo.

Multiciência- Qual a sua expectativa para a cidade de Petrolina em relação à evolução?
Euvaldo- Em Petrolina, temos bons colégios particulares, estaduais, faculdades que contribuem para a educação do cidadão e, para coroar, a chegada da Univasf com cursos na área da saúde, então isso é espetacular. Petrolina é do nordeste a única cidade do interior que tem como exportar. Dos 512 municípios do São Francisco, Petrolina está entre os 20 melhores, por ser um dos maiores produtores de uva de mesa e manga. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Recife é 0, 797, o de Petrolina é 0, 747, segundo dados do IBGE do ano de 2004. Cerca de 58% da cidade possui saneamento básico, uma coisa importante mas que ninguém fala nisso. Agora, enquanto crescem esses números, aumentam os problemas como a falta de atendimento nos hospitais da cidade, porque chegam, cada vez mais, pessoas na cidade de Petrolina.


Por Raianne Guimarães (texto) e fotos Arquivo da Jornalista Jackelina Kern. Entrevista publicada com exclusividade no Jornal Folha do São Francisco, edição do dia 14 de outubro de 2010