O “migué” de Giuseppe Sega

. 01 novembro 2010
Sabe aquele jogador de futebol catimbeiro, manhoso, que se encosta no adversário e provoca só para simular falta? Este era Giuseppe. Esperto, experiente, sabia a hora de dar um “ataque” simulado, engabelar o oponente e obter vantagem no confronto.

No currículo, dois campeonatos nacionais disputados, nenhum título, apesar de ter várias outras conquistas como torneios estaduais e municipais. Giuseppe sempre fora visto como apelão, chorão, dengoso. Seus próprios companheiros o achavam fominha, “delegado” (como se diz na Bahia). Fazia gols e comemorava sozinho; recebia passes debaixo das traves, marcava os tentos e se dizia o melhor do time, mesmo com os protestos dos colegas.

Um belo dia, na última partida de um certame nacional em que seu time saía atrás do placar, Giuseppe resolveu produzir um espetáculo para jogar a torcida contra o juiz e tirar algum lucro. Na linha de fundo do adversário, parou a bola, colocou o pé em cima da pelota e esperou a pancada. Ninguém encostou nele. Os adversários já sabiam a manha.

De repente, Giu (como era chamado entre amigos) recebeu uma bolada. O bolinha de papel o atingiu em cheio o “côco”. De imediato fez um carnaval. Caiu no gramado, esperneou, gritou, ficou rouco de gritar. O juiz nem deu atenção, saiu andando sem olhar para trás e ainda pensou em dar um cartão amarelo ao “cai, cai”. A torcida adversária vaiou-o sonoramente. Os simpatizantes do time de Giu não entenderam nada. O médico da equipe o acudiu e disse que Giu foi vítima de um atentado sem precedentes na história do futebol.

As redes de TV patrocinadoras do time de Giu repercutiram o fato. Insuflaram os torcedores do time e manifestaram seu apoio ao jogador exemplo de honestidade e desportividade. Durante dias e dias a “agressão” foi mostrada como fato lamentável no meio esportivo, algo que jamais poderia acontecer.

Ao final das contas, aliás, do campeonato, não teve jeito. O time de Giu perdeu de goleada e ainda teve de agüentar a gozação dos adversários. Giuseppe Sega aprendeu que: se “migué” ganhasse jogo, o gol seria mesmo um mero detalhe.

por Laércio Lucas